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Starman # 04

Por Matheus Pacheco

Pretérito Imperfeito
Parte IV

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Incoming Message from Oracle <0.0.0.0>…

> Olá Starman.
> nao sou quem você pensa…
> Bem, eu espero que seja. Ou chamo a polícia para prender quem está usando a linha telefônica da casa de Jack Knight.
> ops… maldita displicência. Você me pegou… sou um… amigo… dele
> Procurando evidências de tráfico de drogas no Comedia?
> Como vc sabe?
> Estou na mesma pista. Foi difícil, mas descobri quem está por trás disto tudo. E foi por acaso.
> Como assim? quem é?
> Oswald Cobblepot, o Pingüim. Descobri pela fixação em sistemas Linux. Mais uma ou duas evidências físicas e ficou tudo claro para mim.
> :) Ora bolas, eu nunca pensaria no Linux
> O que vocês pretendem fazer?
> Jack está a fim de ir atrás do dono do Comedia
> Sem problemas. O sócio dele já está com alguns problemas por aqui. Pedi para um amigo ir atrás dele.
> O morcego?
> Não. Alguém mais underground.
> Tudo bem… grato
> Sem problemas. Até mais.

You were disconnected from your host. Retry connection?

— O que foi isto, Tommy?

— Pelo visto uma amiga do Morcego me deu uma ajuda. Ela é lendária pela net, mas eu sempre achei que era balela, até agora. E como é eficiente!

— Bom, vamos deixar as admirações para depois. Agora devo me concentrar em pegar o tal Connor. Maldito, vai se arrepender do dia em que vendeu pó pro Arty.

— Porra, Jack. Lembre que o Arty cheirava ou injetava porque queria. Ninguém, muito menos o Connor, pegou o cara e forçou a cheirar. A gente conhecia bem a figura.

— A gente conhece, porra! Ele tá vivo. Em coma, mas vivo!

— É… Tem razão.

— Bom, eu vou lá falar com o cara. Quero ter certeza que ele nunca mais vai fazer isto com ninguém. Você vem, Jennie?

— Vou sim, Jack. Tenho que ter certeza de que você não fará nenhuma loucura.

— Tudo bem, mas nem tente me impedir de dar o que ele merece.

— Vai virar juiz, júri e executor?

— Se preciso…

Jack Knight não diz mais nada. Num piscar de olhos de Thomas Moore, Jack já está a metros de distância, voando rápido, louco de ódio. Jennie Lynn-Hayden, a Jade, o segue de perto. "Tomara que tudo dê certo", pensa Moore.

Mikaal Thomas começa a gritar termos ininteligíveis quando o homem que foi seu pai nas últimas semanas, o homem mais digno que já cruzou sua vista, cai desfalecido em seus braços.

James Robinson ouve os ininteligíveis e desesperados gritos e a cena que encontra não é nada animadora: um Ted desfalecido, encharcado em suor e um Mikaal convulsivo em desespero, proferindo preces em um dialeto há muito esquecido por toda a galáxia.

— Solomon! Solomon! — grita Jim, sem resposta, o que o faz questionar onde poderia estar o gigante branco. Ficaria para outra hora, pois tinha assuntos mais importantes a resolver.

Foi muito difícil arrastar Ted até o carro. Mais difícil ainda foi a decisão de deixar um Mikaal desesperado para trás, já que urgia que Ted fosse prontamente atendido.

— Celular.

INFORME NÚMERO

— Jack apartamento.

DISCANDO………

— Alô?

— Quem fala?

— Tom. O que você quer?

— Aqui é James Robinson. Jack está por aí?

— Não, foi resolver uns problemas do Starman, não deve voltar tão logo.

— Cáspite! Você sabe onde ele foi?

— Sei sim, mas não posso te dizer, cara…

— Então, pelo amor de Deus, dê um jeito de avisá-lo que seu pai está muito mal e indo pro hospital.

— Hospital? Puta que o pariu! Qual deles?

— Centro Coronário Barnaard. Estamos chegando. Adeus.

— Falou…

"Puta merda! Como é que eu vou avisar o Jack? Não sei dirigir e o Comedia fica a uns 5 quilômetros daqui."

Sem hesitar, Thomas começa uma corrida pela vida. Pela vida do pai de seu melhor amigo. Pela vida de seu herói de infância. Pela vida desta personalidade do lugar onde cresceu.

Ódio. É só o que passa na cabeça de Jack Knight enquanto ele voa em direção à boate conhecida como Comedia. Sua amiga e companheira de apartamento Jennie Lynn-Hayden, a Jade, o segue de perto pedindo calma a cada duas frases. O que não ajuda muito.

Jack nem cogita passar pela portaria ou ser anunciado. Voa direto à cobertura da luxuosa construção onde está instalada a danceteria e o prédio que abriga a ConInc, corporação ligada à exploração de pedras semi-preciosas.

Chegando à beira da janela, vê uma cena que tanto poderia ser classificada como excitante quanto como nojenta: duas garotas nuas beijam-se enquanto uma terceira acaricia (e este é um termo leve) Connor.

Jack olha para Jade, que devolve o olhar com nojo.

— Como vamos ent…

Jack não tem tempo de terminar a frase. Com o poder do pensamento de Jade, uma imensa bola de demolição faz uma entrada triunfal no recinto. "Definitivamente Kyle andou me influenciando mal", pensa a heroína.

Segundo a lei de Murphy, se alguma coisa tem um mínimo de chance de dar errado, dará. É só o que pensa Tom enquanto corre pela cidade em desabalada carreira. Sem ter percorrido nem três quadras (de umas cinqüenta no total) ele já tinha torcido o pé, esbarrado em uma velhinha e derrubado um policial, que o parou exigindo explicações. É sorte que os Knight são muito queridos na cidade, o que fez com que o policial, com uma ou duas tentativas, conseguisse carona para Tom. O que não adiantou muito, devido ao engarrafamento onipresente em Opal.

Novamente a popularidade de Ted é posta à prova na entrada do hospital, com sucesso. Basta uma rápida olhada no sujeito desfalecido trazido por um rapaz normalmente incapaz de segurar um saco de arroz de 5 quilos que todo o corpo médico do local se mobiliza. A emergência é fechada e a UTI fica lotada a ponto de não ser possível a permanência de enfermeiras, assistentes, residentes ou estudantes. Ficam apenas os mais gabaritados médico, dando tudo o que podem.

Tubos são conectados, agulhas inseridas, sangue coletado, choques dados. Dezenas de pessoas correm de um lado para o outro levando amostras, trazendo medicamentos, buscando livros, ligando para especialistas. Uma lenda está para morrer, se nada for feito rápido.

Buzinas tocam desesperadamente, pisca-alerta ligado, o policial O'Brien nunca mais esquecerá deste dia. Ele esteve presente no evento mais importante da história de Opal.

Tom, desesperado, não agüenta mais de ansiedade. A cinco quadras de seu objetivo salta do carro e recomeça a correr, mesmo com o tornozelo inchado, para avisar seu amigo.

Chegando à portaria da ConInc, não consegue convencer o segurança de que precisa demais subir à cobertura.

Desesperado, sai à rua e começa a berrar pelo nome do amigo. Mas como alcançar 75 andares?

Enquanto Jack ameaça a vida de Mark Connor, Jade começa a ouvir, ao longe, gritos desesperados. Mas não pode ver o que se passa, pois está mantendo um escudo de energia que afasta os seguranças da confusão.

— Jack, pode parar um pouco pra me escutar?

— Espera! Eu quero que este filho da puta ouça bem o que tenho a dizer antes que eu destrua tudo o que ele tem e quebre todos os ossos do corpo dele.

— Jack, pára um pouco e me escuta; tem alguém gritando lá embaixo. Na verdade, já devem ser umas cinco pessoas a esta altura.

— Gritando? O quê?

— Chamam por seu nome e falam em hospital.

— Puta merda, será que o Arty se deu mal? Segura o pessoal — e este filho de uma puta também — que eu já volto.

Jack Knight larga Connor e voa rapidamente em direção à pequena multidão que começa a se aglomerar defronte ao edifício.

— O que houve, pessoal?

— Pensamos que não iríamos te fazer nos ouvir, por isso convocamos todo mundo que passava pra gritar junto. — diz Tom. — Seu pai está mal, no Baarnard Center.

— No Baarnard? Cardiológico? O que houve?

— Não sei. Robinson ligou pra falar contigo, mas só achou a mim.

— Caralho!

Sem dizer mais nada, Jack parte em vôo desenfreado na direção da cobertura.


— Jade! Me segue!

— O quê?

Ao se virar, Jade já vê o amigo voando em alta velocidade em direção ao norte da cidade. Rapidamente liberta os seguranças e o empresário e parte atrás dele.

— Jack! Espere! O que houve?

Ele já está emparelhada com Jack, uma vez que alcança velocidades bem maiores.

— Meu pai. Está no Centro Cardiológico. Acabaram de me avisar.

— Ted? Mal?

Jade pega a mão de Jack e o puxa em velocidade ainda maior na direção do hospital. Chegando à frente, tudo está fechado. Jack, com uma descarga de energia, afasta a imprensa , que já começa a se aglomerar no local.

— Fora daqui, abutres!

Enquanto isso, Jade trata de explicar a situação aos seguranças e garantir a entrada dela e de seu amigo. Jack corre desesperadamente pelos corredores, seguindo as placas que indicam o centro cirúrgico. Ao chegar, vê uma multidão espremida na porta, observando.

— Saiam todos daí! Me deixem passar!

Como se fossem autômatos, todos liberam a passagem para Jack, que abre a porta.


— Certo, alguém sabe me dizer o que está havendo? — diz um senhor de calças de pijama e jaleco verde — Espero que tenham bom motivo para me tirar da cama na minha folga.

— É Ted Knight, senhor. Está assim já faz alguns minutos.

O homem olha para o paciente e toma um susto. Ted havia sido seu colega de aula nos tempos do ginásio. Sempre foi motivo de orgulho ter estudado com um homem tão digno, com um herói. Agora ali estava ele, desfalecido, tão pálido que chegava a estar cinzento, com nenhum movimento respiratório em quinze segundos de observação.

— Alguém já fez alguma coisa?

— ECG de urgência, senhor. Fibrilação ventricular. Enzimas já estão no laboratório.

— Enzimas, bah! Qual o tempo exato de evolução? Tragam já o desfibrilador!

— Uns trinta a quarenta minutos, senhor. Acabamos de entubá-lo. Aqui está, senhor.

— Oxigênio a 100%! 400 Joules! Saiam todos!

Enquanto gritos são ouvidos do lado de fora, todos se afastam. Ninguém consegue desgrudar os olhos do monitor cardíaco, que emite uma linha contínua. Por quinze vezes, a luz do prédio cai.

Quando Jack adentra a sala de cirurgia, o cenário é desolador.

Cerca de vinte homens, todos já de certa idade, formados e bem colocados, choram como crianças em volta de uma mesa, onde jaz o corpo desnudo de um homem, já grisalho, que acabara de morrer.

Jack corre para ver seu pai, enquanto todos o circundam como se estivessem silenciosamente transmitindo seu pesar.

Desde garoto John F. Knight brigava sistematicamente com seu pai. Quando sua mãe — e maior defensora — morreu, a relação entre os dois chegou mesmo a deixar de existir. Só recentemente os dois haviam começado a se tratar como homens que eram. Somente há alguns meses os dois haviam voltado a ser pai e filho.

Ver agora seu pai morto em uma fria mesa metálica, em um frio ambiente hospitalar, traz a Jack uma angústia imensa.

Sua maior vontade é morrer.
Sua maior vontade é trazer seu pai de volta.
Sua maior vontade é não ter nunca perdido tempo.
Sua maior vontade é ter dito ao pai que o amava enquanto este ainda era vivo.

Lágrimas borram sua visão. Ele olha em volta à procura de algo, de alguém, e lembra que seu irmão também se foi. Lembra de sua mãe, que também o deixou.

Em desespero, Jack Knight busca por alguém. Não pode agüentar aquilo tudo sozinho.

Um borrão verde chega ao seu lado. Uma mão toca seu ombro.

Jack se vira e, sem dizer palavra, abraça Jennie. E então, chora como uma criança. Como a criança que nunca fora.

:: Notas do Autor



 
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