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Por
Cesar Rocha Leal
Pretérito
Mais Que Perfeito
A viagem
de volta a Seattle encontra um Oliver Queen mais bem humorado.
Tendo ao menos desbaratado parte do circuito de tráfico
de crianças e exploração sexual infantil
de Richard Holsfield, o Arqueiro está mais otimista. Mas
ainda há alguns aspectos da missão que o preocupam.
O primeiro é não ter encontrado o Questão
novamente. Sage é perfeitamente capaz de se cuidar sozinho,
mas Oliver decide entrar em contato com Tot para saber informações
quando chegar aos EUA. Só por precaução.
Outra preocupação é com a identidade do seu
misterioso informante. Sem ele, Oliver talvez ainda estivesse
em uma inútil caça as bruxas atrás de Holsfield,
mas a forma que o estranho entrou em contato ainda o deixa curioso.(*)
A sensação de ao menos ter colocado o magnata fora
do caminho e encontrado o assassino de Vilma Derring trazem ao
Arqueiro lembranças de épocas melhores em sua vida,
logo quando se mudou para Seattle, antes de todos os problemas
que fizeram Dinah Lance se afastar dele... Dias mais felizes,
mas não menos atribulados.

Alguns
anos atrás
Oliver Queen entra em casa. Após alguns dias atrás
de uma quadrilha de ladrões de carro, tudo o que ele deseja
é encontrar Dinah, abrir uma garrafa de vinho e comemorar
sua volta.
Como diria aquele personagem-dinossauro... Querida, cheguei!
O silêncio é a única resposta que Oliver obtém.
Ele sobe as escadas meio preocupado, apesar de sua companheira,
a vigilante Canário Negro, ser mais do que capaz de cuidar
de si mesma. Algo em sua ausência, porém, o deixa
inquieto.
Ninguém no quarto de casal, camas desarrumadas. O uniforme
de Canário permanece no armário. Um frio começa
a brotar no estômago de Oliver. Afinal, se ela não
levou seu uniforme, onde pode ter ido?
Na cozinha, os mesmos sinais de desarrumação: xícara
ainda com café pela metade, torradas em cima da mesa, a
pequena TV ligada... Não é típico de Dinah
sair dessa forma. Por outro lado, apesar da casa parecer largada,
não há sinais de luta ou indícios de que
ela tenha sido levada. Se ao menos Dinah já tivesse aberto
a floricultura no térreo da casa que alugaram, talvez alguém
pudesse lhe dar alguma informação.
Um gosto amargo começa a tomar conta da boca de Oliver.
Mesmo sendo ainda final de tarde, ele decide sair para procurar
informações da ralé criminosa da cidade.
Horas depois, a busca continua sem qualquer indício de
levar a um resultado.
Um show da banda Nirvana deixou as ruas meio vazias, perfeitas
para o tipo de caçada que o Arqueiro tem empreendido, até
agora sem sucesso. Ninguém sabia sequer que a Canário
tivesse agido nas ruas de Seattle. Na clarabóia de um prédio
de escritórios, Oliver ouve uma conversa entre três
criminosos.
E aí Jamill? Como foi?
Nada legal cara, eu fui na certa, crente que estava com uma
loiraça, mas cabei quebrando a cara...
Ao ouvir estas
palavras, Oliver age. Dinah Lance é morena, mas quando
está em missão como Canário Negro usa uma
peruca loira para disfarçar sua identidade.
Com o pé direito ele chuta a clarabóia, quebrando
o vidro. Cacos caem como uma chuva em cima dos criminosos, que
prontamente sacam suas armas e começam a atirar às
cegas. Mas enquanto os tiros tentam atingir um alvo no teto, o
Arqueiro se aproveita da chuva de vidro para saltar pela clarabóia,
aterrissando no meio da mesa.
Uma flecha é disparada em um dos bandidos, atingindo-o
no ombro direito e fazendo-o largar a arma. Mas os outros dois
já tinham percebido que Oliver não estava mais no
teto... Hora de trocar de posição. Saltando em direção
do criminoso agora desarmado, Oliver o empurra e agacha sob a
mesa. Um misto de xingamentos, tiros e rap, tocando alto em um
rádio, compõe a trilha sonora da situação.
Oliver se agacha por baixo da mesa e, largando seu arco, arremessa-a
sobre seus adversários. O bandido conhecido como conhecido
como Boi não tem tempo para reagir antes que o móvel
se despedace em sua cabeça, tirando-o da briga.
O bandido restante, exatamente aquele que o Arqueiro quer interrogar
sobre a tal "falsa loira" corre pela porta. Oliver pega
seu arco e se prepara para perseguir sua presa quando pára.
Anos de prática o fizeram desenvolver uma espécie
de "sexto sentido" para esse tipo de coisa. Antes de
sair em perseguição ao marginal, ele arma seu arco
e dispara uma flecha em direção contrária
aã da porta. O disparo atinge um quarto homem, que estava
saindo do banheiro segurando uma escopeta.
Oliver não tem tempo para se sentir aliviado e corre para
as escadas atrás do fugitivo. A rua está quieta.
O arqueiro tenta ouvir os sons do homem em fuga e começa
a correr para um lado da rua. Normalmente o herói tentaia
seguir sua presa por cima dos telhados das baixas construções
da área, procurando uma vantagem de terreno e uma forma
de cortar caminho. Mas como ainda não conhece bem as ruas
de Seattle, prefere seguir pelas ruas mesmo.
Saindo em uma movimentada avenida o Arqueiro tenta identificar
sua presa entre as várias pessoas que se encontram por
ali. Começa a se xingar achando que na verdade Jamill tinha
fugido pelo outro lado quando um sorriso se forma em seus lábios.
PELAMORDEDEUS... ELAINE ME AJUDA!
A mulher se assusta com a entrada do homem em sua loja.
Tem um doido atrás de mim... Ele quer me matar!
Mas do que você ta falando cara?
Um meganha, sei lá... Parece um daqueles malucos que
vivem em Nova Iorque, um daqueles super-heróis.
Deixa de ser maluco, cara, o que um superpoderoso estaria fazendo
em Seattle?
Nesse momento o Arqueiro entra na loja de discos. Suas narinas
sentem um indisfarçável cheiro de haxixe e outras
substâncias menos tradicionais.
Sabe, essa é uma pergunta interessante, dona. Mas como
eu não tenho superpoderes, acho que a senhora não
está falando de mim.
A mulher começa a colocar a mão sob o balcão
para pegar sua arma quando uma flecha é cravada na parede,
a centímetros de sua cabeça.
Eu não errei, se é isto que está pensando.
Tenho que levar um papo com seu amigo aqui e a flecha é
um lembrete para que você não tenha idéias
com o que quer que seja atrás deste balcão.
Desistindo de seu intento, a moça fica parada enquanto
o Arqueiro finalmente alcança o fugitivo.
E então, meu amigo? Eu não tenho nada contra você...
ainda. Apesar de estarem de forma suspeita em um apartamento com
um pequeno arsenal, estou disposto a deixar barato... em troca
de informações.
O que tu quer saber? Eu fa-fa-falo o que quiser...
Eu quero entender melhor a sua história com a falsa loira.
Quem é ela?
Mas como é... Que porra, cara! A gatinha era linda, como
eu ia saber... Porra, eu levei a mina pro motel e ela era falsa
cara. Falsa loira e falsa mulher... Porra, pra que que tu quer
saber disso cara, tá pensando que sou viado, é?
Eu não sabia... Da primeira vez pelo menos. Tá bom!
Tá bom! Eu amo o cara, tá certo?
O rosto de Oliver fica transtornado. Sua impulsividade o fez arriscar
tudo em uma caçada inútil.
De volta para casa, o Arqueiro está possesso. Irritado
com sua gafe e sem saber notícias de Dinah, ele pensa em
seu próximo passo quando o telefone toca.
Alô? Oliver?
Quem fala?
É Alan, Alan Scott (**). Eu queria saber se Dinah já
teve notícias de sua mãe.
Como? Eu não sei do que você está falando.
Droga, olha deixe eu te atualizar. A mãe de Dinah estava
pensando em se mudar, sair de Gotham. Ela foi ver uma casa em
Tampa Bay e passar uns dias para "sentir" a cidade,
mas acabou sumindo completamente. Eu liguei uns dois dias atrás
para Dinah falando sobre isso e me pareceu que ela iria investigar
mas...
De repente tudo começou a fazer sentido para Oliver Queen.
A preocupação com a mãe fez Dinah largar
tudo, sair de Seattle e ir para Tampa. Ela não levou o
uniforme, pois se o sumiço de sua mão tivesse algo
a ver com o fato dela ter sido a primeira Canário Negro,
Dinah não iria querer levantar suspeitas. Ele tinha que
procurá-la não no estado de Washington, mas na Flórida.

Presente
As lembranças de Oliver são interrompidas com a
chegada do vôo a Seattle. Sentindo-se revigorado, ele fica
imaginando por que lembrar de Dinah, mesmo em situações
preocupantes, o faz se sentir tão bem.

Interlúdio
No apartamento de Homer Sykes uma celebração efetuada.
Tem certeza que isso é poderoso, querido?
Mas é claro, coelhinha, lembre que meu pai foi o segundo
em comando na Ordem dos Mistérios Antigos. Ele ajudou aprisionar
a própria Morte, sabia?
Mas não era ela, certo? Era uma espécie de parente,
um Rei Sonho?
Algo assim, mas meu pai ficou com algumas relíquias dele.
E eu te garanto gata, isso é ainda mais poderoso.
:: Notas do Autor
(*) Em Arqueiro Verde # 02
(**) Alan Scott, o primeiro Lanterna Verde, foi parceiro da mãe
de Dinah no grupo Sociedade da Justiça na década
de quarenta.
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