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Grimjack - O Retorno # 05

Por Fábio Fernandes

Cinosura, Cidade Aberta

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Abrir os portais? Você surtou?

O grito de Martha ecoa furioso pelo recinto. Grimjack não se abala.

— De jeito nenhum. — ele diz, olhando bem para ela.

— Mas você lembra o estrago que aquelas criaturas provocaram da última vez! Se eu fizer isso, eles vão nos exterminar!

— Ó, mulher de pouca fé. — Grimjack sorri, irônico — Esqueceu que desta vez estamos com deuses do nosso lado?

— Deuses que não têm nenhum poder! — e, olhando para o deus do trovão, parado sério ao lado de Grimjack: — Sem ofensa, OK?

Thor balança a cabeça.

— Não me ofendi, Martha Baylor-Noone — ele observa — Ao contrário: estás deveras correta em tua avaliação. Não temos nossos poderes agora. Não obstante, somos muitos e ainda suficientemente fortes para realizar a tarefa que Grimjack nos propõe.

Martha olha o grupo reunido ao redor de Thor e Joana (ou John? Ela ainda não consegue ver aquela garota magricela como a encarnação de Gaunt) e percebe que precisa reconsiderar sua opinião. É uma verdadeira multidão, composta por taumaturgos galeses, monges lutadores de Han, orixás africanos, entidades esquimós, e até mesmo algumas formas estranhas ao fundo do recinto que apenas vagamente lembram humanos.

Eles são legião.

Pode não ser uma idéia tão ruim, afinal.

— Tudo bem. — ela diz, convencida — Abram os portais.

Os portais são abertos. Mas não só no esconderijo dos rastas: a pirâmide, que nos últimos anos bloqueou o acesso de Cinosura a várias dimensões, desta vez abriu passagem. Para o Inferno.

Na verdade, não o Inferno das religiões, mas simplesmente (se é que se pode dizer que algo remotamente ligado a Cinosura seja simples) terras habitadas por criaturas impossíveis, que não figuram em nenhum bestiário medieval porque a imaginação de seus escritores era limitada demais para conter coisas tão indizíveis.

Eles já saem de suas terras aniquilando o que vêem pela frente. Garras, presas, dentes, patas, asas afiadas: tudo é instrumento, tudo é ferramenta.

A carne humana é a vítima.

A horrível sensação de se fazer uma festa e não aparecer nenhum convidado.

Joana se lembra disso. Não como John Gaunt, e muito menos como sua atual encarnação. Como Jim Twilley.

Quinze anos. Um pouco antes da dor e da delícia de descobrir que era Gaunt, o jovem Twilley resolveu dar uma festa para os amigos da escola.

Nenhum deles foi.

Dias depois, ele saberia que os convites, que pedira a seu irmão Michael para entregar, jamais foram enviados. Michael, o traidor, que depois venderia até a alma do pai e dos irmãos.

Claro que, agora, aquilo até o faria rir. Se a situação não fosse tão séria.

— O que diabos aconteceu? — pergunta Martha, ainda visivelmente irritada.

— Poupe sua ira para quando os demônios chegarem. — diz Grimjack, limpando a lâmina da espada para disfarçar as próprias dúvidas — Eles podem até demorar, mas virão. — e, virando-se para o deus do trovão: — Vamos?

Mas a festa dos demônios é outra.

Consiste basicamente em fatiar, retalhar, cortar em rodelinhas, enfim, torturar minuciosamente cada coisa viva encontrada no caminho.

Para esta festa não é necessário convite, pelo contrário: a graça está em entrar de penetra. Esgueirar-se pelas sombras ou assomar de sopetão e absorver o terror nos olhos das vítimas antes de simplesmente abocanhá-las, comer-lhes a carne e cuspir — ou mastigar — os ossos.

Os esconderijos são ignorados. Por ora. As ruas de Cinosura são um banquete mais que suficiente para a sanha dos demônios.

Um dos inúmeros becos sem saída da cidade. Quando Grimjack, o Registrador, Thor e os demais deuses desembocam do portal, os gritos dos humanos que morrem já podem ser ouvidos. Cada vez mais próximos.

— Bem na hora. — diz Grimjack, um sorriso sombrio cobrindo o rosto magro — A Praça não está muito longe. Vamos contorná-la por trás.

— Antes precisamos fazer uma coisa. — diz o deus do trovão.

— Procurar o seu súdito desaparecido? — pergunta Grimjack — Quem é, aquele porco gordo?

O deus do trovão esboça um sorriso cansado.

— Antes fosse Volstagg. — ele diz — Não, meu bom amigo. Quem desapareceu foi Heimdall.

Mesmo Grimjack, com toda a sua experiência, fica surpreso.

— O guardião da Ponte do Arco-Íris? Pensei que ele nem sequer pudesse sair de seu posto.

— E não poderia mesmo. — confirma o deus do trovão — Pois Heimdall é mais que um guardião. Ele é a própria estrutura da ponte.

— Explique isso melhor.

— Depois, bom amigo. Se não o encontrarmos logo, nosso ataque de nada adiantará.

— E você sabe onde ele está?

— Sim, eu sei.

As Três Nornas é uma das tavernas mais antigas de Cinosura. Fica na região leste da cidade, próxima à área pelucidar que a separa do mundo bizarro de Bas-Lag, onde humanos e alienígenas convivem — e dizem que mantêm intercurso sexual. A região leste é vista com preconceito pelos habitantes de Cinosura. E, numa cidade onde muitos são criminosos e todos são pecadores impenitentes, isso não é pouca coisa.

Não é difícil localizar quem procuram: num canto do recinto mal-encarado, um gigante vestido peles e um grande capacete com chifres bebe uma enorme caneca de um líquido escuro e espesso. A cada gole, o ex-deus abaixa os olhos e balança a cabeça. Parece que chora.

— Só vi um deus em condições piores quando Balder sucumbiu ao toque de Hela. — diz o deus do trovão, olhando triste seu súdito.

— Ele vai ficar pior ainda se não sucumbir a nós. — diz Grimjack, entrando com tudo na taverna.

Os freqüentadores, em sua maioria criminosos e prostitutas da pior espécie, têm uma coisa em comum além da marginalidade: são todos de extração nórdica. O incômodo que sentem pela moça mulata que adentra o recinto sem pedir licença só não é maior do que a imensa onda de respeito que os toma de assalto quando vêem a figura imponente que a acompanha. Portanto, ninguém se manifesta. Nem quando a mocinha se debruça sobre o gigante e sussurra algo em seu ouvido.

Heimdall faz uma cara de quem não acredita no que acabou de ouvir. Levanta os seus impossíveis quase três metros de altura e parte para cima da (aparentemente) indefesa mocinha de pele marrom que o encara de braços cruzados. Tudo o que ela tem a fazer se desviar, estender a perna na frente do gigante nórdico completamente bêbado, e ele tomba.

Nem o deus do trovão acredita em seus olhos, e ele já viu muito em milênios de vida entre humanos e outras espécies. Mas poucas vezes viu um humano afrontar um deus, mesmo que um deus menor do panteão asgardiano. Caminha até o súdito caído e o conduz para fora da taverna. Do lado de fora, um druida taumaturgo lhe dá uma poção de ervas especiais para curar a bebedeira.

— O que disseste para ele? — o deus do trovão pergunta a Grimjack, ainda surpreso.

— Simples. — responde o outro — Eu disse que se ele não viesse conosco, ia experimentar minha espada no rabo.

O deus do trovão não ri. Pondera a resposta do amigo.

— O que dizes faz sentido. — responde, enfim — Não podemos nos dar ao luxo de sermos gentis na guerra.

— Tu o disseste. — diz Grimjack, ouvindo os gritos cada vez mais próximos.

— Os gritos estão cada vez mais próximos! — diz um dos rastas que montam guarda perto dos portais.

— It's sheer hell, man. — confirma Bob, dizendo o que ninguém ali tem coragem de dizer.

Martha olha ao redor. Suados, cansados, mas armados até os dentes. Os poucos que restaram. Eles ainda não tiveram tempo de chorar seus mortos. Ela ainda não teve tempo de chorar a morte de Jin.

Até alguns dias atrás, ela jamais imaginava que tanta coisa iria acontecer. E que ainda por cima o mundo chegaria ao fim. Pois era o que parecia.

Ela respira fundo e pondera o que foi combinado com Joana. Segundo a garota (ou homem? Ela não sabe mais o que pensar), os rastas e os blackjackers deveriam abrir todos os portais que levavam ao seu esconderijo para atrair os soldados do Consórcio. Enquanto isso, Grimjack, o Registrador de Rigel e os deuses do Panteão iriam para a Wells-Kodama localizar e destruir o computador quântico que bloqueia o acesso de Cinosura às dimensões mágicas.

É um plano simples e direto. Mas não muito eficiente, pensa Martha, sentindo um calafrio ao se lembrar da batalha com aqueles demônios.

E de Jin.

Ela amava sua companheira, mas não quer se juntar a ela agora. Pelo menos não enquanto os blackjackers não estiverem a salvo.

Martha respira fundo.

— O que desejas de mim, filho de Odin? — pergunta o já não tão embriagado Heimdall.

— Nada que não possas me dar, nobre Guardião. — é a resposta do deus do trovão.

Heimdall balança a cabeça negativamente.

— Nada posso lhe dar, meu soberano, pois nada tenho.

— Acho bom ter e bem depressa. — corta a voz estranhamente masculina da garota franzina ao seu lado — Pessoas em Cinosura estão morrendo por causa dessa sua carraspana.

— Milorde, — Heimdall pergunta, confuso — quem é este? Loki, sob um de seus disfarces multiformes, para nos infernizar? Estamos todos nos domínios de Hela, então?

Thor põe a mão firme e pesada no ombro do gigante.

— Não, Heimdall. — ele diz — É uma longa história, mas esta pessoa é amiga de Asgard. Em minha ausência, faze o que ela disseres.

— Tua ausência, filho de Odin?

— Guardião da ponte, — Thor diz com muita seriedade — é chegada mais uma vez a hora de tua função.

— Mas longe da ponte eu não sou nada, milorde. — Heimdall diz envergonhado, lutando contra as lágrimas.

— Você não disse que ele era a ponte? — Grimjack pergunta a Thor. O deus do trovão responde:

— Deuses menores são basicamente funções. Eles são o que fazem, pouco mais. E se por algum motivo ficam impossibilitados de realizarem suas funções, é como se a vida lhes fosse roubada.

— Mas ele não pode voltar à ponte, certo? Não enquanto esse bloqueio perdurar.

— Deveras, meu amigo. Mas ele não precisa estar lá para cumprir sua função. — e, voltando-se para o robô rigeliano: — Registrador, preciso de tua ajuda.

O Registrador, que até então a tudo observava em silêncio, se aproxima.

— Em que posso ser de ajuda?

Thor explica o que fazer. O Registrador se aproxima da figura de Heimdall, que se ajoelha. O robô se posiciona atrás do gigante, e mesmo assim ainda é mais baixo do que ele. Mas isso não é problema para um robô: seus braços se estendem telescopicamente até que suas mãos metálicas alcançam os chifres do capacete de Heimdall. E agarram os cornos.

Uma piada muito antiga vem à mente de Grimjack. Mas ele logo a afasta da lembrança: não é o momento.

O processo é tão rápido e invisível que, se Thor não tivesse explicado, ele não teria sido capaz de deduzir sozinho. Tem a ver com protocolos: códigos que permitem a abertura de portais. Coisas que computadores sabem fazer muito bem, mas até aquele dia Grimjack jamais havia visto um ser senciente fazer por conta própria.

Heimdall é um firewall vivo. Como o grego Hermes e o africano Exu (que, onde quer que estejam não estão ali entre eles), ele abre caminhos e é senhor de todas as portas. Ninguém passa por Asgard sem chegar a ele. Ninguém de Asgard entra no planeta Terra sem sua intervenção.

E é exatamente isso que Thor deseja.

Lentamente, com grande esforço, um vórtice começa a surgir à frente do grupo. No começo como fiapos de nuvens, depois como um líquido leitoso e espumante. Por fim, uma paisagem de campos verdes e céus azuis aparece sobreposta aos céus agora avermelhados de Cinosura.

A Terra.

— Aquele é o único lugar em que meu poder é ilimitado. — o deus do trovão explica a Grimjack — Lá chegando, terei condições de seguir imediatamente em busca dos rigelianos. Confio que, até eu ter com eles, tu terás destruído o computador quântico que impede a passagem entre as dimensões.

— Pode apostar. — responde Grimjack, estendendo a mão magra e marrom para apertar a manopla muito branca do deus nórdico. Que, em seguida, desaparece no vórtice.

Grimjack vê o portal se fechar e logo em seguida se volta para Heimdall:

— Meu chapa, vou precisar da sua ajuda quando chegarmos à sala do computador.

Do outro lado, um deus se encontra novamente com seu poder.

Thor ergue o braço e chama a tempestade. Subitamente, o céu azul se enche de nuvens negras. Raios riscam o firmamento. Ele sorri.

Gira seu martelo de pedra, agora mais que um simples ferramenta. E, alçando vôo, Mjolnir volta a guiar seu dono pelo espaço.

Ele sente o vento nos cabelos. Estava sentindo falta da liberdade.

Deixa a atmosfera da Terra em segundos. Será uma questão de horas até vencer as correntes cósmicas e chegar à região do espaço onde as naves errantes rigelianas se encontram. Se tudo sair de acordo com o plano, ele e Tana Nile poderão efetuar um salto para Cinosura logo a seguir, de onde estiverem. E a cidade será salva.

Há um preço, claro. Os rigelianos são muitos, não vão se contentar apenas com um bairro de Cinosura. Mas disso até mesmo Grimjack, que já viveu muito, sabe. Thor não sente hesitação nem remorso: ele agora é um soberano, e sabe que escolhas precisam ser feitas. Antes o jugo esclarecido da alta tecnologia rigeliana do que o capitalismo demoníaco do Consórcio.

— Tudo OK. — diz o batedor blackjacker, ao voltar do reconhecimento — Podemos proceder à evacuação.

— Vocês ouviram o homem. — Martha se dirige aos demais blackjackers e aos rastas — Abandonar o recinto.

— E pra onde iremos agora? — pergunta o rasta Bob — Where to?

Ela não precisa responder. Subitamente, no beco onde um dos portais estavam abertos, aparece uma mulher suja e coberta de trapos. Por baixo da fuligem, Martha reconhece as feições da todo-poderosa líder do Consórcio. Rachel Kodama se aproxima cambaleante e atravessa o portal. Os blackjackers mais próximos deixam as armas de prontidão. Martha faz um sinal para que todos se acalmem e chega mais perto da mulher.

— Pelo amor de Cinosura, me ajudem... — e cai de joelhos, tamanho o cansaço.

— O que você está fazendo aqui? — Martha pergunta.

— Os demônios invadiram Cinosura. Os portais para as dimensões infernais foram abertos.

— Isso explica tudo. — Martha se aproxima da mulher estropiada — E quem fez isso, sra. Kodama?

— Kalibos. — ela diz, cansada — Ele tentou me matar.

"Meus deuses." — pensa Martha — "Só me faltava essa. Kalibos não só existe, como está à solta com os demônios."

— Você está sozinha? — ela pergunta.

— Trouxe soldados comigo. — Rachel responde, ofegante — Apenas alguns escaparam. — e, após uma pausa: — Vocês podem nos abrigar?

Martha quase sente pena da mulher caída, mas sabe que precisa perguntar:

— E por que faríamos isso depois que vocês tentaram nos matar?

Rachel balança a cabeça negativamente. Os cabelos pretos pendem sujos e sem nenhum brilho, como se fossem tentáculos de algum animal marinho morto.

— Não fomos nós. A Wells-Kodama nunca quis mal nenhum a vocês. Eu até tinha pensado em negociar a saída de vocês da clandestinidade... mas o comandante Moorcock me preveniu contra isso. Disse que vocês iriam destruir tudo o que eu levei anos para construir com tanto esforço.

— Até que não seria má idéia, depois de tudo o que você destruiu. — Martha pensa em Jin. Tem que segurar as lágrimas. Não na frente de Rachel Kodama.

— E onde está esse seu comandante agora?

Rachel levanta a cabeça e olha para ela.

— Ele era Kalibos. O tempo todo. E eu nunca desconfiei.

— Então, isso tudo o que está lá fora é culpa dele?

Rachel assente.

— E você não tem culpa nenhuma?

— Posso ser acusada de muitas coisas, mas não de trair Cinosura aos demônios. — outra pausa. Os gritos lá fora estão ficando piores — Peço trégua, Martha. Por favor, dê guarida a mim e aos meus soldados. Quando isso tudo for resolvido, prometo que haverá um lugar para vocês na cidade.

Martha respira fundo.

— Que ninguém diga que eu não ajudei alguém que precisava. — ela diz, finalmente. E, olhando para o blackjacker no portal, com um sorrisinho irônico nos lábios: — Deixe os soldados entrarem. Não deixa de ser engraçado. Nós íamos mesmo procurar vocês.

Os soldados entram. São um bando triste, cerca de quinze homens, sem armas, todos com body armors quebradas e rasgadas. Todos bastante feridos e sujos. Um deles até está sangrando, nota o blackjacker no portal. O sangue pinga esverdeado da perna, molhando o que restou da calça...

Sangue esverdeado?

Ele puxa o soldado pelo braço. E é a última coisa que faz na vida.

Os soldados revertem à forma original de demônios.

É uma carnificina.

Do meio da praça central de Cinosura, Grimjack avista o prédio gigantesco e imponente da Wells-Kodama. Não há um soldado à vista.

— Isso deveria ser bom, certo?

— Meus sensores contam exatamente trezentos e sessenta e três demônios no perímetro interno da praça e num raio de cem metros ao redor dela — o Registrador anuncia.

— Diabos! — Grimjack deixa escapar, muito irritado — Isso não termina nunca?

— A frase correta em seu idioma deveria ser "Diabos, eles não terminam nunca?" — observa o Registrador.

— Não sabia que vocês, robôs rigelianos, tinham senso de humor.

— Não temos. — diz o robô.

— Então cale a boca e me dê uma ajuda!

— Os Registradores de Rigel foram programados para não interferir em conflitos, sejam bélicos ou não. Por isso, não posso ajudá-la, Joana.

A raiva de Grimjack é tanta que ele começa a emitir um forte brilho azulado. E decapita o primeiro demônio que aparece à sua frente.

Não me chame de Joana!

E a batalha começa.

No futuro, os historiadores chamarão esse conflito isolado de A Batalha da Praça Central. Porque foi nela que os pouco mais de sessenta membros do grupo de Grimjack — entre deuses sem poder e os poucos de seus seguidores que tinham alguma experiência nas artes da guerra — abriram caminho entre uma horda ensandecida de demônios de todos os tipos para chegar ao computador quântico no subsolo da Wells-Kodama. Liderados por uma estranha figura espectral, como um filme em negativo.

O que nenhum historiador jamais conseguirá explicar é o que acontece em seguida.

No mesmo instante em que Joana se transforma na entidade Grimjack, a pirâmide que é o computador quântico emite um sinal. Um único bit, programado previamente por Kalibos. Em resposta, um pequeno demônio amarelo adentra o espaço de Cinosura. Seu aspecto é tão grotesco quanto os dos leviatãs que infestam agora a Cidade, mas ele não tem mais que alguns centímetros de altura. Não inspira muito terror.

Isso vai mudar.

Este não é um demônio qualquer. Ele não é transmorfo como os demais, mas seu poder compensa qualquer alteração cosmética.

Ele sente o terror dos habitantes de Cinosura. Cada humano aterrorizado em cada canto escuro da Cidade que ainda não tenha sido morto pelos demônios é imediatamente atomizado. Mas não destruído, pelo contrário: a energia que compõe cada ser é imediatamente convertida em massa. Massa que se agrega ao minúsculo demônio e o faz crescer. O processo é tão rápido que, quando chega à entrada da Wells-Kodama, ele mede vinte e cinco metros de altura.

Pois este é Mangog. Um demônio que já enfrentou o deus do trovão. Uma criatura que pode obliterar tudo o que estiver no seu caminho com a força de suas garras, sua cauda, e a potência das rajadas de energia pura que emite pelos olhos vermelhos.

Os poucos humanos que restaram na cidade e assistem ao seu surgimento não têm dúvidas.

Cinosura será destruída.



 
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