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Justiceiro # 03

Por Dell Freire

Datemi Un Martelo

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Maniac Casey olha com atenção através de um binóculo, tentando captar alguma movimentação na casa, balançando seu proeminente queixo para a esquerda e direita, com seu tique nervoso característico. O homem lá dentro está marcado para morrer e Casey está aqui para fazer o seu serviço da maneira mais rápida e eficaz possível, impedindo que seu testemunho venha à público. Ele não é considerado o melhor entre a elite assassina do crime organizado por acaso.

Mais rápido do que ele possa perceber, um homem vestido com uma roupa e um sobretudo escuro, deixando a figura de uma caveira à mostra sobre o peito, abre a porta do carro e senta-se ao seu lado.

— Frank! — o rosto de Casey deixa transparecer uma enorme surpresa — Céus, é você mesmo!

O imenso homem não se contém e dá um forte abraço em seu velho amigo, recebendo em seguida a retribuição.

— Também é bom te ver, Jacob!

— Ninguém me chama mais assim, Frank...

— Poucos ainda me chamam pelo nome também.

— É. Eu sei — responde Casey, olhando para o outro lado. — Já me falaram muito de sua nova carreira como Justiceiro. Meus chefes dariam uma fortuna por sua cabeça.

— Ainda trabalhando pra famiglia?

— Não tive alternativa. Mais do que ninguém você sabe como um país trata seus filhos depois da guerra: te dão um pé na bunda e mandam correr!

— Com isso, você também se tornou um nome temido nas ruas — Frank faz um sinal com a cabeça, indicando a casa. -Está aqui por causa dele?

— Sim. Você também? Tava escondido esperando os abutres aparecerem, não é mesmo?

— Exato. Mas, diferente do Vietnã, hoje não estaremos lado a lado.

— É uma pena mesmo, meu velho. Mas sabia que um dia isso ia acontecer.

— Não vou deixar ninguém matar aquela testemunha, Jacob; ela vai fazer um grande estrago em algumas famiglias...

— Eu sei, Frank. Eu sei. E estou aqui pra impedir esses estragos. Vamos sair do carro?

— OK.

Do lado de fora do carro, o ambiente é frio e chuvoso enquanto ambos ficam frente à frente.

— Dê o primeiro golpe. Pelos velhos tempos.

— Sério?

— Bem aqui — Frank aponta para o próprio queixo.

— Se você insiste...

Maniac Casey desfere um violento golpe em direção ao Justiceiro que, em um gesto surpreendente para seu adversário, desvia o rosto e segura seu braço com força, torcendo seu pulso até ouvir um estalo.

— Arghhhh!!!

Antes que ele possa se recuperar, Frank Castle avança um passo em direção ao oponente, fazendo um giro de corpo e aplicando um gancho curto na boca do estômago de Casey.

O estômago de Giuliano Tomiatti, ex-contador da Máfia, faz um barulho e começa a revirar, fazendo-o arrotar; meio sem jeito, ele resolve pedir desculpas aos dois agentes do FBI que cuidam de sua segurança como parte do serviço de proteção às testemunhas.

— Não liguem, é meu sistema nervoso. Essa exposição é novidade pra mim e me dá medo. Nunca fui exatamente um homem de ação. Sempre fiquei nos bastidores, dando uma mãozinha na contabilidade.

— Tente relaxar, senhor Tomiatti. Quer ler o jornal? — pergunta o agente Oswald.

Com suas mãos trêmulas, Tomiatti aceita, acomodando desastradamente os óculos de aro fino e armação ligeiramente torta em seu rosto. Sua constituição pequena e frágil nem parece ser do homem que está prestes a fazer desabar duas das maiores família da Máfia americana: os Berardi e os Milazzo.

— Eles não sabem como é simples — sorri o ex-contador, apontando a sua própria fronte. — Tudo é uma questão de saber os números certos e ter uma boa cabeça.

Maniac Casey tem sua cabeça jogada contra o vidro do carro, fazendo saltar estilhaços para todo o lado e causando um sangramento em abundância em suas têmporas e nos lábios. Uma estridente gargalhada domina o ambiente, enquanto Casey retira a cabeça do carro.

— Perfeito! Perfeito, Frank! Tá em forma, cara!

O assassino da Máfia recupera-se, tomando uma posição de guarda e jogando a perna direita pra cima, golpeia com as costas do seu sapato no rosto do Justiceiro. Uma sucessão de murros atinge os braços de Frank, que protege seu rosto como um boxer.

— Amigo, não pensaria em nada melhor para celebrar o nosso reencontro — o sangue está prestes a se tornar uma pasta pegajosa no rosto de Casey. — O que acha?

O Justiceiro retoma o fôlego e, tomando distância dos golpes, mal consegue armar uma reação quando novamente seu oponente volta com chutes de alto impacto. Com os dentes trincados, Castle defende-se com um braço e envolve a perna do oponente com o outro, aplicando uma cotovelada certeira no rosto de seu parceiro no Vietnã.

— A amizade — afirma o Justiceiro — é mesmo o maior dos sentimentos.

Um pequeno estilete sai da manga de sua camisa, passa por suas mãos e vai encontrar abrigo no olho direito de Maniac Casey. O olho vazado sangra como um riacho, desnorteando o homem da máfia.

— Um pequeno cisco nos olhos desses arrogantes é o que eu sou. E ninguém tem idéia de quanto estrago esse cisco pode fazer...— em uma súbita mudança de temperamento, o sr. Tomiatti comprime as mãos entre as pernas, pensativo e com o rosto olhando pro chão. — Mas confesso que minha coragem não é tão grande quanto parece. Gostaria de ter tido as coisas sob as rédeas, de ter dado as cartas e chantageado os peixes grandes da famiglia. Mas o FBI não me deu chance.

— Senhor Tomiatti, é melhor descansar um pouco — afirma David, o outro agente, preparando uma bebida em sua cafeteira e oferecendo ao seu parceiro. — Deixe a segurança por nossa conta. Quer café?

— Na verdade, acho que vou querer um pouco de sorvete — seus olhos, antes cabisbaixos, retornam para David.

— Bem, tem um aqui — a calda de morango é de um vermelho vivo.

— Cara, você é fera! — o sangue do mafioso vaza do seu rosto, enquanto ele grita emocionado.

— Eu me esforço, amigão — agradece Frank.

Vários golpes são desferidos pelas mãos do Justiceiro que, aproveitando-se do desnorteamento do amigo, o pega pela nuca e dá uma joelhada em seu estômago, finalizando o serviço. A respiração de Maniac fica difícil, uma das mãos segura a região d o fígado e a outra se apóia no chão, se esforçando para olhar com satisfação o executor de criminosos.

— Filho da puta! Você não mudou nada todos esses anos... Deve ter treinado pra caralho pra manter a mesma forma do Vietnã... — sua respiração fica difícil. — Pena que você não vai conseguir o que quer...

Perdendo sangue, sua vista começa a ficar turva e, antes de desmaiar, ele balbucia duas vezes.

— O Cavalo de Tróia... O Cavalo de Tróia...

Frank Castle olha para a casa onde está a testemunha e dá uma forte batida na testa com a mão espalmada.

— Merda! — pragueja, enquanto começa a correr.

— Merdinha! É isso que ele é! Um merdinha sem expressão dando esse trabalho pra todos nós — o rosto de David parecia vermelho de cólera. — Em toda minha carreira no FBI, nunca imaginei que fosse me reduzir a isso.

— Por mim, não é nada mal — Oswald inclina a cadeira e coloca os pés sobre a mesa. — Que horas são?

— 23:45. Por que, Oswald?

— Nada.

A arma sobre a mesa possui um silenciador e Oswald a pega, acionando o gatilho duas vezes e acertando o outro agente do FBI bem em cheio no coração, que pára de bater na mesma hora.

— Desculpe, amigão — ele passa por cima do cadáver.

Andando com cuidado para não fazer barulho, Oswald começa a relembrar os seus anos servindo de agente duplo para o Bureau e para a famiglia. Não há, sob nenhuma hipótese, possibilidade dele continuar a servir a dois senhores depois do que realizou hoje e do que ainda vai realizar. Depois desse último e definitivo trabalho, a saída é ir embora da América com o patrocínio de seus verdadeiros superiores. Chegando ao final dos lances da escada que dá para o quarto da testemunha, o homem empunha a arma para baixo.

— Sr. Tomiatti, precisamos sair! — ele coloca meio corpo para dentro do quarto. — A casa não é mais segura.

O ambiente está vazio.

— Porra! — irrita-se o assassino.

Sua perna direita, que havia sido baleada há uma década, costuma arder quando as coisas não vão bem e é isso que ocorre agora. O som de uma descarga interrompe seus pensamentos.

— Sr. Tomiatti? — ele se dirige ao banheiro, a porta trancada. — Precisamos sair daqui! Rápido!

— Só um minuto...

— Não temos tempo! — Oswald gira a maçaneta, frenético, o suor lhe incomodando.

— É um minutinho...

O agente duplo joga o ombro contra a porta, a mão ainda a pressionar a maçaneta. De repente, a porta se abre.

— Senhor Tomi...

— Tem gente — diz outra voz, mais forte e furiosa.

Castle surge, apontando a Beretta em direção à cabeça de Oswald, que vai lentamente dando passos para trás ao sentir o cano frio da arma. O Justiceiro acompanha os passos do outro, a arma do agente duplo apontada para sua cabeça.

— Nunca pensei que isso fosse acontecer comigo — a voz de Oswald não demonstra hesitação. — John Woo?

— Nah... Tarantino — o olho de Frank faz a mira com a arma.

— Mas o chinês usou primeiro — a perna de Oswald formiga violentamente.

— Nem fodendo. Além do mais, eu odeio Woo — o Justiceiro parece estar tranqüilo, vigiando se o outro puxará o gatilho, enquanto caminham. — Todo filme dele é igual!

— E Tarantino? Você conhece alguma mulher que goste de Tarantino? O cara é um porco e Cães de Aluguel não passa de uma ode ao machismo!

— Mas eu gostei! Mate-me por causa disso!

Os dois homens, um mirando o outro na cabeça, têm a boca seca e suam em profusão. A atenção de Oswald se vai e seu rosto se vira por poucos segundos em direção à porta principal, de onde vem um impacto ensurdecedor.

A porta se espatifa em vários pedaços com a colisão do carro de Maniac Casey, que entra com o automóvel pela casa adentro em meio a gargalhadas inquietantes, seu rosto uma poça de sangue.

Os poucos segundos de distração são suficientes para que Castle desarme o outro homem com um chute em sua mão, impondo seu corpo para a frente ao mesmo tempo que desfecha sucessivas coronhadas, quebrando-lhe o nariz e alguns dentes. Segurando o rosto inchado com as mãos, Oswald chora de dor. Atônito, leva uma última cotovelada no crânio e desmaia.

— Por que não o matou? — o pequeno senhor Tomiatti, de pijama, põe apenas a cabeça para fora do banheiro.

— Eu faço o que quero, OK? Não interfira. Fique aí e faça o que você sabe fazer melhor. Ficar quieto.

Com essas palavras, o Justiceiro desce em desabalada carreira, seu sobretudo balançando ao vento e a caveira em seu peito parecendo querer ganhar vida própria. Os anos de trabalho dentro da famiglia tornaram seu irmão em armas do Vietnã um verdadeiro alucinado, um homem sem limites. Cabia a ele, em respeito ao homem que um dia conhecera e que havia lutado ao seu lado, por um fim a isso.

Pouco antes de se aproximar do veículo, Frank vê que não há mais ninguém no volante e, em meio aos destroços da porta de entrada da casa, vai para fora. Não vê um sinal do assassino da Máfia. Irritado, dispara um palavrão e um chute no pneu.

Klunnnkk!

A mente do Justiceiro se apaga, seu corpo cai ao lado do carro. Atrás dele, girando um bastão de baseball, Maniac Casey abre um sorriso banguela e seu o olho cego pisca repetidas vezes.

As piscadas dos olhos do Justiceiro após outro balde de água fria no rosto são os sinais de que começa a acordar, quatro horas após o golpe traiçoeiro. Suas mãos estão amarradas, os pés descalços em meio a uma poça d'água. Ao seu lado, alguns fios elétricos.

— Já era hora, bela adormecida — responde Casey.

— O que diabos...

A voz de Frank pára quando ele vê o pequeno senhor Tomiatti sentado colado à parede daquilo que parece ser um galpão velho. O ex-contador da Máfia tem os olhos abertos e estáticos, seu pescoço retorcido de forma bizarra como uma boneca velha e inútil. Morto.

— Vou ganhar uma boa grana por isso, cara! — ele está aquecendo uma barra de ferro. — Devia se juntar a mim, seríamos uma grande dupla!

— Meu trabalho foi jogado no lixo. Vigiar esse homem me tomou muito tempo.

— Pois é. A vida e a guerra são assim: um dia se perde, no outro se ganha — Casey se vira, seu rosto um pouco mais limpo do sangue e com um esparadrapo no olho cego. — Mas não fica mal com isso, Frank. Você é demais, uma verdadeira máquina de guerra lutando. E acho que ainda tenho muito a aprender com você.

— Que reconfortante — o rosto entediado do Justiceiro o olha com desprezo, enquanto movimenta as mãos para tentar desatar os nós. — O que pretende?

— Vamos ser parceiros daqui pra frente, cara? Eu racho com você a missão de hoje!

— Não.

— Que pena. O que prefere, água ou fogo? — ele mostra o ferro em brasa e a poça de água ao lado dos fios, prontos para eletrocutá-lo.

— Passo. Que diabos você está fungando?

— Cocaína. Me deixa forte pra lutar como um touro. Quer? Vai aliviar um pouquinho a sua dor. Aproveita que é pelos velhos tempos.

— Dê cá!

Com seu insistente sorriso banguela, Maniac Casey aproxima-se com um pouco do pó na palma da mão, oferecendo-o ao seu prisioneiro, mas acaba soltando um grito de dor pela repentina cabeçada que recebe no estômago.

— Genial! Você se soltou! — alegra-se Maniac, desferindo uma joelhada nos dentes do Justiceiro.

A seqüência de socos que Frank recebe é suficiente para jogá-lo ao chão, ao lado do Sr. Tomiatti. Sentindo cada músculo dolorido e a cabeça ainda latejando pelo forte impacto do bastão de baseball, o Justiceiro pensa em se entregar à morte.

"Não tenho mais forças", reflete. "Vou deixar que acabe logo com isso; resistir é inútil. Se ao menos eu tivesse uma arma... qualquer coisa serviria... até mesmo..."

Frank Castle se vira para o lado esquerdo e vê a arma de que precisa: um martelo com cerca de um metro e meio de altura logo ao seu alcance, em meio aos entulhos no galpão. Ele o pega e se levanta.

O primeiro golpe acerta o ar, com o desvio do seu inimigo. O segundo, porém, é certeiro, achatando o crânio de Maniac Casey. Enquanto a massa encefálica se enterra fundo em um algum abismo dentro do mafioso, jatos de sangue espirram nas roupas do Justiceiro. Ele dá mais um golpe. Outro. E mais outro.

— Porra, eu não queria isso! — assusta-se o Justiceiro, em meio à série de golpes e aos jatos vermelhos. — Vou gastar uma grana preta na tinturaria!

Arfando, assim que encerra a execução, Frank apóia o queixo sob o martelo, tentando descansar. Seu olhar acaba indo em direção ao patético e frágil ex-contador da Máfia, com o corpo amolecido, o pescoço partido e os olhos esbugalhados. O Justiceiro se aproxima e, com um rápido movimento dos dedos, fecha seus olhos sem vida.

No próximo número: Um louco incendiário está a solta na cidade e a polícia não consegue agarrá-lo. Um
caso perdido? Não se o Justiceiro puder agir.



 
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