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Justiceiro # 04

Por Dell Freire

“Há cinco maneiras de atacar com fogo. A primeira é queimar os soldados em seus acampamentos; a segunda é queimar armazéns; a terceira é queimar comboios de mantimentos; a quarta é queimar arsenais e paióis; a quinta é lançar fogo continuamente, sobre o inimigo”
Sun Tzu — A Arte da Guerra — 500 A.C.

Pode Vir Quente Que Eu Estou Fervendo

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O sol está a pino, enquanto a fumaça que permeia o prédio começa a aumentar; no rádio da polícia, um homem fala com agitação, enquanto o corpo de bombeiros chega.

— Porra, cara! É o terceiro caso! Isso só pode ser premeditado! — o delegado Keith Sutcliff olha para o alto do prédio, em chamas — Entraram em contato com Gotham? Sim? Certeza? Então é mesmo...

O delegado dá um salto para trás quando o impacto de um corpo com quase dois metros amassa seu carro; atônito, Sutcliff vê o corpo de um homem fantasiado como um vaga-lume gigante tomar novo impulso, se afastar do carro e retomar o seu vôo.

Os segundos que o oficial leva para sacar a arma e apontar para o criminoso oferecem permissão para que o vilão conhecido pelas ruas de Gotham City como o Vaga-lume saia com tranqüilidade em direção aos céus, se afastando e fazendo com que as balas de Sutcliff não tenham o mínimo de efeito.

— Filho da puta!

O homem é novamente pego pela surpresa quando ouve gritos no interior do prédio; as vozes são reconhecidas por ele como sendo de seus companheiros de farda. Quando se prepara para entrar no prédio, um violento soco quase o nocauteia, jogando-o para trás.

"Céus, outro maluco fantasiado" espanta-se Sutcliff, massageando o maxilar e indo para cima de seu adversário; aparentemente, o homem com a caveira no peito contém seus movimentos, parecendo não querer agredí-lo mortalmente.

O delegado, por outro lado, não contém sua força, tentando aplicar uma seqüência de golpes no rosto do seu adversário, que se esquiva como pode. No quinto soco do adversário que atinge o ar, o homem de preto aproveita e fecha a mão com violência, acertando em cheio o queixo do policial.

No chão, o oficial da polícia de Nova York sente a bota do Justiceiro pressionar sua garganta.

— Não fique no meu caminho. — adverte Frank Castle — Da próxima vez posso não ter a mesma paciência.

— Você... está... obstruindo a... lei!

— Impossível. Eu sou a lei!

"Uma legião de salamandras! (*) Doce e lindas salamandras dançam para meu deleite! Só a elas posso oferecer o meu amor." — o vôo do Vaga-lume é tranqüilo, o céu não oferece resistência para suas manobras e a ausência total de helicópteros da polícia lhe empresta bastante liberdade.

— Podem falar! — o Vaga-lume fala em alto e bom som, tentando se comunicar com suas amigas imaginárias — Não, não é nenhum grande favor! Lhes concederei mais esse desejo! O que não faço para ter o amor de vocês, minhas queridas? Crianças? Doces e tenras crianças? Por que não?

Com um movimento rápido, o alucinado amante do fogo e das salamandras se redireciona para o norte; em direção a uma escola.

Jellinek dirige com extrema velocidade, a sirene em cima de seu carro pedindo passagem para pedestres e carros que empesteiam as noites frias e geladas de Nova York; as outras viaturas, logo atrás, se esforçam para seguir o ímpeto de Jellinek. No banco ao lado, o jovem delegado Sutcliff parece tentar acordar de um pesadelo.

— Por que ninguém ainda deu um fim a esse Justiceiro?

— É novo mesmo na cidade, Keith? — uma dupla de belas prostitutas acena para Jellinek, que abre um largo sorriso — Puta... Frank Castle é como uma puta.

— Quê?

— Não imagine que mundo seria esse sem as putas, Keith. Nova York seria pior que Sodoma e Gomorra. Perversão sexual absoluta. A sociedade precisa jogar sua perversidade no esgoto; a sociedade quer e admite que as prostitutas vivam entre nós.

— Céus, Jellinek! Já lhe avisei para não beber em serviço! Você só fala merda!

— Nós somos as virtuosas. De pernas atadas, não podemos fazer nada. Não podemos punir quem merece. O que fazemos? Quando surge uma puta como o Justiceiro, não temos coragem de repreendê-lo. Por quê? Porque gostaríamos de estar ao seu lado, Keith.

— Ainda sobrou alguma gota?

— Aqui! — ao lado dos pedais, uma garrafa de whisky — Beba um pouco!

— Eu vou ser demitido.

— Esqueça, garoto. Esse emprego de merda não vale a pena.

— A central avisou que o Vaga-lume não se encontra mais em Gotham e, pelo que eu pude ver daquele demônio fantasiado que Castle jogou sobre meu carro, só pode ser ele.

— Bingo!

— Pare de debochar! Esse lunático já incendiou uma igreja, um banco e um prédio! A polícia toda quer deter esse filho da puta!

O velho policial Jellinek começa a gargalhar, seus bigodes tremendo de agitação.

— Do que você tanto ri, bode velho? — Sutcliff ainda sente um pouco de dor quando fala.

— Nova York é a "grande maçã"! — a gargalhada é sonora, perturbando ainda mais o jovem delegado — A "grande vulva" avermelhada se incendiando toda!

Rangendo os dentes de excitação, o Vaga-lume pousa diante da escola que escolheu para ser alvo de sua loucura. "Enquanto as vontades de minhas doces concubinas não forem atendidas, não poderei dormir em paz."

— Vejam, gentis salamandras! Vejam como posso corresponder à altura o seu amor!

Sua voz torna-se mais intensa e fervorosa debaixo da máscara enquanto o fogo começa a se alastrar pela escola; os olhos fascinados começam a enxergar o vermelho do fogo, que aos poucos vai dominando o ambiente, tomando a forma de uma justiça distorcida, uma justiça que oferece segurança de que nada irá lhe afetar ou atingir.

Uma sinistra e sonora gargalhada invade o ambiente; ele adoraria que seus desafetos do Asilo Arkham pudessem ver a sua vitória.

— Porra! Não! Não é por ali!

As mãos do delegado Sutcliff começam a suar cada vez mais enquanto vê seu parceiro Jellinek transitando pelas ruas como um louco e dirigindo para o sentido contrário às suas ordens.

— Você ouviu a central, Keith! — os olhos de Jellinek estão acesos e vermelhos pelo álcool — As vizinhanças dizem que a Austin O. Spare High School está com um princípio de incêndio.

— Mas essa não é a direção que o Vaga-lume tomou quando abandonou o prédio! — o delegado agita-se mais ainda — Além do mais, essa escola é próxima ao primeiro alvo dele, a igreja incendiada! Não faz sentido!

— Exatamente! E meus anos de experiência dizem que o que não faz sentido tem mais probabilidade de acontecer!

Frank Castle aponta o seu rifle de precisão Robar SR60.308, apto para atingir longas distâncias, com a habilidade do franco-atirador extraordinário que é, para a cabeça do Vaga-lume. Enquanto lutavam no alto do prédio, o Justiceiro implantou um pequeno sinalizador nas roupas do incendiário, fazendo com que estivesse ciente dos passos de seu adversário.

Agora, diante da possibilidade de eliminar o seu inimigo em poucos segundos, Frank recua, abaixando a arma.

— Não. — ele fala para si — Ele não vai morrer dessa forma. Ele precisa sofrer.

Deixando sua arma de lado, Frank começa a descer do terraço do prédio abandonado onde está escondido; em sua sanha assassina, o lunático amante do fogo parece não se importar com o fato de que há várias crianças correndo risco de vida. "Ou, o que é pior, é exatamente isso o que ele deseja" — analisa o Justiceiro, enquanto desce as escadas em desabalada carreira.

Com o tempo adequadamente seco, a lua propícia e tomando o cuidado para estar a favor do vento, o Vaga-lume aumenta a intensidade de seu estrago; a movimentação no interior da Spare High School começa de forma desordenada. Alguns professores e funcionários saem, com a completa indiferença do criminoso, que permanece atento ao seu trabalho.

— Dancem, pequenas salamandras! Dancem em direção ao sul, pois é lá que está o verdadeiro tesouro!

Um pequeno conjunto de carros da polícia surge, cercando a área; o Vaga-lume alça vôo, mas sem se distanciar de sua obra. A visão daquele imenso homem pairando sobre a escola perturba e desconcentra alguns policiais, que só começam a agir após a voz de comando de Keith Sutcliff.

— Entrem! Retirem todos que forem possíveis lá de dentro!

— Veja! — Jellinek aponta para a chegada de um outro homem — Acho que teremos ajuda.

— Não se mexa! — sacando a arma, o delegado dá voz de prisão ao Justiceiro — Você está preso!

Olhando nos olhos de Sutcliff, Frank o desarma e, com um rápido movimento das pernas, o joga no chão.

— Podemos continuar com isso a noite toda e deixar esse animal vencer... ou podemos fazer um acordo.

— Conte comigo. — Jellinek intervém, fazendo calar o inexperiente oficial — Qual é o plano?

— O plano? Não há plano. — o Justiceiro saca sua Beretta mais rapidamente que os dois podem acompanhar e desfere quatro tiros, um em cada membro de Vaga-lume.

Caindo como uma espiral, tentando bater as asas para fugir para bem longe, o maníaco grita de dor e desespero até chegar ao chão.

— Apenas deixem-no comigo.

— Você terá uma morte lenta e dolorosa. — a expressão de Frank é tranqüila.

O Vaga-lume está amarrado, o uniforme ainda no corpo, o cheiro de sangue, suor e urina invadindo as suas narinas. Em sua boca, uma fita adesiva lhe deixa mudo.

De costas para o seu adversário ferido e humilhado, que agoniza no chão do mesmo prédio abandonado em que fazia mira alguns minutos antes, o Justiceiro começa a preparar seus dois apetrechos.

— Mas acho que você vai gostar. Mesmo que não seja a minha especialidade, conheço um pouquinho do fogo e suas conseqüências.

Ao fundo, o som gutural e assustador da banda latina de death metal Brujería permite a concentração necessária que esse trabalho necessita.

— Se eu fizer a carbonização adequada, você vai se transformar num excelente boxeador (**). Um pequeno e frágil boxeador, é verdade (***). — Frank se vira, sorrindo largamente, e empunhando um lança-chamas aceso — Mas, inferno, porque diabos existem os pesos-penas?

:: Notas do Autor

(*) As salamandras são elementais do fogo, e suas guardiãs.

(**) Na carbonização, o cadáver pode adquirir a posição conhecida como "atitude de boxeador". Os antebraços do morto se flexionam levemente sobre os braços e são trazidos para a frente do tórax, ao mesmo tempo que as mãos se fecham. E as pernas afastam-se, flexionando ao nível do joelho.

(***) Com a desidratação decorrente da queimadura violenta, o cadáver apresenta redução de peso e volume; há momentos em que a cabeça de um adulto pode chegar ao mesmo tamanho de uma criança de 8 anos.



 
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