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Starman # 09

Por Matheus Pacheco

Escalpos Secando ao Vento na Noite Fria do Texas
Parte III — (ou Um Pouco de Sanidade)

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"Escuro.
Difícil concentrar. Transe absoluto, vapor recobrindo meus pulmões.
Difícil respirar.

Tambores tomam o ar. O que resta do ar. Transe.
Difícil respirar, ritmo acelerado, barulho ritmado.

Abro os olhos, que nada vêem. Fecho os olhos e tudo aparece à frente. Mãe.
Mãe.
Onde você está, mãe?
Está bem?
Por que tudo aquilo entre nós? Você era/é perfeita. Arte recobria/recobre tudo em você, deixe-me abraçá-la. Pai diz que muito de você está em mim, diz que somos iguais. Por que tudo aquilo, então? Não tive a chance de pedir desculpas ou de agradecer. Por que o Dave vem a mim e você não? Quero vê-la e abraçá-la e dizer tudo o que preciso dizer. Te amo mãe, mas nunca disse isso. Sempre fui o idiota a odiar por odiar. A fugir de casa por pseudo-rebeldia adolescente. Desculpa, mãe. Te amo, mãe.

Tambores.
Incessantes, batem ritmados em uma velocidade espantosa. Difícil pensar em qualquer coisa."

— Jack?

— Mãe? Onde...?

— Aqui. Interessa?

— Interessa, quero te achar sempre.

— Não seja assim, filho. Aproveite o agora sem pensar à frente. Quantas coisas bonitas você deixou de fazer por crer no futuro?

— Por crer...? Mãe?

— Diga...

— Pai está aí? Contigo?

— As coisas não são como você pensa, filho. Não existe "estar aqui". Nem aí, na verdade. Mas sim, tenho contato com ele, com Dave, com seus avós.

— Perdi a todos, né? Sempre fui arrogante, nunca disse a ninguém o quanto eram importantes pra mim. Vocês me desculpam?

— Mesmo antes. Mesmo antes de estarmos aqui e aprendermos o tanto que sabemos. Mesmo antes. Todos já sabíamos. O conhecemos desde a mais tenra infância e não duvide que sempre soubemos ler suas atitudes, sua rebeldia, suas palavras.

— Sei lá. Como é que vocês conseguiam e eu não?

— Ingênuo. Apesar de tudo o que viveu, Jack, você não sabe nada da vida.

— Mãe?

— Diga, filho.

— Eu estou mesmo falando contigo? Ou são as drogas destes índios loucos?

— O que você acha?

— Eu acho que é fruto da minha mente fértil — cabeça de merda.

— E qual seu conceito de vida eterna?

— Mãe?

— ...

— Mãe?

— ...

— MÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃÃE!

— ...

— ...

"Pai? Dave?
E vocês? Não vão dar as caras?

Pai?


...


...


...

Dave?

Sons, músicas. Todos cantam. Água vital, voaremos como águias.
Patcha Mama.

Não compreendo nada do que dizem, mas tudo é claro em minha mente. Sou uno com eles."

Opal City, Banco Nacional de Trocados

Criado em 1827 por Scrooge E. Oxford para facilitar as transações entre os aventureiros desta cidade mineradora, o NEB cresceu e tornou-se o maior depositário das economias dos cidadãos opalenses. Cerca de 80% da população deposita seu suado dinheiro lá, mais por costume do que necessariamente por vantagens oferecidas.

Não há lugar melhor na cidade para alguém suficientemente esperto aumentar seu "capital de giro" e colocar-se no "mercado" de novo. Não de forma honesta, mas quem se importa? O problema é que sempre há um Starman protegendo.

Starman não está em casa.

Nash sabe disto e vai se aproveitar da situação...

— Eu. Eu.

— Você tem de ir, Jack. Não há mais lugar pra você aqui.

— Tenho que te agradecer, Sol Poente. O que vocês fizeram por mim...

— Não é nada. Nada que você não conseguiria sozinho. Mas tínhamos que adiantar as coisas.

— Por que?

— Sua jornada ainda é longa e a casa precisará de você no final.

— Opal? Por quê?

— Só no final você saberá. E lembre-se: seu futuro e o dos seus é cinza. Seja isto bom ou ruim.

— Como assim?

— Vá, Jack. Nada há pra você aqui. Nunca mais. Nossas saudações.

— Aho, Sol Poente. Aho, aldeia! Aho, Metakiasi!

Alarmes tocam.

A polícia percorre as ruas sem destino certo.

Um carro corre em desabalada carreira para o campo. Nash está de volta.

Um telefone toca.

— Alô?

— Jade?

— O que é?

— Você está chorando?

— Não interessa. Quem é?

— Sou eu, Jim Robinson.

— O que houve?

— Alguma mulher chamada Névoa assaltou o NEB. Parece ser a filha do sujeito que tentou matar Ted alguns meses atrás.

— Matar Ted? Névoa? Assalto? E por que você me diz isto?

— Jack pediu. Pra sempre te avisar se algo acontecesse.

— Jack?

— É. O que você vai fazer?

— ...

— Jade?

— ...

Uma mancha verde começa a percorrer os céus de Opal a toda velocidade. Seu nome é Jennie Lynn-Hayden. Codinome Jade. Filha do primeiro dos Lanternas Verdes da Terra. Ela tem o poder de um deles, sem a necessidade da mais mortal arma do universo. Lágrimas percorrem seu rosto enquanto explora os céus tentando descobrir alguma pista. Pensa em Jack, em Cindy e no que houve dias atrás. "Um erro", reflete. "Um erro bom. Por que não admitir que foi bom? Jack... Foi um erro, Jack. Me desculpe."

Uma mancha verde percorre os céus de Opal. Mas, se chegássemos perto, veríamos lágrimas nos olhos desta mulher.

Lágrimas de amor, saudade e arrependimentos.

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