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Starman # 07

Por Matheus Pacheco

Escalpos Secando ao Vento na Noite Fria do Texas
Parte I

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Sonho com árvores. Árvores espalhando-se ao infinito por sobre tapetes enormes da mais verde grama, digna de um campo de golfe onde velhos barrigudos e opressores teimam em deslocar seu ombro enquanto decidem — por questão de humor (ou falta de) — os destinos de milhares de famílias miseráveis.

"Jennie..."

Sonho agora com um lugar cinza. Pedras por todos os lados. Pedras cobrem todo o meu corpo e dos meus colegas/vizinhos/companheiros. Somos todos negros cumprindo penas injustas. Este é o lugar pra onde fui mandado por não ter feito nada de mal na vida. Minhas horas são preenchidas por inúmeras conversas metafísicas e letra de raps engajados.

"Jennie..."

O céu. Azul. Não, verde. Sonho com um céu esverdeado, nuvens passam velozmente por mim — parado. Sonho com liberdade, sonho. Apenas sonho e todas as imagens fluem por minha cabeça tal como em um videoclipe qualquer. Não consigo acordar. Não consigo me mover. Apenas sonhar, sentir o sonho passar por mim, sentir as coisas acontecer.

"Jennie..."

Acordo. Abro os olhos e fecho-os rapidamente. Não consigo enxergar nada. A luz muito forte me ofusca. Ouço vozes ao meu lado. Duas. Uma é ríspida, áspera, marcada pelos anos e sábia ao extremo, a outra é suave, curveada, marcada pela alta carga de sentimentalismo. Me ancoro na segunda.

— Homem-estrela? Olá? Acorde...

Não consigo raciocinar direito. Consigo me lembrar quem sou. Como pode ser que ela saiba quem eu sou? Não estou mais em Opal, eu acho. Não consigo lembrar direito...

Tento novamente abrir os olhos. A claridade me ofusca outra vez. Merda. Onde diabos eu estou?
Durmo e volto a sonhar. Tudo é verde. Jennie...

Sonho com crianças morrendo de câncer, sangrando pela boca enquanto choram desesperadamente. Sonho com mães dando à luz bebês deformados, mal-formados. Sonho com maridos espancando suas esposas por motivo algum, apenas para arrependerem-se minutos à frente. Sonho com japoneses sendo atomizados pela onda de calor solta por um garotão. Sonho com vacas babando enquanto seu cérebro vira esponja. Sonho com extremistas destruindo legados culturais da humanidade apenas por diversão. Sonho com crianças verde-escuras perdendo seus clitóris em obscuros rituais.

"Jennie... Onde...?"

Acordo novamente. Desta vez não tento abrir os olhos, apenas ouço tambores ritmados como os batimentos cardíacos de um bebê prestes a nascer. Lembro de quem deixei para trás, de quem me deixou para trás. Dave, mãe, pai. Jennie, meus amigos, Michael...

Penso em Jennie. Pela primeira vez em muito tempo (Quanto tempo? Dias? Horas?) consigo prender a concentração em algo/alguém.

"Jennie..."

Penso nela. Seus olhos, cabelos. Lembro-me de sua voz. Sua pele. Seus lábios.

Como pude? Como pude aproveitar tão pouco?

Penso em Jennie e pela primeira vez penso em futuro.

Caio no sono novamente...

"Jack, por onde você deve estar a uma hora destas? Já há 3 dias não recebo notícias suas. Apesar de parecer muito cedo, eu queria estar em seu colo, queria estar dizendo que amo você, queria estar sentindo seu toque. Onde você está?"

"Tenho que encontrá-lo, não sei como. Não sei se devo."

"O que faço?"

"Olho para o telefone. De que adianta? Vou ligar para a polícia botar uma foto dele em caixas de leite?"

"Olho para a janela. Meu impulso é correr atrás dele, me jogar em direção ao nada à procura de quem amo. Mas para onde ir?"

"Será que estarei traindo a confiança de Jack pensando em procurá-lo contra a sua vontade? O que ele diria se me visse agora?"

"O telefone. James, ele deve ter um jeito de encontrar Jack, ou ao menos seu bastão."

"Devo?"

"Não devo?"


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