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Starman # 06

Por Matheus Pacheco

Finais e (Re)Começos

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Jennie chega em casa e vê a mesma cena dos últimos 5 dias: Jack Knight estirado no sofá, barba por fazer, olheiras, olhar parado no infinito, televisão ligada em um canal qualquer, garrafas de cerveja espalhadas por toda a sala, um cheiro forte de maconha impregnado em tudo. Seu pai morreu e nada mais conta.

— Jack, por favor, fale comigo!

— ...

Jennie começa a chorar. Quando foi morar com Jack, há algumas semanas, ela não imaginava que estava para entrar neste tormento. Não imaginava que poderia se apaixonar por aquele cara jogado e por vezes inconveniente. Não imaginava que poderia perder este sujeito para ele mesmo.

— Não chora, Jennie. — a voz de Jack sai rouca, acabada, fraca.

— Eu... eu não consigo.

— Mas por quê? Por que você tá chorando?

— Deus do céu, como você é burro! Como é cego! — Sem terminar o pensamento, Jennie sai em direção ao seu quarto, fecha a porta e liga o som.

Jack pode sentir o estado de espírito de uma pessoa pelo som que ouve. Quando do quarto começam os acordes de Shine on You Crazy Diamond, ele sabe que algo está errado. Ele abre a porta.

— Jen, posso entrar?

Não! grita uma chorosa Jennie.

Jack entra mesmo assim, senta-se ao seu lado na cama enquanto ela, soluçante, deita em seu colo pedindo um abraço.

— Porque você tá assim, Jen?

— O quanto um cara pode ser burro, meu Deus? Você não consegue adivinhar?

— Consigo, sim. Mas não quero, não tenho capacidade de lidar com isso, contigo, agora. Minha cabeça tá uma maçaroca, não sei se tenho capacidade de lidar com tantas mudanças ao mesmo tempo, Jen.

— Mas... o que você pretende fazer?

— Eu... eu não sei. Não sei o que fazer. Não sei como fazer. Eu não sei de porra nenhuma. Eu... acho que vou sair um pouco.

— Agora? Vai espairecer?

— Não, não deste jeito que você está imaginando. Eu vou sumir por uns tempos. Tenho que repensar minha vida, minhas atitudes. Tenho que descobrir o que eu quero da vida. Tenho que sair.

— Não faça isso, Jack. Eu... eu te amo!

Jack olha fundo nos olhos de Jennie. Por algum tempo isso era o que ele mais quisera ouvir e agora não pode retribuir. Sim, ele a ama, mas não pode. Não agora. Lágrimas.

— Não, Jen. Não me diga isso agora. Eu te amo muito, descobri neste tempo com a gente juntos. Mas eu não posso ter você, não agora. Não seria saudável, não seria certo contigo. Eu estou um caco.

— Eu não quero que você vá, Jack. Eu preciso de você aqui, eu posso te ajudar a passar por tudo isto. Fique!

— Não posso, Jennie. Não posso mesmo. Eu volto logo, mas agora eu não posso ficar.

— Por quê? Eu não consigo te entender!

— Você nunca teve momentos em que precisou de introspecção extrema? Nunca teve momentos em que precisou buscar um sentido para tudo?

— Estou aqui, justamente em um momento destes...

— Pois... Eu vou viajar. Vou cair na estrada. Preciso conhecer o mundo, conhecer a vida e entender as coisas. Senão eu morro, definho na minha própria ignorância.

Jennie chora abundantemente. Nunca imaginara que se apaixonaria por alguém com tamanha velocidade. Nunca pensara que este mundo ruiria tão facilmente.

— Q... quando você vai?

— Acabei de decidir. Vou já. Vou ontem. Vou daqui a pouco, há algo a ser feito antes.

— O quê?

Jack a olha profundamente nos olhos. Verdes como o mar, úmidos por lágrimas. Lágrimas que caem por ele, por uma decisão sua.

— A gente não deveria ser capaz de fazer quem ama chorar.

Jennie mantém-se calada, olhando fundo nos castanhos olhos daquele que ama. Ela sabe que ele deve ir. Ela não sabe se poderá esperar. Ele sabe.

Beijo. Risos. Beijo. Lágrimas. Beijo. Carícias. Tudo o que se segue, se segue.

Pela manhã o mundo é cinza. Jack não consegue ver as cores que viu ontem. Sente-se culpado por se permitir ter seu momento mais feliz numa hora de tristeza absoluta.

Olha para Jennie estirada por baixo dos lençóis. Chora. Beija sua testa, enquanto ela resmunga algo em seu sono.

— Eummmmmmm ammmm Jackkk...

Chora mais.

— Adeus, tchau, até logo. Vejo você daqui a pouco, daqui a cinco minutos, daqui a vinte anos. Te amo.

Despedidas.

Finais, recomeços. A vida continua...

"Jennie,

Você pode não acreditar em mim, mas eu me apaixonei por você no momento em que cruzou a minha frente. Quando você se encostou no meu ombro, no bar, um arrepio me subiu espinha acima. Ali eu soube que estava tendo o primeiro contato físico com a mulher da minha vida. Não por você ser tão bela quanto é, isto não vem ao caso.

Força, determinação, honestidade, carinho. Sabe quando dizer algo desagradável, sabe quando dizer as mais doces palavras. Perto de você, tudo ganha um colorido, tudo é caleidoscópico, tudo é lisérgico. Você é lisergia pura. Você é um arco-íris no quarto ao lado.

Luz. Nunca sinto medo, nunca me sinto no escuro do teu lado.

Tudo o que eu poderia querer é dizer 'eu te amo' sem medo de estar ultrapassando alguma fronteira idiota do bom senso. Tudo o que eu queria é ouvir que você me ama. Pois chegou o momento.

E o que eu faço? Fujo. Fujo para longe.

Acredite que esta fuga é somente física. Acredite que esta fuga é de tudo menos de você, único porto seguro na atualidade.

Eu vou voltar. Não sei quando, não sei como, em que condições. Mas eu vou voltar.

Não espero que você me espere. Não acho que seja legal eu te pedir para, nem imaginar que vá, esperar por mim; por um maluco que largou o teu amor no início para conhecer a si mesmo, a vida. Mas acredite, estou fazendo isto por mim e por você também.

Peço apenas uma coisa. Cuide de Opal por mim, certo? Peço a você que use seus dons para cobrir minhas falhas num serviço que jurei fazer. E cuide para que o espólio de meu pai não seja mal orientado por Tom e Jim.

EU
AMO
VOCÊ

Jack
Opal, 12 de dezembro de 2000."

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