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Mulher-Maravilha # 15

Por JB Uchôa

A Feiticeira, a Amazona e a Assassina

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— Ilumine, ó lua, com seu brilho escarlate! Jogue seus raios sobre os seus escolhidos, seus amaldiçoados, suas criaturas das trevas! Fortaleça-os, afie suas garras! Deixe-os famintos e sedentos! Que eles se saciem de carne, sangue e corpos humanos! Que nossa vingança seja escarlate como a lua incandescente!! — ao proferir o encanto, Circe gargalha. A pele de Barbara Minerva se contorce, dando lugar à Mulher-Leopardo — Eu falei, "doutora", que essa planta idiota não seria mais necessária.

— O poder da Urzkartaga é que me garante independência. Não sou idiota de me fortalecer apenas como um bestiamorfo. Se assim fosse, eu seria apenas uma vassala sua. — a Mulher-Leopardo sai do recinto, e resta a Circe apenas sorrir levemente e sorver uma taça de vinho.

Ilha de Aeaea, a eterna fortaleza de Circe. Aqui, no castelo erguido em rochedos tão velhos quanto o próprio tempo, a feiticeira repousa para recuperar suas forças. Nenhum ser, divino ou humano, coloca os pés no solo maculado pela existência da maior das feiticeiras. Circe, filha de Hipérion e Perseis, ex-princesa de Colchis, a favorita de Hecate e sua executora. O ódio que a feiticeira nutre pelas amazonas só não é mais antigo que a própria ampulheta de Cronos. Estrondos soam no horizonte rubro, anunciando uma tempestade. Com imensa velocidade, quase rompendo as barreiras do som, encontra-se a princesa de Themiscyra.

Diana range os dentes e cerra os olhos. Não faz oração alguma, nenhuma prece, nem mesmo para aquela que lhe inspirou o nome, Diana Trevor. A Mulher-Maravilha é somente raiva e mágoa. Desespero, ira, sede de justiça, balançando em suas armas o laço de Gaia e a espada forjada no sangue das amazonas. Empunhada somente por Hipólita, a espada já resistiu ao ataque de Herácles, Ares e diversas monstruosidades que Hipólita enfrentou ao defender a Ilha Paraíso e o mundo do patriarcado.

Ilha Paraíso, lar das amazonas.

Sentada em seu trono, vislumbrando o horizonte irrequieto, que teima em anunciar chuva, está Hipólita.

— Majestade?

— Sim, Phillipus. — responde brandamente a rainha, segurando o cetro.

— Ártemis quer lhe falar. Pede para que reabra os portos, dê permissão às outras amazonas para o comércio.

— Não existem "outras" amazonas, Phillipus. Somos todas amazonas. Ártemis é herdeira de minha irmã, Antíopa. E merece estar aqui tanto quanto nós. Libere os portos, mas insista em uma coordenação para monitorar as atividades, para que a pureza da ilha não seja... — Hipólita não termina a frase, pois ouve um estrondo — Pelos deuses! O que é isso???

— Vem do outro lado da ilha, majestade! São elas! Ártemis está construindo uma cidade, existem máquinas e armas, recém-chegadas de um porto! — esbraveja Mellanie, adentrando o palácio.

— Phillipus, prepare meu cavalo. Helena, Mala, Penélope e você irão comigo a Bana-Mighdall.

Aeaea.

— Ah, a amazona chegou!

— Está na hora da matança! — grita a Mulher-Leopardo.

— Onde está a Cisne de Prata? — antes que Circe descubra a razão da falta da aliada, a Mulher-Maravilha arromba o portão principal com um chute. Sua pele está arranhada e suja de sangue. Alguns bestiamorfos, metade homens, metade animais, estão mortos pelo caminho. A espada reluz com o brilho da lua.

— Circe, entregue-me Vanessa, ou será a sua vez! — esbraveja Diana, com o olhar cheio de fúria.

Gateway City, residência de Helena Sandsmark. Duas horas atrás.

— Não posso dizer que a influência de Diana no comportamento de Vanessa foi prejudicial, Helena. Eu estaria sendo muito injusta. Vanessa teve em Diana um modelo de mulher bem-sucedida, se tornou uma aluna mais aplicada. Nunca me deu trabalho, nunca usou drogas, nunca bebeu e nos relacionamentos que teve, nenhum foi impulsivo como paixões adolescentes.

— Senti que existe um porém... não é, Júlia? — pergunta uma Helena Sandsmark transtornada com os acontecimentos recentes.

— Sim, existe. E existe um porém bem grande. Se Vanessa sempre teve Diana como modelo perfeito de mulher bem-sucedida, é natural que tenha achado que só se tornaria uma mulher de verdade se tivesse superpoderes. Circe não ludibriou minha filha. Vanessa tinha o desejo, almejava poder... Circe só se aproveitou disso. — Júlia Kapatelis interrompe um pouco o pensamento — Mas não sei dizer se toda essa destruição é realmente manipulada por Circe, ou se minha filha realmente retinha toda essa raiva e mágoa dentro dela. — a professora Kapatelis chora timidamente.

— Talvez você tenha razão. Talvez eu deva aposentar a Garota-Maravilha, retirar permanentemente os poderes de Cassandra. — Cassie escuta toda a conversa das duas e fica pálida. Ela abriria mão de voar, da Justiça Jovem... do Superboy! Ela não seria a herdeira de Diana! Ela nunca poderia ser a Mulher-Maravilha! E, para ela, apenas esse pensamento já é angustiante...

Na ilha de Aeaea, os poderes de Circe são maiores. A feiticeira trava uma batalha contra a Mulher-Maravilha praticamente sem se utilizar de magia. Diana está em desvantagem. Como se não bastasse lutar com uma oponente poderosíssima, ela ainda tem que se ocupar com outra inimiga bastante forte: a Mulher-Leopardo. Por mais que usufrua da velocidade de Hermes para fugir dos ataques, não é suficiente. As garras da doutora Minerva rasgam suas costas. Diana pensa que talvez tenha sido imprudente vir à base de Circe sozinha. Sem planos. Sem uma diretriz a seguir.

— Não cansou ainda? — gargalha Circe, enquanto interrompe um ataque de Diana — Essa luta está enfadonha.

— Por Gaia, Circe! Onde está Vanessa Kapatelis?

— Não seja estúpida, amazona! Vanessa Kapatelis não existe mais, agora só há espaço para a Cisne de Prata! — grita a Mulher-Leopardo, avançando sobre a Mulher-Maravilha, que se esquiva com dificuldade.

Gesticulando e conjurando forças esquecidas, Circe lança uma rajada de energia contra Diana, e nem mesmo os braceletes conseguem protegê-la de tamanha força. O impacto do corpo inerte da Mulher-Maravilha faz com que Circe e a Mulher-Leopardo gritem de felicidade.

— Deixe-me matá-la. — sorri a Mulher-Leopardo, com as garras no pescoço de Diana.

— Não. A amazona já retornou da morte mais de uma vez. Malditos sejam os deuses do Olimpo! Mas existe uma maneira de liquidá-la para sempre. — conclui Circe — Amarre-a, Minerva! É chegada a hora de retornar ao pó!

Nas masmorras do castelo, onde são guardados velhos livros e artefatos antigos, Circe e a Mulher-Leopardo prendem Diana em um fosso repleto de barro úmido.

— A panacéia da regressão. Já tentei usar uma vez, mas a vaca Júlia Kapatelis conseguiu me impedir na hora exata. (*) Agora, o momento é propício. Transformarei o corpo da Mulher-Maravilha novamente em barro, que irá se misturar ao barro ao qual está acorrentada, e nem mesmo o poderoso Zeus conseguirá reunir as moléculas que um dia foram a amazona.

— Jogue logo o maldito líquido no barro, Circe.

— Eu quero que ela acorde. Eu quero que Diana veja sua algoz. Só lamento que a desprezível Hipólita não possa presenciar esse momento. — ao terminar de falar, Circe nota que Diana abre os olhos — Que bom que acordou, amazona! É chegada a hora! Súbito, as portas da masmorra são arrombadas e lançadas violentamente à frente, atingindo a Mulher-Leopardo, que cai inconsciente no fosso.

— Diana!!!

— Cassie?? Fuja!! — grita Diana do fosso, enquanto prende a cabeça da Mulher-Leopardo com as pernas e a afunda no barro.

— Tola! Estúpida! Será que vocês são completamente idiotas? — Circe dispara uma rajda mística contra Cassandra, que se defende com os braceletes. No mesmo instante, ela joga o frasco com o feitiço da Panacéia da Regressão no fosso. Ao gargalhar com a vitória obtida, Circe não nota que a Mulher-Maravilha está planando às suas costas, com o frasco na mão — Co-como??

— Usei as garras de Bárbara Minerva para me libertar. E vou perguntar novamente e pela última vez, Feiticeira! Onde está Vanessa?

— Fazendo um serviço pra mim! Talvez deitando-se com meus bestiamorfos! Saciando a vontade dos homens! Eu não sei onde aquela vaca se encontra! Ela deveria ter voltado horas atrás! — grita uma histérica Circe, olhando com fúria para a amazona.

— Então, Circe, ainda há esperança! — Diana esmurra o rosto da vilã, que cai inerte — Doutora Minerva, também reside esperança pra você, aproveite o presente. — Diana joga o frasco no fosso. Em meios aos urros da Mulher-Leopardo, a Mulher-Maravilha sabe que ela regressará até a forma humana. Livre da Urzkartaga, livre da influência de Circe, e também livre da paralisia — Vamos, Cassie.

Voando de volta pra casa, ainda machucada da luta contra as inimigas, Diana e Cassandra conversam.

— Como chegou até aqui?

— Eu li os arquivos de Circe que temos na Justiça Jovem, Diana. Era arriscado, mas tinha certeza que você procuraria por ela aqui.

— Você se arriscou muito... — Cassandra fica triste com a declaração da Mulher-Maravilha — Mas sem você eu estaria morta. — Diana sorri.

— Quer dizer que você está feliz? — pergunta Cassie.

— Estou. Fico triste por Vanessa, mas sim, posso dizer que estou feliz.

— Ótimo! Não vai contar pra minha mãe que fui eu que te salvei, viu?

— Cassandra! Você fugiu de novo?

— Hãã... — Cassandra ruboriza e tenta mudar de assunto — Onde você acha que a Cisne... digo, Vanessa, está?

— Vamos ter que procurar, parceira.

— Vamos? — os olhos e sorriso de Cassie se abrem de felicidade — Nós vamos encontrá-la, Diana, nós vamos!

— Eu sei. Também acredito nisso.

Ilha Paraíso, na parte inóspita do território. Dentro de um prédio em construção.

— Atenção! Curvem-se em submissão honrosa perante Hipólita, rainha das amazonas! — esbraveja Mala, quando Hipólita entra, seguida de Phillipus e Helena.

— Humpf! Como se houvesse algo de honroso em submissão. — Ártemis salta do alto de um andaime. Nenhuma amazona se curva.

— Ártemis. Pode me esclarecer... sobre essas máquinas? — pergunta Hipólita.

— Claro, "majestade". — rebate Ártemis, sarcasticamente — Você nos deu a parte menos fértil da ilha. Nos relegaram aqui, o lar que batizamos de Bana-Mighdall. Aqui temos autonomia, Hipólita. Estamos respeitando a arquitetura da Ilha Paraíso, como pode ver. Nos deixe em paz, é o que peço. Nosso intercâmbio com o mundo exterior não irá macular seu precioso "paraíso"!

— Hummm... Ártemis, creio que tenho algo a lhe oferecer. — as demais amazonas olham com espanto quando Hipólita toca no ombro de sua líder e sorri.


:: Notas do Autor

(*) Na revista DC 2000 #04, publicada pela editora Abril em abril de 1990. voltar ao texto



 
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