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Por
Matheus Pacheco
Escalpos Secando
ao Vento na Noite Fria do Texas
Parte II (ou Como Achar Macacos Punheteiros
no Seu Dinheiro)
Sou um gigante.
Uma enorme pessoa prestes a destruir a cidade de Tóquio
com minhas armas de raios esverdeados e minhas super-botas voadoras
que me fazem sentir-me como um deus vingativo prestes a destruir
a cidade de Tóquio com meus asseclas feitos a base de poluição
e minhas músicas punks que ferem os ouvidos daqueles que
têm a mentalidade velha e podre demais para entender o que
eu sinto como um monstro verde e enorme prestes a destruir a cidade
de Tóquio com minhas garras pegajosas que emitem uma espécie
de ultra-som que destrói o tímpano de menininhas
com suas calcinhas molhadas esperando a próxima moda chegar
com seus garotos de cabelos bem penteados e atitudes que só
me fazem pensar que são bichas e temem um corredor prestes
a destruir Tóquio com a velocidade espantosa de seu pensamento
caótico que desafia a compreensão do mais tarimbado
cientista que inventou a bomba atômica prestes a destruir
Tóquio com seus megatons de ódio destilados em pequenas
ampolas de urânio e plutônio e todos os outros metais
radioativos que eu nem faço idéia do nome e nem
precisaria para destruir Tóquio com meu supergrupo de amigos
vestidos em collants coloridos babando pelos cantos de suas putrefatas
bocas cuspindo perdigotos de ódio contra os ameaçadores
e enojantes casaizinhos apaixonados prestes a destruir Tóquio
com seu ronronar quase felino a disparar juras de amor como estrelas
da morte dos ninjas prestes a destruir Tóquio em suas roupas
escuras e modos furtivos agindo quase que como mods ou nerds ou
góticos ou qualquer destes tipos de pessoas prestes a destruir
Tóquio antes que a cidade seja destruída por aqueles
idiotas de mentalidade rasa como um pires e incapazes de mudar.
Sou um gigante
e não me entendo mais.
Acordo, abro
os olhos. Vejo tudo à minha volta. Mais do que deveria,
mais do que estou acostumado. Vejo cada formiga que passeia pelo
chão esverdeado, tentando escalar enormes folhas de grama,
tão aterradoras como a mais íngreme escarpa negativa
que qualquer maluco jamais tentou escalar.
Consigo discernir grão por grão do barro atrás
de minha cabeça, onde estou deitado. Estou deitado no chão.
Há quanto tempo? Onde é aqui?
Está frio? Quente? Como posso não estar agoniado
com tantas perguntas? Porque eu não quero me mexer, mesmo
que conscientemente eu queira. Não, eu não quero!
Unhas.
Dissolvo-me
em pensamentos no éter. Mas qual éter?
Tambores, cachimbos, ervas. Animais inanimais.
Paredes de couro concêntrico sobre minha cabeça.
Posso ler a história de cada um dos animais inanimais mortos
desmortos porque estão vivos sobre minha cabeça
me protegendo das intempéries do tempo.
A todas as
árvores mortas para que a minha proteção
fosse possível presto minha homenagem. À mãe
presto meu tributo, devoto meus agradecimentos mais profundos.
Vejo tudo com
uma claridade impressionante agora, ao mesmo tempo em que minha
visão está turva por não conseguir unir conceitos,
por não ser capaz de mesclar a verdade à vida vã
e breve.
Há quanto
tempo este homem está aqui? Dias, talvez. Eu o vi no escuro,
na noite, no dia, no claro. Eu o vi no melhor e no pior dos tempos.
Eu o vi em toda a minha vida, em todas as guerras. Eu o vi quando
amei, quando perdi, quando odiei. Quando eu o vi senão
sempre.
Mas eu nunca o vi.
Não sei quem é e nem há quanto tempo ele
está ao meu lado. Ele zela por mim.
E a flor? Onde
está a flor que o acompanha em cada passo? Onde está
a sábia flor que sabe o que todo mundo sabe?
Ei-la. E ela também sempre está comigo, nasci dela,
com ela, para ela. Morrerei com ela. Onde está a flor que
está aqui ao meu lado senão em todos os lugares
que percorro neste exato instante?
Fale,
Jack. Porque tanta insegurança em alguém tão
forte?
Por que deveria haver segurança em alguém
com tanta perda?
Fale, Jack. Porque tanto ódio em alguém
tão amado?
E deveria haver amor num coração cicatricial?
Fale, Jack. Porque levantar escudo entre amigos?
Como reconhecer os amigos no meio da névoa
da ignorância?
Fale, Jack. Por que o medo?
Sou humano, talvez? Deveria sê-lo, ao menos.
Medo é uma constante em mim, em você, em todos.
Mesmo a mãe tem medo dos caminhos de seu filho. Mesmo
o pai teme ensinar mal sua prole.
Talvez.
Eu eu posso estar redondamente enganado. Não
seria raro. Eu posso ser um mero covarde a tentar andar
ao lado de deuses.
Ou talvez hajam meros deuses tentando caminhar ao
lado de gigantes humanos que assumem seus defeitos.
Talvez.
Talvez.

Não posso
impor minha vida à de quem eu amo.
Mesmo porque acho que o amor é todo ele passageiro. Ele
está no mundo. Sabe-se lá onde. Sabe-se lá
como. Sabe-se lá com quem.
Porque não desejar-lhe todo o bem do mundo ao invés
de invejar os que têm sua presença? Não os
conheço, sei que não gostaria de estar em sua pele.
São diferentes de mim, todos eles, física e mentalmente.
Loucos são o que eu julgaria se pudesse lê-los à
íntegra.
Pois que vivam e aproveitem a presença daquele cuja existência
acabou por explicar a minha. Só posso esperar que seja
tão importante pra eles quanto foi pra mim. Ou que façam
tanto bem a ele quanto ele fez a mim.
Sei lá. Quero o bem dele. Mesmo que às custas da
minha sanidade.

Uma águia
voa em busca do alimento de seus filhotes.
Ela os viu eclodirem de seus leitos de vida nesta manhã.
Talvez este seja o motivo de tanta empolgação, de
tanta precisão ao destroçar o pescoço de
um pequeno roedor que busca o alimento de seus filhotes.
Ele os viu surgirem do corpo deformado de uma fêmea nesta
manhã. Talvez seja este o motivo de tanta empolgação,
de tamanha precisão ao destroçar completamente a
vida de uma planta que nunca viu nem verá nada,
pois foi abençoada com o dom da insensatez.
Um jovem vaga em busca de conhecimento. Ele perdeu tudo o que
tinha neste mês. Talvez seja este o motivo de tamanho desespero
e tamanha entrega à ignorância que permeia seu coração
que nunca viu nem verá nada, pois foi abençoado
com o dom da humanidade.

A imagem da beleza e devassidão.
Nada prepararia nenhuma das duas para o que acontece.
Nem os que as cercam. Nem os que as amam.
Curvas unem-se e separam-se em uma bela seqüência
de vultos fractais que tomam a forma que mais tenta a imaginação
de quem porventura possa ver a cena.
Gotas de suor unem-se às de saliva, unem-se a
todos os fluidos dispensados por uma fêmea em êxtase.
Não há amor. Não há necessidade
de amor. Dois animais batalham contra seus próprios preconceitos
e dogmas tentando buscar, no fim, o prazer supremo dar
prazer.
Não há amor, nem deveria haver surgido
de uma relação profissional o que se vê
é o extravasamento de todo o tesão que se acumula
naqueles que vivem sob a égide da adrenalina.
Não há amor, nem poderia. As que ali estão
buscam apenas o prazer longe dos que podem levar não
só seus corpos, mas também suas mentes a um paraíso
de devassidão e endorfinas.
Não há amor, nem haverá. Nunca...
:: Notas do Autor
Não entendeu nada?
Releia após uma boa dose de algum forte destilado (sei
lá, absinto, cachaça, vodka) sob o som de The
Piper at the Gates of Dawn. Você vai entender menos
ainda, mas vai se divertir pra caralho.
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