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Por
JB Uchôa
Jogos,
Trapaças e Dois Canos Fumegantes
Gateway City, mais
precisamente em um sobrado localizado no lado leste da cidade.
Um lugar que seria comum se lá não residissem a
Mulher-Maravilha, a Garota-Maravilha e a mãe desta, Helena
Sandsmark.
Diana, você viu no noticiário sobre os assassinatos
do cais? Pergunta Helena, enquanto retira a mesa do jantar.
Ouvi, sim. Tanto que vou fazer a ronda por lá hoje à
noite. Uma prostituta e dois traficantes foram assassinados ontem.
Por favor, Diana, não leve Cassandra! Não é
só por ela estar de castigo,* mas ainda acho muito perigoso
para ela. A Mulher-Maravilha ajuda Helena com os pratos, nem
percebendo que Cassie ouvira tudo da sala, onde fingia assistir
televisão.

Zona do Cais do
Porto, principal local de prostituição e tráfico
de drogas
Uma mulher vestida de negro, cabelos estilo channel, perfume
barato, roupas curtas e decotadíssimas, um cigarro na mão
esquerda. Jane Sontoya é capaz de qualquer coisa para pegar
um bandido, provar que faz seu trabalho melhor do que qualquer
super-herói que tenha poderes e braceletes de prata. Até
mesmo servir de isca, disfarçada como prostituta. Um carro
preto, vidros escuros, os faróis pintados de negro, repentinamente
se aproxima, arremetendo contra a policial.
"Merda, me descobriram!"
A capitã de polícia se vira, correndo cambaleante
por conta dos saltos plataforma, tentando alcançar um lugar
seguro antes do carro interceptá-la. Ao dobrar a esquina,
porém, bate de frente em uma prostituta que faz ponto no
local. O carro passa por elas e faz uma manobra na sua frente,
parando bruscamente. A janela se abre poucos centímetros,
deixando à mostra os dois canos de uma espingarda, que
atira. A Mulher-Maravilha desce rapidamente, desviando as balas
com os braceletes de prata forjados de lascas da indestrutível
Égide de Zeus. Um tanque de combustível explode
perto das três. A prostituta e a policial se escondem atrás
de um contêiner, procurando abrigo. Diana rasga o metal
com as mãos, procurando esvaziar o tanque, para não
piorar a catástrofe. O estranho carro negro dispara pelas
docas.
Eu conheço você! Diz a Mulher-Maravilha para
a prostituta que ajudou Sontoya, ao aproximar-se.
Você me salvou há tempos atrás, eu era refém(**).
Meu nome é Natania. Sei que não pude dizer antes,
mas obrigada.
Diana sorri, mas se sente constrangida pela garota ter continuado
na prostituição.
Acho melhor sairmos daqui, podem voltar com reforços.
Acho melhor voltar para o Departamento de Polícia, e
vocês duas vêm comigo prestar depoimento. fala a
capitã.
Um amigo mora aqui perto. Se você quer mesmo pegá-los,
Mulher-Maravilha, é melhor esperar diz a prostituta.
A capitã Sontoya fica aborrecida. Pensa que, se voltar
ao distrito e perder o assassino para um uniformizado, vai se
odiar pro resto da vida.
Um velho apartamento nas docas é onde mora Henry Saint,
o amigo de Natania. É um prédio que deveria estar
abandonado, de tintura azul e arquitetura muito antiga. Henry
sobrevive fazendo jogatinas, onde sempre dá um jeito de
trapacear, bebendo vodka barata e escutando punk rock no último
volume. Ele vive no porão, sem pagar aluguel, já
que faz as vezes de síndico e zelador. Ter a Mulher-Maravilha
em seu apartamento o faz esquecer da presença de uma capitã
de polícia vasculhando sua vida.
Putz! É mesmo a Mulher-Maravilha, Natania? Que louco!
E quem é essa outra?
Capitã Sontoya. Responde ela friamente, enquanto abre
uma gaveta.
Puta merda! Como você traz ela logo pra cá?
Ei dona, tira a mão daí! Você tem um mandado?
Calma, Henry, Jane está aqui para ajudar. Você
sabe algo das mortes de ontem? Pergunta Diana, com a mão
no ombro do rapaz, tentando acalmá-lo.

De volta à
residência de Helena Sandsmark...
Boa noite, mãe, vou dormir Cassandra abre só
um pouco a porta do escritório da mãe.
Boa noite, filha Helena faz um gesto para que entre e beija
a heroína na testa.
O que você está fazendo?
Separando uns currículos de estagiários, apesar
de o clima não estar legal depois da morte de Ed.
Imagino... Cassie beija a mãe de volta e sai da sala.
Ufa! Ela não desconfiou de nada! Cassandra Sandsmark
tira o roupão e as pantufas, que escondem seu uniforme
de Garota-Maravilha, e calça seus tênis. Ela olha
para a peruca preta, jogada num canto do seu quarto. Acho que
você se aposentou de vez, companheira diz a jovem, colocando
a peruca na cabeça do seu urso de pelúcia antes
de voar através da janela.

Cais do porto,
espelunca de Henry
... E isso é tudo o que eu sei. Dizem que Joe Bala
está metido com o tráfico, e que a gangue dele está
eliminando os traficantes concorrentes que agem aqui no cais e
qualquer outro que eles achem que pode estar trabalhando pra concorrência.
Como as prostitutas, por exemplo. Mas isso é o que falam
nas ruas. O fato é que está uma verdadeira guerra
aqui dentro. Henry termina a história ao mesmo tempo
em que vira o copo de vodka.
Joe Bala... já ouvi falar dele pondera Jane
Sontoya. Se o que diz é verdade, não sei
por que você ainda mora nesse lugar.
Aqui é meu canto. Meu cortiço. Meu lugar.
Meu cafofo... ou meu lar. Não vou meter o rabo entre as
pernas porque uns meganhas vão se pegar. A gente se esconde
debaixo da cama e reza pra Deus olhar pra nós ao menos
uma vez. Ou deusa. Com a Mulher-Maravilha aqui será mais
fácil! Diana está em pé e sorri.
KRA-KABOOM!
O prédio
desmorona. A Mulher-Maravilha estende os braços com as
mãos abertas, tentando segurar o teto.
Abaixem-se aos meus pés! grita Diana.
Poderoso Atlas, conceda-me força para salvar essas pessoas
comigo.
Que diabos foi isso? Estamos soterrados! grita Natania,
apavorada.
Só estamos salvos por causa da Mulher-Maravilha!
Estou escutando tiros lá fora. Apesar de as passagens estarem
bloqueadas, o som vem de algum lugar.
Muito perspicaz, capitã. Só que se eu soltar
uma das mãos para tentar abrir caminho, o teto desmorona.
E mesmo que vocês consigam sair sozinhos, como vão
passar pela saraivada de balas?
Isso quer dizer que estamos mortos? pergunta Henry,
já alarmado.
Ainda não, paspalho! Pense num jeito de sairmos
daqui! briga Sontoya com ele.
Dianaaaaaaaaa! Diana!
Essa voz... Cassie? por uma estreita abertura, Cassandra
faz sinal de que está tudo bem.
Estou protegida por umas latas de lixo. Mas tá complicado
aqui fora! Os tiras tão atirando nuns bandidos, mas os
caras têm até lança-foguetes! Um foguete desgovernado
bateu aqui e estourou! Quer que eu chame a Justiça Jovem?
Não há tempo! Garota-Maravilha, preste atenção...
quero que você venha até aqui e pegue meu laço.
Juntas, podemos dar um jeito de tirar as pessoas daqui e acabar
com o tiroteio.
Legal! Cassie começa a afastar o entulho,
mas o edifício está fragilizado demais. No momento
em que ela quase chega onde estão seus amigos, o resto
do prédio desaba. Em um movimento rápido, a Mulher-Maravilha
alça vôo, espalhando pedras para os lados e criando
uma abertura larga entre os escombros do apartamento de Henry
e o topo do prédio, esperando ter protegido Cassie e os
outros. Antes de verificar os companheiros, Diana voa em direção
aos traficantes. Com o laço mágico ela envolve dois
carros e os atira ao mar. Diana avista um amigo no meio do tiroteio:
o policial Mike Schorr.
Diana, cuidado! grita Mike. Um lança-mísseis
mira na princesa amazona, que atira uma pedra grande o bastante
para tapar o cano da arma, fazendo-a explodir quando o gatilho
é acionado.
Obrigada, Mike! Ajude o pessoal nos escombros! Mesmo
pedindo um favor, ela prende os criminosos com destreza. Mike
ajuda Cassie a retirar Jane Sontoya, Natania e Henry, que está
ferido. Meia hora depois os criminosos estão sendo presos
e as vítimas, atendidas por paramédicos.
Como está? pergunta Diana, preocupada.
Tô bem! Só não vou correr na maratona
de Nova York esse ano brinca Henry, dando tapinhas na perna
esquerda, muito ferida.
E você, Natania?
Só tive uns arranhões, nada sério.
Estou falando no geral. Não pensa em mudar de vida?
A garota emudece. Se quiser, um amigo virá
buscá-la. Ele a levará para um lugar seguro, onde
receberá orientação, cuidados médicos
e cursos profissionalizantes. A garota acena sim com a
cabeça e dá um abraço na Mulher-Maravilha.
Cassie também abraça Natania e diz que tudo ficará
bem.
Bem... Mulher-Maravilha... muito obrigada fala a
capitã Sontoya, estendendo a mão direita para um
cumprimento enquanto uma faixa é colocada em sua cabeça.
Disponha, capitã responde Diana, cumprimentando-a
de volta.
Batida forte na cabeça, Jane? brinca Mike,
enquanto a Mulher-Maravilha acena, levantando vôo junto
com Cassie.
Diana, posso pedir um favor? Um favorzão? Dos grandes
mesmo? pergunta a Garota-Maravilha.
Claro!
Não conta pra minha mãe! Ela vai me matar
se souber! A Mulher-Maravilha apenas sorri para a jovem.
Com certeza Helena deve estar assistindo o noticiário.
Prometo que ela não vai castigá-la, Cassandra.
Já tá de bom tamanho!

Epílogo
Boston. A cidade que apresentou a Mulher-Maravilha para o mundo.
Uma bela casa no subúrbio ainda mantém a luz acesa
na madrugada. Julia Kapatelis lê a carta de sua filha Vanessa,
que recebera à tarde.
"Mamãe, estou bem! O acampamento tem sido um sucesso!
Resolvi ficar trabalhando aqui antes de começarem as aulas
na faculdade, em dois meses estarei de férias. Continuarei
escrevendo!
Beijos, Nessie"
Muito estranho... Vanessa estava ansiosa para ir a Gateway
encontrar Diana! Ah, Diana! Se ela estivesse aqui eu estaria mais
tranqüila! Sabe-se lá o que está acontecendo
nesse acampamento?
Washington, em um velho quartel general de testes
Como está nosso passarinho, soldado Nunes?
Em breve pronto para cantar, general! responde o
soldado, com os olhos nos monitores que catalogam dados e mostram
a imagem de uma mulher loira com asas.
:: Notas do autor
* Leia Justiça Jovem
** Releia Mulher-Maravilha # 01
Caros leitores, com o fim da Saga dos Deuses eu apresento uma
nova abordagem nas histórias da Mulher-Maravilha. Espero
que seja tão divertido lê-las quanto está
sendo para mim escrevê-las. Ah, não posso esquecer:
Kitty, não me mate! É uma homenagem!
Nota do editor DC: Mate ele sim, Kitty! Faça um favor para
a humanidade! :-)
Nota do editor-chefe: Voto com o relator.
Nota do webmaster: Assino embaixo.
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