|
|
Por
Fernando Lopes
New
York, New York
É sempre
assim?
O trânsito? responde o taxista, com forte sotaque brasileiro
Todo dia, mas hoje tá pior. Deve ter alguma encrenca
lá pros lados da 5ª Avenida.
Como você sabe?
Sempre tem. o taxista dá um sorriso Afinal, isto
é Nova Iorque.
Vic Sage recosta-se, contrariado, no banco traseiro do táxi.
Nos últimos 25 minutos, o carro não andou mais do
que duas quadras. O motorista um tal de Dell, segundo
a ficha de identificação no interior do táxi
tenta puxar assunto.
Primeira vez na cidade?
Não. Mas bem que podia ser a última.
Hehe... Veio a trabalho?
E existe algum outro motivo para se vir aqui?
Ah, deixa disso. Não é tão mal assim...
Com o tempo a gente se acostuma. Vindo de onde?
Hub City.
Hub? E ainda tá reclamando? sorri o taxista, ironicamente.
Touché. responde Vic, também sorrindo.
Quer ouvir um pouco de música?
O motorista liga o rádio, mas não é música
que os dois homens ouvem.
"... devem evitar a região da 5ª Avenida,
onde o Quarteto Fantástico enfrenta..."
Não falei? pergunta o taxista, com ar de quem conhece
a fundo a cidade Sabia que tinha alguma encrenca pr'aqueles
lados.
É... Sage pensa por alguns instantes. Vou ficar por
aqui mesmo. Faço o resto do caminho a pé.
Você é quem manda. São US$ 18,95.
"Nova Iorque...", pensa Vic, enquanto caminha pela rua.
"Capital mundial do spandex. Há mais meta-humanos
por metro quadrado nesse lugar do que em qualquer lugar do mundo.
Boa parte dos chamados 'super-heróis' têm sua base
de operações aqui. Mesmo assim ou talvez por isso
mesmo tem sempre algum idiota fantasiado tentando arranjar confusão.
Típica idiotice que eu nunca vou entender."
O repórter atravessa a rua com calma, contrastando com
os apressados nova-iorquinos, eternamente atrasados.
"Nesse ponto, sou mais Hub City. Pelo menos não temos
malucos com a cueca por fora da calças se estapeando em
pleno centro. Acho que o tipo de lixo que temos por lá
não tem glamour o suficiente para atrair esses caras."
Sage pára diante de uma banca de jornais e vê na
primeira do Clarim Diário a notícia sobre a batalha
entre o Homem-Aranha e o Abutre, ao lado de um editorial furioso
pedindo a prisão do herói aracnídeo.*
"Homem-Aranha. Onde mais se poderia ver um sujeito de pijama
azul e vermelho quebrando o pau com um velho decrépito
num uniforme verde? Só mesmo em Nova Iorque. Há
fantasiados para todos os gostos. Desde os oficiais, como o Quarteto
Fantástico, aos renegados, como os X-Men, passando por
moleques superpoderosos como os Titãs e os Novos Guerreiros,
vigilantes solitários como o Demolidor e malucos homicidas,
como Frank Castle, o tal Justiceiro. Sem falar nos menos cotados".
Caminhando distraidamente, Sage vê um vagabundo roubar a
bolsa de uma mulher uns 35 metros à sua frente. Enquanto
a vítima começa a gritar, o marginal corre na direção
do repórter, que continua andando calmamente. As pessoas
se afastam para dar passagem ao bandido, alheias aos apelos da
desesperados. A corrida, porém, é subitamente interrompida
por Sage, que desfere um golpe circular com a lateral interna
da mão no nariz do bandido. O impacto tira o homem do chão
por um momento, fazendo-o desabar pesadamente em seguida, desacordado.
O repórter então se abaixa sem pressa, pega a bolsa
e entrega à mulher, que se desmancha em agradecimentos.
Sem prestar muita atenção, Vic se despede e continua
seu caminho.
"Algumas pessoas me acham um herói", filosofa,
tocando involuntariamente na fivela do cinto que esconde a máscara
de seu alter-ego, o Questão. "Que bobagem. Sou só
um curioso. Como foi que o Batman me definiu daquela vez, mesmo?
'Um idiota dando chutes fingindo combater a corrupção'.
Hehehe. Bem, pelo menos eu não me visto como um rato com
asas."
Na vitrine de uma grande magazine, os televisores mostram Trish
Tilby "tremenda gata", pensa Vic, "será
que vai estar na coletiva?" falando sobre o recente incidente
entre os Vingadores e a IMA.** "A imprensa caiu de pau nos
coitados, que marcaram uma coletiva para hoje. Só assim
para me forçarem a vir para este antro de malucos. De que
adianta salvar o mundo trocentas vezes se ninguém te dá
uma folguinha? Só porque morreram 20? E na Rússia,
onde o tal Savage explodiu uma cidade inteira? Mais de um milhão
de pessoas de uma vez! Mas, como eles são russos, quem
liga? Quem liga? Putz, que trocadilho infame!"
Próximo a 5ª Avenida, um cordão de isolamento
afasta os curiosos. À distância, os sons da batalha
entre o Quarteto e quem quer que seja e afinal, quem se importa?
mostram que as coisas estão quentes. Os policiais, visivelmente
irritados, pedem às pessoas que se afastem.
Fiquem atrás da linha, porra! grita o guarda Tão
querendo levar um carro na cabeça?
"Só em Nova Iorque uma frase assim faria sentido...",
pensa Sage. Nem bem conclui o pensamento, um cometa alaranjado
passa a cinco metros do chão, caindo com estrépito
sobre um carro estacionado. A multidão, que até
então tentava ver um pouco de ação, começa
a gritar e a correr. O repórter sai do caminho, abrindo
passagem para o furioso Coisa.
Tá na hora do pau! grita Benjamin Grimm, visivelmente
furioso.
"Será que alguém já disse a ele que
esse grito de guerra, fora do contexto, é extremamente
comprometedor?" Sage vê o Coisa levantar um carro acima
da cabeça e arremessá-lo a vários metros
de distância. "Hmm... Acho que não."
Deixando o local, o repórter segue pelas ruas em direção
à Mansão dos Vingadores. Sua mente continua a divagar.
"Trânsito insano, aluguéis caros, seguros altíssimos
e um bando de marmanjos de colante trocando tabefes e destruindo
a cidade", pondera Sage, chegando finalmente ao seu destino.
"Por que diabos alguém ia querer morar num lugar assim?"
Com licença. Você não é Vic Sage?
Sim. E você é Trish Tilby, certo? Como sabe meu
nome?
Estive em Hub City há alguns meses e vi uma de suas reportagens.
Fiquei muito impressionada.
Obrigado. Também vi algumas de suas matérias.
mente Sage Grande material.
Obrigado. Veio para a coletiva?
Sim. O pessoal da equipe local deve estar chegando logo. Vamos
transmitir ao vivo.
E você volta para Hub City hoje mesmo?
Sage olha para a bela repórter antes de responder.
Só se eu não conseguir.
A entrevista?
Não. Levá-la para jantar.
Surpresa, Trish ruboriza.
Bem, eu... Está bem. Será um prazer.
"Talvez esta cidade não seja tão ruim, afinal",
pensa Sage.
:: Notas
do Autor
* Conforme visto em Homem-Aranha
# 08.
** Como foi mostrado em Vingadores # 01.
Bem, esta história
encerra, ao menos temporariamente, minha passagem à
frente das aventuras do vingador sem rosto de Hub City. Gostaria
de agradecer a todos os que acompanharam e prestigiaram meu
trabalho ao longo destas 12 edições. Espero
que tenham se divertindo lendo tanto quanto eu me diverti
ao escrever. E aproveito para convidá-los a continuarem
acompanhando as aventuras do Questão, agora pelas talentosas
mãos do César Rocha Leal, que faz sua estréia
no Hyperfan. Sei que deixo nosso herói sob a responsabilidade
de alguém que curte tanto o personagem quanto eu. Mas
isto não é um adeus. É mais um até
breve. Afinal, ainda há muitas questões a serem
respondidas. Um grande abraço.
Fernando
Lopes
|
 |