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Por
Dell Freire
Datemi
Un Martelo
Maniac Casey
olha com atenção através de um binóculo,
tentando captar alguma movimentação na casa, balançando
seu proeminente queixo para a esquerda e direita, com seu tique
nervoso característico. O homem lá dentro está
marcado para morrer e Casey está aqui para fazer o seu
serviço da maneira mais rápida e eficaz possível,
impedindo que seu testemunho venha à público. Ele
não é considerado o melhor entre a elite assassina
do crime organizado por acaso.
Mais rápido do que ele possa perceber, um homem vestido
com uma roupa e um sobretudo escuro, deixando a figura de uma
caveira à mostra sobre o peito, abre a porta do carro e
senta-se ao seu lado.
Frank! o rosto de Casey deixa transparecer uma enorme
surpresa Céus, é você mesmo!
O imenso homem não se contém e dá um forte
abraço em seu velho amigo, recebendo em seguida a retribuição.
Também é bom te ver, Jacob!
Ninguém me chama mais assim, Frank...
Poucos ainda me chamam pelo nome também.
É. Eu sei responde Casey, olhando para o
outro lado. Já me falaram muito de sua nova carreira
como Justiceiro. Meus chefes dariam uma fortuna por sua cabeça.
Ainda trabalhando pra famiglia?
Não tive alternativa. Mais do que ninguém
você sabe como um país trata seus filhos depois da
guerra: te dão um pé na bunda e mandam correr!
Com isso, você também se tornou um nome temido
nas ruas Frank faz um sinal com a cabeça, indicando
a casa. -Está aqui por causa dele?
Sim. Você também? Tava escondido esperando
os abutres aparecerem, não é mesmo?
Exato. Mas, diferente do Vietnã, hoje não
estaremos lado a lado.
É uma pena mesmo, meu velho. Mas sabia que um dia
isso ia acontecer.
Não vou deixar ninguém matar aquela testemunha,
Jacob; ela vai fazer um grande estrago em algumas famiglias...
Eu sei, Frank. Eu sei. E estou aqui pra impedir esses estragos.
Vamos sair do carro?
OK.
Do lado de fora do carro, o ambiente é frio e chuvoso enquanto
ambos ficam frente à frente.
Dê o primeiro golpe. Pelos velhos tempos.
Sério?
Bem aqui Frank aponta para o próprio queixo.
Se você insiste...
Maniac Casey desfere um violento golpe em direção
ao Justiceiro que, em um gesto surpreendente para seu adversário,
desvia o rosto e segura seu braço com força, torcendo
seu pulso até ouvir um estalo.
Arghhhh!!!
Antes que ele possa se recuperar, Frank Castle avança um
passo em direção ao oponente, fazendo um giro de
corpo e aplicando um gancho curto na boca do estômago de
Casey.

O estômago
de Giuliano Tomiatti, ex-contador da Máfia, faz um barulho
e começa a revirar, fazendo-o arrotar; meio sem jeito,
ele resolve pedir desculpas aos dois agentes do FBI que cuidam
de sua segurança como parte do serviço de proteção
às testemunhas.
Não liguem, é meu sistema nervoso. Essa exposição
é novidade pra mim e me dá medo. Nunca fui exatamente
um homem de ação. Sempre fiquei nos bastidores,
dando uma mãozinha na contabilidade.
Tente relaxar, senhor Tomiatti. Quer ler o jornal?
pergunta o agente Oswald.
Com suas mãos trêmulas, Tomiatti aceita, acomodando
desastradamente os óculos de aro fino e armação
ligeiramente torta em seu rosto. Sua constituição
pequena e frágil nem parece ser do homem que está
prestes a fazer desabar duas das maiores família da Máfia
americana: os Berardi e os Milazzo.
Eles não sabem como é simples sorri
o ex-contador, apontando a sua própria fronte. Tudo
é uma questão de saber os números certos
e ter uma boa cabeça.

Maniac Casey
tem sua cabeça jogada contra o vidro do carro, fazendo
saltar estilhaços para todo o lado e causando um sangramento
em abundância em suas têmporas e nos lábios.
Uma estridente gargalhada domina o ambiente, enquanto Casey retira
a cabeça do carro.
Perfeito! Perfeito, Frank! Tá em forma, cara!
O assassino da Máfia recupera-se, tomando uma posição
de guarda e jogando a perna direita pra cima, golpeia com as costas
do seu sapato no rosto do Justiceiro. Uma sucessão de murros
atinge os braços de Frank, que protege seu rosto como um
boxer.
Amigo, não pensaria em nada melhor para celebrar
o nosso reencontro o sangue está prestes a se tornar
uma pasta pegajosa no rosto de Casey. O que acha?
O Justiceiro retoma o fôlego e, tomando distância
dos golpes, mal consegue armar uma reação quando
novamente seu oponente volta com chutes de alto impacto. Com os
dentes trincados, Castle defende-se com um braço e envolve
a perna do oponente com o outro, aplicando uma cotovelada certeira
no rosto de seu parceiro no Vietnã.
A amizade afirma o Justiceiro é mesmo
o maior dos sentimentos.
Um pequeno estilete sai da manga de sua camisa, passa por suas
mãos e vai encontrar abrigo no olho direito de Maniac
Casey. O olho vazado sangra como um riacho, desnorteando o homem
da máfia.

Um pequeno
cisco nos olhos desses arrogantes é o que eu sou. E ninguém
tem idéia de quanto estrago esse cisco pode fazer...
em uma súbita mudança de temperamento, o sr. Tomiatti
comprime as mãos entre as pernas, pensativo e com o rosto
olhando pro chão. Mas confesso que minha coragem
não é tão grande quanto parece. Gostaria
de ter tido as coisas sob as rédeas, de ter dado as cartas
e chantageado os peixes grandes da famiglia. Mas o FBI
não me deu chance.
Senhor Tomiatti, é melhor descansar um pouco
afirma David, o outro agente, preparando uma bebida em sua cafeteira
e oferecendo ao seu parceiro. Deixe a segurança
por nossa conta. Quer café?
Na verdade, acho que vou querer um pouco de sorvete
seus olhos, antes cabisbaixos, retornam para David.
Bem, tem um aqui a calda de morango é de
um vermelho vivo.

Cara, você
é fera! o sangue do mafioso vaza do seu rosto,
enquanto ele grita emocionado.
Eu me esforço, amigão agradece Frank.
Vários golpes são desferidos pelas mãos do
Justiceiro que, aproveitando-se do desnorteamento do amigo, o
pega pela nuca e dá uma joelhada em seu estômago,
finalizando o serviço. A respiração de Maniac
fica difícil, uma das mãos segura a região
d o fígado e a outra se apóia no chão, se
esforçando para olhar com satisfação o executor
de criminosos.
Filho da puta! Você não mudou nada
todos esses anos... Deve ter treinado pra caralho pra manter a
mesma forma do Vietnã... sua respiração
fica difícil. Pena que você não vai
conseguir o que quer...
Perdendo sangue, sua vista começa a ficar turva e, antes
de desmaiar, ele balbucia duas vezes.
O Cavalo de Tróia... O Cavalo de Tróia...
Frank Castle olha para a casa onde está a testemunha e
dá uma forte batida na testa com a mão espalmada.
Merda! pragueja, enquanto começa a
correr.

Merdinha!
É isso que ele é! Um merdinha sem expressão
dando esse trabalho pra todos nós o rosto de David
parecia vermelho de cólera. Em toda minha carreira
no FBI, nunca imaginei que fosse me reduzir a isso.
Por mim, não é nada mal Oswald inclina
a cadeira e coloca os pés sobre a mesa. Que horas
são?
23:45. Por que, Oswald?
Nada.
A arma sobre a mesa possui um silenciador e Oswald a pega, acionando
o gatilho duas vezes e acertando o outro agente do FBI bem em
cheio no coração, que pára de bater na mesma
hora.
Desculpe, amigão ele passa por cima do cadáver.
Andando com cuidado para não fazer barulho, Oswald começa
a relembrar os seus anos servindo de agente duplo para o Bureau
e para a famiglia. Não há, sob nenhuma hipótese,
possibilidade dele continuar a servir a dois senhores depois do
que realizou hoje e do que ainda vai realizar. Depois desse último
e definitivo trabalho, a saída é ir embora da América
com o patrocínio de seus verdadeiros superiores. Chegando
ao final dos lances da escada que dá para o quarto da testemunha,
o homem empunha a arma para baixo.
Sr. Tomiatti, precisamos sair! ele coloca
meio corpo para dentro do quarto. A casa não é
mais segura.
O ambiente está vazio.
Porra! irrita-se o assassino.
Sua perna direita, que havia sido baleada há uma década,
costuma arder quando as coisas não vão bem e é
isso que ocorre agora. O som de uma descarga interrompe seus pensamentos.
Sr. Tomiatti? ele se dirige ao banheiro, a porta
trancada. Precisamos sair daqui! Rápido!
Só um minuto...
Não temos tempo! Oswald gira a maçaneta,
frenético, o suor lhe incomodando.
É um minutinho...
O agente duplo joga o ombro contra a porta, a mão ainda
a pressionar a maçaneta. De repente, a porta se abre.
Senhor Tomi...
Tem gente diz outra voz, mais forte e furiosa.
Castle surge, apontando a Beretta em direção à
cabeça de Oswald, que vai lentamente dando passos para
trás ao sentir o cano frio da arma. O Justiceiro acompanha
os passos do outro, a arma do agente duplo apontada para sua cabeça.
Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo a voz
de Oswald não demonstra hesitação.
John Woo?
Nah... Tarantino o olho de Frank faz a mira com
a arma.
Mas o chinês usou primeiro a perna de Oswald
formiga violentamente.
Nem fodendo. Além do mais, eu odeio Woo o
Justiceiro parece estar tranqüilo, vigiando se o outro puxará
o gatilho, enquanto caminham. Todo filme dele é
igual!
E Tarantino? Você conhece alguma mulher que goste
de Tarantino? O cara é um porco e Cães de Aluguel
não passa de uma ode ao machismo!
Mas eu gostei! Mate-me por causa disso!
Os dois homens, um mirando o outro na cabeça, têm
a boca seca e suam em profusão. A atenção
de Oswald se vai e seu rosto se vira por poucos segundos em direção
à porta principal, de onde vem um impacto ensurdecedor.
A porta se espatifa em vários pedaços com a colisão
do carro de Maniac Casey, que entra com o automóvel
pela casa adentro em meio a gargalhadas inquietantes, seu rosto
uma poça de sangue.
Os poucos segundos de distração são suficientes
para que Castle desarme o outro homem com um chute em sua mão,
impondo seu corpo para a frente ao mesmo tempo que desfecha sucessivas
coronhadas, quebrando-lhe o nariz e alguns dentes. Segurando o
rosto inchado com as mãos, Oswald chora de dor. Atônito,
leva uma última cotovelada no crânio e desmaia.
Por que não o matou? o pequeno senhor Tomiatti,
de pijama, põe apenas a cabeça para fora do banheiro.
Eu faço o que quero, OK? Não interfira. Fique
aí e faça o que você sabe fazer melhor. Ficar
quieto.
Com essas palavras, o Justiceiro desce em desabalada carreira,
seu sobretudo balançando ao vento e a caveira em seu peito
parecendo querer ganhar vida própria. Os anos de trabalho
dentro da famiglia tornaram seu irmão em armas do
Vietnã um verdadeiro alucinado, um homem sem limites. Cabia
a ele, em respeito ao homem que um dia conhecera e que havia lutado
ao seu lado, por um fim a isso.
Pouco antes de se aproximar do veículo, Frank vê
que não há mais ninguém no volante e, em
meio aos destroços da porta de entrada da casa, vai para
fora. Não vê um sinal do assassino da Máfia.
Irritado, dispara um palavrão e um chute no pneu.
Klunnnkk!
A mente do Justiceiro se apaga, seu corpo cai ao lado do carro.
Atrás dele, girando um bastão de baseball, Maniac
Casey abre um sorriso banguela e seu o olho cego pisca repetidas
vezes.

As piscadas dos olhos
do Justiceiro após outro balde de água fria no rosto
são os sinais de que começa a acordar, quatro horas
após o golpe traiçoeiro. Suas mãos estão
amarradas, os pés descalços em meio a uma poça
d'água. Ao seu lado, alguns fios elétricos.
Já era hora, bela adormecida responde Casey.
O que diabos...
A voz de Frank pára quando ele vê o pequeno senhor
Tomiatti sentado colado à parede daquilo que parece ser
um galpão velho. O ex-contador da Máfia tem os olhos
abertos e estáticos, seu pescoço retorcido de forma
bizarra como uma boneca velha e inútil. Morto.
Vou ganhar uma boa grana por isso, cara! ele está
aquecendo uma barra de ferro. Devia se juntar a mim, seríamos
uma grande dupla!
Meu trabalho foi jogado no lixo. Vigiar esse homem me tomou
muito tempo.
Pois é. A vida e a guerra são assim: um dia
se perde, no outro se ganha Casey se vira, seu rosto um
pouco mais limpo do sangue e com um esparadrapo no olho cego.
Mas não fica mal com isso, Frank. Você é
demais, uma verdadeira máquina de guerra lutando. E acho
que ainda tenho muito a aprender com você.
Que reconfortante o rosto entediado do Justiceiro
o olha com desprezo, enquanto movimenta as mãos para tentar
desatar os nós. O que pretende?
Vamos ser parceiros daqui pra frente, cara? Eu racho com
você a missão de hoje!
Não.
Que pena. O que prefere, água ou fogo? ele
mostra o ferro em brasa e a poça de água ao lado
dos fios, prontos para eletrocutá-lo.
Passo. Que diabos você está fungando?
Cocaína. Me deixa forte pra lutar como um touro.
Quer? Vai aliviar um pouquinho a sua dor. Aproveita que é
pelos velhos tempos.
Dê cá!
Com seu insistente sorriso banguela, Maniac Casey aproxima-se
com um pouco do pó na palma da mão, oferecendo-o
ao seu prisioneiro, mas acaba soltando um grito de dor pela repentina
cabeçada que recebe no estômago.
Genial! Você se soltou! alegra-se Maniac,
desferindo uma joelhada nos dentes do Justiceiro.
A seqüência de socos que Frank recebe é suficiente
para jogá-lo ao chão, ao lado do Sr. Tomiatti. Sentindo
cada músculo dolorido e a cabeça ainda latejando
pelo forte impacto do bastão de baseball, o Justiceiro
pensa em se entregar à morte.
"Não tenho mais forças", reflete. "Vou
deixar que acabe logo com isso; resistir é inútil.
Se ao menos eu tivesse uma arma... qualquer coisa serviria...
até mesmo..."
Frank Castle se vira para o lado esquerdo e vê a arma de
que precisa: um martelo com cerca de um metro e meio de altura
logo ao seu alcance, em meio aos entulhos no galpão. Ele
o pega e se levanta.
O primeiro golpe acerta o ar, com o desvio do seu inimigo. O segundo,
porém, é certeiro, achatando o crânio de Maniac
Casey. Enquanto a massa encefálica se enterra fundo em
um algum abismo dentro do mafioso, jatos de sangue espirram nas
roupas do Justiceiro. Ele dá mais um golpe. Outro. E mais
outro.
Porra, eu não queria isso! assusta-se o Justiceiro,
em meio à série de golpes e aos jatos vermelhos.
Vou gastar uma grana preta na tinturaria!
Arfando, assim que encerra a execução, Frank apóia
o queixo sob o martelo, tentando descansar. Seu olhar acaba indo
em direção ao patético e frágil ex-contador
da Máfia, com o corpo amolecido, o pescoço partido
e os olhos esbugalhados. O Justiceiro se aproxima e, com um rápido
movimento dos dedos, fecha seus olhos sem vida.
No próximo número: Um louco incendiário
está a solta na cidade e a polícia não consegue
agarrá-lo. Um caso
perdido? Não se o Justiceiro puder agir.

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