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Por
Matheus Pacheco
Finais e (Re)Começos
Jennie chega em
casa e vê a mesma cena dos últimos 5 dias: Jack Knight
estirado no sofá, barba por fazer, olheiras, olhar parado
no infinito, televisão ligada em um canal qualquer, garrafas
de cerveja espalhadas por toda a sala, um cheiro forte de maconha
impregnado em tudo. Seu pai morreu e nada mais conta.
Jack, por favor, fale comigo!
...
Jennie começa a chorar. Quando foi morar com Jack, há
algumas semanas, ela não imaginava que estava para entrar
neste tormento. Não imaginava que poderia se apaixonar
por aquele cara jogado e por vezes inconveniente. Não imaginava
que poderia perder este sujeito para ele mesmo.
Não chora, Jennie. a voz de Jack sai rouca,
acabada, fraca.
Eu... eu não consigo.
Mas por quê? Por que você tá chorando?
Deus do céu, como você
é burro! Como é cego! Sem terminar
o pensamento, Jennie sai em direção ao seu quarto,
fecha a porta e liga o som.
Jack pode sentir o estado de espírito de uma pessoa pelo
som que ouve. Quando do quarto começam os acordes de Shine
on You Crazy Diamond, ele sabe que algo está errado.
Ele abre a porta.
Jen, posso entrar?
Não!
grita uma chorosa Jennie.
Jack entra mesmo assim, senta-se ao seu lado na cama enquanto
ela, soluçante, deita em seu colo pedindo um abraço.
Porque você tá assim, Jen?
O quanto um cara pode ser burro,
meu Deus? Você não consegue adivinhar?
Consigo, sim. Mas não quero, não tenho capacidade
de lidar com isso, contigo, agora. Minha cabeça tá
uma maçaroca, não sei se tenho capacidade de lidar
com tantas mudanças ao mesmo tempo, Jen.
Mas... o que você pretende
fazer?
Eu... eu não sei. Não sei o que fazer. Não
sei como fazer. Eu não sei de porra nenhuma. Eu... acho
que vou sair um pouco.
Agora? Vai espairecer?
Não, não deste jeito que você está
imaginando. Eu vou sumir por uns tempos. Tenho que repensar minha
vida, minhas atitudes. Tenho que descobrir o que eu quero da vida.
Tenho que sair.
Não faça isso, Jack.
Eu... eu te amo!
Jack olha fundo nos olhos de Jennie. Por algum tempo isso era
o que ele mais quisera ouvir e agora não pode retribuir.
Sim, ele a ama, mas não pode. Não agora. Lágrimas.
Não, Jen. Não me diga isso agora. Eu te amo
muito, descobri neste tempo com a gente juntos. Mas eu não
posso ter você, não agora. Não seria saudável,
não seria certo contigo. Eu estou um caco.
Eu não quero que você
vá, Jack. Eu preciso de você aqui, eu posso te ajudar
a passar por tudo isto. Fique!
Não posso, Jennie. Não posso mesmo. Eu volto
logo, mas agora eu não posso ficar.
Por quê? Eu não consigo
te entender!
Você nunca teve momentos em que precisou de introspecção
extrema? Nunca teve momentos em que precisou buscar um sentido
para tudo?
Estou aqui, justamente em um momento
destes...
Pois... Eu vou viajar. Vou cair na estrada. Preciso conhecer
o mundo, conhecer a vida e entender as coisas. Senão eu
morro, definho na minha própria ignorância.
Jennie chora abundantemente. Nunca imaginara que se apaixonaria
por alguém com tamanha velocidade. Nunca pensara que este
mundo ruiria tão facilmente.
Q... quando você vai?
Acabei de decidir. Vou já. Vou ontem. Vou daqui
a pouco, há algo a ser feito antes.
O quê?
Jack a olha profundamente nos olhos. Verdes como o mar, úmidos
por lágrimas. Lágrimas que caem por ele, por uma
decisão sua.
A gente não deveria ser capaz de fazer quem ama
chorar.
Jennie mantém-se calada, olhando fundo nos castanhos olhos
daquele que ama. Ela sabe que ele deve ir. Ela não sabe
se poderá esperar. Ele sabe.
Beijo. Risos. Beijo. Lágrimas. Beijo. Carícias.
Tudo o que se segue, se segue.
Pela manhã o mundo é cinza. Jack não consegue
ver as cores que viu ontem. Sente-se culpado por se permitir ter
seu momento mais feliz numa hora de tristeza absoluta.
Olha para Jennie estirada por baixo dos lençóis.
Chora. Beija sua testa, enquanto ela resmunga algo em seu sono.
Eummmmmmm ammmm Jackkk...
Chora mais.
Adeus, tchau, até logo. Vejo você daqui a
pouco, daqui a cinco minutos, daqui a vinte anos. Te amo.
Despedidas.
Finais, recomeços. A vida continua...
"Jennie,
Você pode não acreditar em mim, mas eu me apaixonei
por você no momento em que cruzou a minha frente. Quando
você se encostou no meu ombro, no bar, um arrepio me subiu
espinha acima. Ali eu soube que estava tendo o primeiro contato
físico com a mulher da minha vida. Não por você
ser tão bela quanto é, isto não vem ao caso.
Força, determinação, honestidade, carinho.
Sabe quando dizer algo desagradável, sabe quando dizer
as mais doces palavras. Perto de você, tudo ganha um colorido,
tudo é caleidoscópico, tudo é lisérgico.
Você é lisergia pura. Você é um arco-íris
no quarto ao lado.
Luz. Nunca sinto medo, nunca me sinto no escuro do teu lado.
Tudo o que eu poderia querer é dizer 'eu te amo' sem medo
de estar ultrapassando alguma fronteira idiota do bom senso. Tudo
o que eu queria é ouvir que você me ama. Pois chegou
o momento.
E o que eu faço? Fujo. Fujo para longe.
Acredite que esta fuga é somente física. Acredite
que esta fuga é de tudo menos de você, único
porto seguro na atualidade.
Eu vou voltar. Não sei quando, não sei como, em
que condições. Mas eu vou voltar.
Não espero que você me espere. Não acho que
seja legal eu te pedir para, nem imaginar que vá, esperar
por mim; por um maluco que largou o teu amor no início
para conhecer a si mesmo, a vida. Mas acredite, estou fazendo
isto por mim e por você também.
Peço apenas uma coisa. Cuide de Opal por mim, certo? Peço
a você que use seus dons para cobrir minhas falhas num serviço
que jurei fazer. E cuide para que o espólio de meu pai
não seja mal orientado por Tom e Jim.
EU
AMO
VOCÊ
Jack
Opal, 12 de dezembro de 2000."
:: Notas
do Autor
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