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Starman # 02

Por Matheus Pacheco

Pretérito Imperfeito
Parte II

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Boteco do Moe - 23:15

— O que houve, cara?

— Ih, bicho! Nem vale a pena ficar nessas. Vamos deixar pra lá, certo?

— Nem vem que não tem, Arty! Amigo meu não entra em encrenca sem que eu pelo menos tente ajudar.

— Tá bom, herói, mas hoje você tem coisa melhor pra fazer.

— Ah é? E o que é?

— Olha pra trás, mané!

Jack nunca imaginara a cena que veria ao olhar para trás. Afinal, não era sempre que uma das modelos mais bem pagas do mundo vinha a um boteco de nona categoria para falar com ele. Aliás, isto nunca acontecia, a não ser em seus mais loucos devaneios oníricos.

— Olá, Jack! Nós nunca havíamos nos visto antes, mas creio que não precisamos nos apresentar, né?

— A-apresentar?

Não, não havia necessidade de Jade (filha do Lanterna Verde original — Alan Scott, super-heroína, supermodelo e fotógrafa renomada) se apresentar para Jack. Tamanha beleza não necessitava de apresentação, necessitava mesmo é de uma salva de tiros de canhão, pensou Jack.

— Olha, Jack! Eu e o Tommy vamos dar uma voltinha por aí, certo? De repente a gente se vê depois na Comedia. Vamos lá, Tom!

— Hã, tá bom. Depois nos vemos. Eu acho...

— O que houve, Jack? Parece que você está nervoso em me ver. Estou atrapalhando ou incomodando?

— Atrapalhando? Incomodando? De jeito nenhum! Só que você há de convir comigo que não é normal ser procurado por uma das mulheres mais lindas deste mundo. A que devo a honra?

— Bom, são dois motivos principais. O primeiro é agradecer por você ter ajudado Solomon. Adorei a idéia de entregá-lo à guarda de seu pai.

— Bem, é que papai está acostumado a lidar com este tipo de aberraç... Aimeudeus! Me desculpe, por favor!

— Pela minha pele verde? Não se incomode, eu sei que você não fez por mal. Ted já me disse como você se sente a respeito de ser um dos mocinhos.

— Mocinhos? Bem, nunca tinha pensado desta maneira. É claro que é bom ajudar os outros, fazer coisas decentes. Mas eu me preocupo demais com o exemplo que vou passar para o povão. Eles tendem a se espelhar demais nos ídolos. E o ícone Starman quer eu queira, quer não, é bastante influente.

— Não nego isso, com certeza. Mas não se preocupe. As pessoas estão cada vez mais acostumadas às aberrações e seria muita arrogância nossa pensar que ainda temos tanta influência assim sobre a cabeça deles.

— É verdade, de repente é paranóia minha, mesmo. Bem, vamos deixar a masturbação mental pra depois. Josa, uma cerveja!!! Me diga: qual o outro motivo para você ter vindo me procurar?

— Bom, o fato é que consegui um bom emprego de fotógrafa aqui em Opal, no Chronicle e meu pai sugeriu que eu procurasse Ted para ver se ele me dava uma moradia temporária. Ted me disse que o observatório está cheio com Michael e Solomon e sugeriu que eu procurasse você para ver se dividiria o apartamento comigo. Tem como você me aceitar no sofá da sala?

— Sem a menor chance...

— Putz, me desculpe. Eu achei que não teria mal nenhum em perguntar.

— Me deixa terminar de falar, mulher! Você não vai ficar no sofá da sala, de maneira alguma. Você não conhece meu apartamento mesmo. Tem dois quartos e é só eu realocar algumas bugigangas e você pode ficar lá por quanto tempo quiser.

— Que maravilha! Oh, obrigada, Jack! Você não sabe o quanto me ajuda fazendo isto.

— Só tem um problema...

— Problema? Qual?

— Eu não sei seu nome. Jade, Jade, Jade. É só o que se lê, é só o que se ouve falar. Seria bom eu saber o nome da minha colega de apartamento.

— Ora, ora... Jennie... Jennie Lynn-Hayden, prazer.

— Hehehehe... Com prazer é mais caro.

— Humpf!

Boate La Comedia - 23:00 - bar do Inferno

— Você tem pó aí?

— Tenho, são vinte mangos.

— Mandaí! Tó a grana.

Boate La Comedia - meia-noite - escritório da gerência

— Nosso empreendimento é um sucesso, senhor Connor!

— Obrigado, Osvald. Garanto-lhe que muito lucro virá desta associação.

— Acho bom mesmo...

Boteco do Moe - 23:45

— E onde você vai dormir esta noite, Jade?

— Jennie, me chame de Jennie. Hoje estou no Plaza. E vou ficar lá até você me chamar.

— Amanhã. Minha loja está fechada mesmo, eu posso dar um tempo no ócio e fazer as mudanças necessárias pra você se acomodar. Se me der uma ajuda, amanhã a gente apronta tudo.

— Excelente! É só me ligar a hora que quiser.

— Okay, se prepare para acordar cedo... hehehehe

— Certo, então, que tal irmos andando?

— Maravilha, eu não estava a fim de ir pro Comedia hoje mesmo.

E ali vão os dois. No caminho conversam sobre tudo. Sobre a vida, sobre trabalho, sobre música, sobre heroísmo, sobre velhos amores e, no espaço de uma caminhada de meia hora, acabam espantando-se tamanha é a familiaridade que sentem um pelo outro. É como se fossem amigos há milênios.

Na frente do Opal Plaza, os dois despedem-se com um beijo no rosto e Jack a observa enquanto ela flutua (este é o termo) pelo saguão em direção aos elevadores. Quando ela desaparece de vista, Jack veste seu melhor sorriso e volta para casa cantando.

Start spreading the news! I am leaving today! I want to be a part of it, New York, New York!!!!

Boate La Comedia - 01:45 - banheiro do Purgatório

— Tom, dá um teco aí!

— Não, cara, eu não sou chegado, mas obrigado mesmo assim.

— Porra, tu é bunda mole mesmo, hein? Todo mundo cheira, qualé o problema?

— Não sou a fim, porra! Precisa cheirar pra ser um cara legal, então?

— É, precisa sim. Senão tu fica bundão.

— Então dá licença. Eu não acho que eu precise de nada mais do que a minha própria cabeça pra me divertir. Tou fora. Hasta la vista, baby.

— Já vai tarde.

Enquanto Tom sai praguejando, Arthur se vira para o sujeito não-muito-bem-encarado parado a seu lado e pede:

— Tem vinte paus pra emprestar aí? Eu troco por... Este relógio!

Hotel Opal Plaza - 9:30 - suíte 405

TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM
TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM
TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM

"Hummmm... Ahnnnnn.. Ahhhhhhh..."

TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM
TRIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIM

— A-Alô? Sou eu, Jennie. Hã? Sim, claro! Vou já. Onde é mesmo? Tá bom. Beijo.

Apartamento de Jack Knight - 10:00

Jack Knight está sentado em frente à televisão, tomando uma garrafa de cerveja, duvidando muito que Jade vá aparecer antes do meio dia.

"Merda... Garanto que vai ficar horas no banho, depois mais uma hora achando a roupa certa, e depois mais umas 2 horas pra fazer a mala. Humpf!"

Ele realmente não esperava por isso quando nota um vulto verde batendo na janela da sala, pedindo para entrar.

— Jennie! Incrível! A cada segundo você me surpreende mais!

— Surpreendo para melhor ou pior?

— Melhor, sempre melhor. Achei que você não apareceria tão cedo.

— Vocês, homens. Sempre cheios de estereótipos. Como vocês podem ser tão influenciáveis por estes tabus sociais?

— Ei! Não pense nada errado! Eu estou longe de ser um machista-chauvinista-racista-sexista. Eu só achei que você ia demorar. Achava que uma modelo tendia a passar horas procurando roupa ou tentando formar uma boa imagem.

— Você não me conhece mesmo... Por onde começamos?

Depois de horas de arrumação, tudo parece estar perfeito. O fato de Jade contar com os poderes de um Lanterna Verde, somados a um bom senso natural para organizar as coisas acaba por facilitar sobremaneira o serviço.

— Putz, obrigadão mesmo, Jennie! Eu tava precisando arrumar esta tralha toda mesmo. Depois que a loja foi pros ares, eu continuei comprando material e estocando aqui em casa. Só você mesmo pra conseguir dar um jeito nesta tralha toda.

— Com superpoder também é moleza, né, Jack?

— Mesmo assim, superpoder não traz a capacidade de organização que você tem. Eu nunca conseguiria.

— Até porque não é do feitio de um homem conseguir organizar qualquer coisa que seja.

— É... Deve ser. O que vamos almoçar?

— Eu estava pensando em descobrir do que seus dotes culinários são capazes.

— Bom, aqui em casa não tem muita coisa. Na verdade, a última vez que fiz um rancho de verdade foi há uns dois meses. Mas acho que dá pra abstrair algum alimento...

Depois de uma lauta refeição à base de pão, queijo, salame e cerveja, Jack e Jade gastam todo o resto de sua tarde falando sobre a vida e sobre seus poderes. Jack perde boas horas explicando o que houve nos últimos tempos e torna-se melancólico quando:

— Meu irmão. Eu nunca havia dito que gostava dele, que o admirava. Agora ele se foi. Estes dias ele me apareceu e eu disse tudo. Mas nada garante que não tenha sido só um sonho. Nada garante que ele realmente saiba disto.

— Eu sei mais ou menos o que você sente. Eu tenho uma relação pra lá de conturbada com o meu. Mas tudo passa, nem se preocupe. Tenha certeza que ele sabia, de um modo ou de outro, que você gostava e admirava e o queria bem.

— Sei lá. Mas é possível. Porque eu mesmo sempre soube que ele gostava de mim, porque ele não sentiria o mesmo, né?

— É isso aí! E vamos mudar de assunto que eu estou ficando meio triste.

E Jack olha para a mulher sentada no sofá à sua frente. E começa a descobrir que talvez esta história de morar com uma mulher tão espetacular não dê certo, afinal. Talvez dê mais certo do que ele pensa. Nunca se sabe.

"Mas será que ela não me vê como um cara qualquer? Um cara gente boa, educado, mas ainda assim um qualquer no meio de tanto cara rico e famoso e bonitão e cool que deve assediar ela?"

:: Notas do Autor



 
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