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Starman # 08

Por Matheus Pacheco

Escalpos Secando ao Vento na Noite Fria do Texas
Parte II — (ou Como Achar Macacos Punheteiros no Seu Dinheiro)

Sou um gigante.

Uma enorme pessoa prestes a destruir a cidade de Tóquio com minhas armas de raios esverdeados e minhas super-botas voadoras que me fazem sentir-me como um deus vingativo prestes a destruir a cidade de Tóquio com meus asseclas feitos a base de poluição e minhas músicas punks que ferem os ouvidos daqueles que têm a mentalidade velha e podre demais para entender o que eu sinto como um monstro verde e enorme prestes a destruir a cidade de Tóquio com minhas garras pegajosas que emitem uma espécie de ultra-som que destrói o tímpano de menininhas com suas calcinhas molhadas esperando a próxima moda chegar com seus garotos de cabelos bem penteados e atitudes que só me fazem pensar que são bichas e temem um corredor prestes a destruir Tóquio com a velocidade espantosa de seu pensamento caótico que desafia a compreensão do mais tarimbado cientista que inventou a bomba atômica prestes a destruir Tóquio com seus megatons de ódio destilados em pequenas ampolas de urânio e plutônio e todos os outros metais radioativos que eu nem faço idéia do nome e nem precisaria para destruir Tóquio com meu supergrupo de amigos vestidos em collants coloridos babando pelos cantos de suas putrefatas bocas cuspindo perdigotos de ódio contra os ameaçadores e enojantes casaizinhos apaixonados prestes a destruir Tóquio com seu ronronar quase felino a disparar juras de amor como estrelas da morte dos ninjas prestes a destruir Tóquio em suas roupas escuras e modos furtivos agindo quase que como mods ou nerds ou góticos ou qualquer destes tipos de pessoas prestes a destruir Tóquio antes que a cidade seja destruída por aqueles idiotas de mentalidade rasa como um pires e incapazes de mudar.

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Sou um gigante e não me entendo mais.

Acordo, abro os olhos. Vejo tudo à minha volta. Mais do que deveria, mais do que estou acostumado. Vejo cada formiga que passeia pelo chão esverdeado, tentando escalar enormes folhas de grama, tão aterradoras como a mais íngreme escarpa negativa que qualquer maluco jamais tentou escalar.
Consigo discernir grão por grão do barro atrás de minha cabeça, onde estou deitado. Estou deitado no chão. Há quanto tempo? Onde é aqui?

Está frio? Quente? Como posso não estar agoniado com tantas perguntas? Porque eu não quero me mexer, mesmo que conscientemente eu queira. Não, eu não quero!

Unhas.

Dissolvo-me em pensamentos no éter. Mas qual éter?

Tambores, cachimbos, ervas. Animais inanimais.

Paredes de couro concêntrico sobre minha cabeça. Posso ler a história de cada um dos animais inanimais mortos desmortos porque estão vivos sobre minha cabeça me protegendo das intempéries do tempo.

A todas as árvores mortas para que a minha proteção fosse possível presto minha homenagem. À mãe presto meu tributo, devoto meus agradecimentos mais profundos.

Vejo tudo com uma claridade impressionante agora, ao mesmo tempo em que minha visão está turva por não conseguir unir conceitos, por não ser capaz de mesclar a verdade à vida vã e breve.

Há quanto tempo este homem está aqui? Dias, talvez. Eu o vi no escuro, na noite, no dia, no claro. Eu o vi no melhor e no pior dos tempos. Eu o vi em toda a minha vida, em todas as guerras. Eu o vi quando amei, quando perdi, quando odiei. Quando eu o vi senão sempre.

Mas eu nunca o vi.

Não sei quem é e nem há quanto tempo ele está ao meu lado. Ele zela por mim.

E a flor? Onde está a flor que o acompanha em cada passo? Onde está a sábia flor que sabe o que todo mundo sabe?

Ei-la. E ela também sempre está comigo, nasci dela, com ela, para ela. Morrerei com ela. Onde está a flor que está aqui ao meu lado senão em todos os lugares que percorro neste exato instante?

— Fale, Jack. Porque tanta insegurança em alguém tão forte?

— Por que deveria haver segurança em alguém com tanta perda?

— Fale, Jack. Porque tanto ódio em alguém tão amado?

— E deveria haver amor num coração cicatricial?

— Fale, Jack. Porque levantar escudo entre amigos?

— Como reconhecer os amigos no meio da névoa da ignorância?

— Fale, Jack. Por que o medo?

— Sou humano, talvez? Deveria sê-lo, ao menos. Medo é uma constante em mim, em você, em todos. Mesmo a mãe tem medo dos caminhos de seu filho. Mesmo o pai teme ensinar mal sua prole.

— Talvez.

— Eu eu posso estar redondamente enganado. Não seria raro. Eu posso ser um mero covarde a tentar andar ao lado de deuses.

— Ou talvez hajam meros deuses tentando caminhar ao lado de gigantes humanos que assumem seus defeitos.

— Talvez.

— Talvez.

Não posso impor minha vida à de quem eu amo.

Mesmo porque acho que o amor é todo ele passageiro. Ele está no mundo. Sabe-se lá onde. Sabe-se lá como. Sabe-se lá com quem.

Porque não desejar-lhe todo o bem do mundo ao invés de invejar os que têm sua presença? Não os conheço, sei que não gostaria de estar em sua pele. São diferentes de mim, todos eles, física e mentalmente. Loucos são o que eu julgaria se pudesse lê-los à íntegra.

Pois que vivam e aproveitem a presença daquele cuja existência acabou por explicar a minha. Só posso esperar que seja tão importante pra eles quanto foi pra mim. Ou que façam tanto bem a ele quanto ele fez a mim.

Sei lá. Quero o bem dele. Mesmo que às custas da minha sanidade.

Uma águia voa em busca do alimento de seus filhotes.

Ela os viu eclodirem de seus leitos de vida nesta manhã. Talvez este seja o motivo de tanta empolgação, de tanta precisão ao destroçar o pescoço de um pequeno roedor que busca o alimento de seus filhotes.

Ele os viu surgirem do corpo deformado de uma fêmea nesta manhã. Talvez seja este o motivo de tanta empolgação, de tamanha precisão ao destroçar completamente a vida de uma planta — que nunca viu nem verá nada, pois foi abençoada com o dom da insensatez.

Um jovem vaga em busca de conhecimento. Ele perdeu tudo o que tinha neste mês. Talvez seja este o motivo de tamanho desespero e tamanha entrega à ignorância que permeia seu coração — que nunca viu nem verá nada, pois foi abençoado com o dom da humanidade.

A imagem da beleza e devassidão.
Nada prepararia nenhuma das duas para o que acontece.
Nem os que as cercam. Nem os que as amam.
Curvas unem-se e separam-se em uma bela seqüência de vultos fractais que tomam a forma que mais tenta a imaginação de quem porventura possa ver a cena.
Gotas de suor unem-se às de saliva, unem-se a todos os fluidos dispensados por uma fêmea em êxtase.
Não há amor. Não há necessidade de amor. Dois animais batalham contra seus próprios preconceitos e dogmas tentando buscar, no fim, o prazer supremo — dar prazer.
Não há amor, nem deveria haver — surgido de uma relação profissional o que se vê é o extravasamento de todo o tesão que se acumula naqueles que vivem sob a égide da adrenalina.
Não há amor, nem poderia. As que ali estão buscam apenas o prazer — longe dos que podem levar não só seus corpos, mas também suas mentes a um paraíso de devassidão e endorfinas.
Não há amor, nem haverá. Nunca...

:: Notas do Autor

Não entendeu nada?

Releia após uma boa dose de algum forte destilado (sei lá, absinto, cachaça, vodka) sob o som de The Piper at the Gates of Dawn. Você vai entender menos ainda, mas vai se divertir pra caralho.



 
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