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Vingadores # 09

Por Dell Freire

Arjuna, o Guerreiro — Parte I

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Madrugada de domingo — 01:45 — porto de Nova York

Quando os catorze torpedos são lançados, os homens que os cavalgam não apresentam nenhum tipo de temor ou mesmo hesitação. Seus rostos, por detrás de suas vestimentas escuras de borracha, parecem apenas buscar algum tipo de serenidade, como se estivessem prestes a ir ao encontro de seus mais desejados sonhos.

Em forma de charuto e medindo aproximadamente sete metros cada, os torpedos se dirigem ao porto de Nova York. Seus pilotos receberam ordens expressas para, uma vez junto aos alvos, destacarem a cabeça explosiva do torpedo e a fixarem no casco do navio. A partir disso, poderiam tomar distância, acionando um dispositivo de retardamento que lhes daria tempo para escapar antes que o detonador fizesse explodir a carga principal. (*)

Com extrema desenvoltura debaixo d'água, os catorze elementos agem rapidamente, seguindo as ordens estabelecidas. Dois pares de mergulhadores se dirigem para cada um dos sete navios ancorados no porto, sendo dois deles os mais expressivos para a marinha norte-americana.

Imediatamente após acoplarem os explosivos, partem para retornar para a base móvel, a nave-mãe, que os acolhe como verdadeiros cavalos-marinhos, abrindo sua imensa bocarra em pleno mar.

Segue-se uma sucessão de explosões violentas, navios comerciais e de guerra afundam de forma surpreendente. No cais, algumas pessoas assistem ao ataque de forma atônita, outras são atingidas por destroços e há aqueles que nem ao menos conseguem se mexer.

Cerca de meia hora depois da bem sucedida operação, o guerreiro Arjuna (**) em pessoa recebe um a um seus homens assim que chegam. O rosto embevecido de seus soldados deixa transparecer o respeito que seu líder impõe. Logo atrás, o conselheiro Lagos o chama para uma rápida conversa.

— Senhor, sabe bem que o que esse ataque significa?

— Lagos, meu amigo, lembre-se do belo relato de Tucídides, filósofo e historiador ateniense, que tanto causa espanto nos dias de hoje ao descrever a eficiência de um ataque a Siracusa. Os atenienses já usavam mergulhadores para destruir as defesas de madeira que impediam a entrada no porto. — Arjuna entusiasma-se — Não há hipótese de prosseguirmos com o plano que tenho em mente sem ousadia, sem mexer no ninho da grande Águia que ronda os povos de todo o mundo. Caso resolvam tomar alguma atitude diante de minhas ações, as conseqüências serão piores ainda para os Estados Unidos; minha luta não será uma sucessão de fracassos como o lamentável ataque à Estátua da Liberdade (***).

— Em respeito ao senhor, os responsáveis pelo ocorrido sacrificaram suas vidas.

— Que suas famílias recebam meus cuidados e minhas honras.

Arjuna, envolto em sua armadura e seu elmo de guerra que impede seus subordinados de verem com clareza seu semblante, dirige-se para o salão principal de sua nave-mãe, onde vários telões monitoram jornais do mundo todo, algumas maquetes retratam o litoral de Nova York e, no centro de tudo, um mapa eletrônico enfoca o movimento de tropas marítimas em direção ao que Arjuna deseja conquistar em sua guerra.

— Poseidonis será minha, custe o que custar; e se Arthur Curry, o Aquaman, se opuser a isso, sua cabeça servirá de ornamento para meus aposentos.

Madrugada de domingo — 01:35 — mansão dos Vingadores

— Em hipótese alguma farei isso! — a pele de Henry Peter Gyrich começa a ficar tão vermelha de raiva quanto seu cabelo — Mercúrio cavou sua própria sepultura; não vamos tentar desenterrar mortos.

— Cada vingador tem sua dívida com Pietro, Henry. — Steve Rogers começa a demonstrar sinais de cansaço com mais essa discussão — Contrate um advogado e tome as providências necessárias para iniciar um tratamento do homem.

— Quem diabos teria...?

— Tente Matt Murdock. Tente Doc Samson como psiquiatra. — o Capitão América joga-se na poltrona, exausto — Mas, por favor, resolva isso. Estamos ou não estamos do mesmo lado, afinal de contas?

Por detrás dos óculos escuros, Gyrich também demonstra um certo cansaço depois de horas e horas com uma reunião envolvendo a equipe com relação a série de eventos envolvendo os Vingadores recentemente, como a recente invasão à mansão; o cansaço se torna um fator determinante para atender o pedido de Rogers e encerrar a discussão.

— Muito bem. Farei o que me pede. Mas saiba que minha equipe de marketing ficará atenta a cada detalhe com relação ao "caso Mercúrio"; se qualquer, mas qualquer possibilidade disso vir a sujar a imagem da equipe, eu irei retirar qualquer tipo de ajuda a Pietro.

Após a saída de Gyrich, Rogers olha para os lados e finalmente consegue respirar mais tranqüilamente. Os últimos acontecimentos para os Vingadores estão encadeados de uma forma sinistra, como se um fator externo determinasse com uma lógica insana a forma de ataque à equipe. Para sua segurança, a presença forte de homens que considera verdadeiros irmãos em armas, como Stark, Thor e Namor, lhe permite agir com relativa margem de segurança.

Rapidamente, Rogers observa Natasha e Buddy atenderem o pedido de Jarvis para tomarem um café; por mais discreta que pareça, a serenidade do mordomo e sua capacidade de se ater a coisas práticas o tornam o alicerce humano da equipe. — ... não, Namor. Talvez outra noite.

— Algo não lhe agradou no jantar passado? — acompanhado a Supermoça com passos lentos, o atlante não desiste de sair mais uma vez com a mulher que tem lhe encantado no últimos meses — Se quiser, posso providenciar...

— Não! — a mulher que atende pelo nome de Linda pára e fica de frente para o príncipe, corpos e lábios próximos — Você é encantador, elegante, não nego que me sinta lisonjeada; mas, por favor, me dê um tempo para me ajustar... passei muito tempo contando apenas comigo mesma e meus familiares. Agora surgem os Vingadores... Agora surge você...

Suavemente, Namor segura suas mãos.

— Sou um homem que tem a paciência para conquistar sempre aquilo que deseja. — ele beija as mãos de Supermoça, que se retira sorrindo — Que nosso novo encontro não demore tanto.

Sentado no sofá, o Capitão América observa o diálogo, sem esconder o gosto pelo possível casal que se forma na mansão dos Vingadores. Namor se aproxima do amigo.

— Steve, ela é uma das mulheres mais encantadoras que já conheci; uma das poucas que já nasceu com ar de realeza.

— Mas tenha paciência com ela, irmão. De todas as nossas colaboradoras, talvez seja a mais poderosa e, em contraste, a que mais desconhece o real significado da força que guarda dentro de si.

— Sim, ainda vejo que ela tenta se adequar aos Vingadores.

— Ela ainda tenta se adequar no mundo que a rodeia. É como uma adolescente que aos poucos vai se descobrindo.

Interrompendo o diálogo dos dois velhos amigos, o Homem-Animal surge com uma expressão de surpresa no rosto.

— Steve! Namor! Caras, vocês não vão acreditar na transmissão que recebemos nesse exato momento...

Madrugada de domingo — minutos após declaração de Arjuna — mansão dos Vingadores

— Capitão América... Namor... ou quem quer que receba esta mensagem... não conseguimos estabelecer contato com a Liga da Justiça. — a imagem que invade o monitor da sala de reuniões dos Vingadores é distorcida, cheia de ruídos e fantasmas — Acione seu grupo... peça ajuda às Nações Unidas... estamos...

Por detrás da imagem de Aquaman, surge um dos homens de Arjuna, com uma vestimenta de guerra que o identificaria como um soldado perdido entre o passado e o futuro. Com uma fúria que parece à flor da pele, o inimigo se lança sobre Arthur Curry, mas sua espada é contida pelo antebraço do rei de Poseidonis. Sua reação, porém, nada pode fazer contra o ataque seguinte, vindo de um tubarão-baleia imune a qualquer contato telepático, com cerca de doze metros, que empurra Aquaman contra a câmera, tornando a imagem completamente turva, até sumir definitivamente.

— Mas quem é Arjuna? — o rosto de Natasha Romanoff demonstra perplexidade diante da incrível sucessão de informações.

— Esse nome não consta dos arquivos da Liga da Justiça... — afirma Buddy Baker, relembrando seu passado na outra equipe — Eu podia jurar que vocês o conheciam... Namor? Nunca ouviu falar nesse nome?

— Não, Buddy. — diz o Príncipe Submarino, apenas acariciando o pequeno amuleto em forma de tridente em seu pescoço, sinal de sua recente conversão ao culto do deus grego Poseidon — Mas, quem quer que seja, seu desafio ultrapassa as fronteiras de Poseidonis e obriga meu povo a apoiar Arthur no que for possível. Os povos de Poseidonis e Atlântida são irmãos; esse inimigo sem rosto e sem pátria me obrigará a uma atitude drástica, trazendo a ira de todos os deuses.

Sem dizer mais uma palavra, o príncipe submarino retira-se e dirige-se aos seus aposentos, onde, através de um comunicador, mantém contato com seus ministros atlantes.

— Onde ele foi? — pergunta Buddy.

— Intempestivo e orgulhoso como é, Namor deve estar pessoalmente ferido com o ataque sofrido por Aquaman. — explica Rogers, que partilha da companhia de Namor desde a Segunda Grande Guerra — Em poucos minutos, suas tropas e embarcações devem se movimentar e bater de frente com as tropas de Arjuna. Mas os Vingadores também irão comprar essa briga.

Madrugada de domingo — em uma sacada da mansão dos Vingadores

— Filho, o que te afliges?

— Não te preocupes comigo, pai. — o rosto de Thor mostra-se ligeiramente cabisbaixo diante da imagem de seu governante e genitor — Sabes que meu coração, por mais que se pareça com um mar revolto, toma as decisões seguindo as leis de Asgard.

— De outra forma não imaginava, meu filho. Porém, há anos não te vejo dessa forma, com gestos largos e de temperamento boêmio, empanturrando-se de comida e bebida. Sempre tão predisposto a combater todos os combates e a conquistar todas as mulheres. — com um gesto delicado, a imagem de Odin põe a mão sobre seu ombro — Não quero que sejas apenas um arremedo de Hércules; não te criei para ter esse desgosto.

— Sim. E ao menor dos sinais de desgosto me aprisionastes em um corpo mortal há alguns anos. Me aprisionastes em Midgard. (****)

— Ousas questionar os meus desígnios?

— Eles sempre são sábios, pai. De que outra forma teria aprendido o que aprendi, transformando minha prisão em meu verdadeiro lar? Mas seria prova de orgulho e ignorância se não me comportasse de igual para igual com os mortais que me acolheram e tanto amo; as últimas palavras de meu amigo Clint antes de entrar em coma (*****) ressoam em minha cabeça a todo instante: sejamos deuses ou homens, honrados ou canalhas, estamos no mesmo barco... por isso devemos aproveitar a dádiva da vida ao máximo; se eu não aproveitasse tais prazeres de coração, não estaria lhes humilhando com minha soberba e minha imortalidade, pai?

— Vejo que minhas preocupações nada mais são do que um zelo desmedido e que continuas a trilhar a mesma estrada que seu pai, ainda que por caminhos tortos.

— Thor! — em outro cômodo, a voz da Feiticeira Escarlate procura pelo deus do trovão sem enxergá-lo e nem perceber a presença da outra divindade.

— As estrelas dizem que a batalha que tu e teus amigos travarão neste momento fará sangrar todos os corações... — Odin abraça o filho, desaparecendo aos poucos e transportando-se para Asgard — Que ela te torne mais forte e sabedor de que a imperfeição dos homens não é apenas nossa maior antítese, mas nosso maior aprendizado.

— Thor! — quando Wanda adentra a sacada, Odin não está mais lá — Poseidonis foi atacada e os Vingadores precisam apoiar as tropas de Namor e de Aquaman contra as forças do invasor Arjuna e...

— Acalma-te, donzela dos cabelos de fogo! — Thor a surpreende, puxando-a pela cintura e saindo para fora da sacada — Explica-me devagar as novidades a respeito dessa nova guerra que se anuncia; mas antes, deixe-me buscar uma taça de vinho para avivar meu raciocínio.

Manhã de segunda-feira — pátio de exercícios da penitenciária da Ilha Ryker

Merde! — Batroc irrita-se com a cesta de Arcade que, após fazê-la, distribui beijos para uma platéia imaginária — Também não precisa fazer essas macaquices, mon ami...

— Não chore, francês... — responde Arcade.

— Belga! Eu sou belga. — corrige o mercenário.

— Belga, francês... não importa, porque o merci beaucoup é igual.

— Soube do que está acontecendo lá fora?

— Sim... parece que Arjuna resolveu avançar com tudo.

— Bem, meu caro palhaço, reze para que não cheguem em nossos nomes... senão nossas penas poderão triplicar.

— Ah, que falta de confiança, meu velho! Sairemos daqui o quanto antes, graças a alguns contatos meus lá fora. Afinal, as más companhias aqui na Ilha Ryker estão cada vez fazendo jus ao nome.

Com um gesto de cabeça e um sorriso malicioso, Arcade dirige seus olhos para a cela especial onde está contido o Vingador conhecido como Mercúrio.

Dois guardas, a uma distância segura, guardam a solitária hermeticamente fechada, tendo apenas uma pequena abertura na altura da boca para passar comida e para que o ar entre. A cela, revestida de adamantium, mais parece um caixão erguido verticalmente sobre o chão, com a altura e a largura exatas para caber um homem e nada mais. Em seu interior, Pietro Maximoff está calmo e tranqüilo; cedo ou tarde ele sabe que irá renascer para continuar sua jornada contra a criminalidade. Mesmo que suje suas mão de sangue em nome de seu dever.

Poseidonis

Quando a bota chuta o rosto de Tempest pela segunda vez, dois soldados de Arjuna o erguem. Apoiando-se em seus algozes, o pupilo de Aquaman impulsiona seu corpo para trás e, ao mesmo tempo em que chuta o invasor, também joga os homens que o seguram ao chão.

Quando Tempest dá as primeiras braçadas, começa a ter uma interação maior com o ataque que seu reino sofre. Incontáveis números de embarcações submarinas disparam projéteis em direção ao reino de Poseidonis, ao qual nada mais resta a não ser o contra-ataque.

Para sua surpresa, uma das naves inimigas é erguida em direção à superfície por uma nova equipe aliada que surge. Dividido-se e agindo com roupas submarinas, os Vingadores juntam-se às tropas atlantes de Namor para combater as tropas de Arjuna.

Poseidonis — interior do jato dos Vingadores

— Todos já sairam do jato e foram para o combate, Namor. Não acredito que esse invasor esteja preparado para tamanho confronto.

— Não subestime a força do inimigo, Steve. — no interior do jato, o príncipe submarino está de pé, logo atrás do líder dos Vingadores — Principalmente de um inimigo que não conhece; esses são os mais perigosos.

— Sim. Mas gostaria de saber como você, em tantos anos de reinado, não ouviu falar em Arjuna.

— Simples, meu amigo. Na verdade, eu sou Arjuna.

No controle do jato, Rogers mal consegue conter o riso e se vira para olhar seu amigo de tantas batalhas. Para sua surpresa, o rosto de Namor está pesaroso; pego de surpresa, o Capitão América vê uma arma nas mãos do atlante e, antes de qualquer reação, um tiro atinge-lhe o ombro. Tentando abrir a boca por debaixo do capacete de sua roupa de mergulho para tomar fôlego, Rogers desmaia com o sedativo.

— Lagos. — tomando posse do jato e do comunicador, Namor se comunica com seu conselheiro direto durante suas operações como Arjuna — Pode dizer a um de meus generais para que dê início à segunda parte do ataque. Que a equipe de elite detenha os Vingadores! Poseidonis será nossa a qualquer custo!


Na próxima edição: A segunda parte do confronto entre as tropas de Arjuna e os Vingadores, onde o Guerreiro revelará seus planos de conquista. E não deixe de ler as repercussões desta saga ainda este mês, em Titãs #12!


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Notas do Autor

(*) Por incrível que pareça, um método semelhante de ataque com soldados "pilotando" torpedos foi desenvolvido em 1935 por dois engenheiros navais italianos conhecidos como Tessei e Toschi e, posteriormente, o governo britânico adaptou a idéia, criando os homens-rãs treinados pela Marinha Real Inglesa. voltar ao texto
(**) A primeira aparição de Arjuna se deu em Vingadores #1.voltar ao texto
(***) Confira este ataque em Titãs #11.voltar ao texto
(****) Thor se refere ao período que esteve preso ao corpo do médico Don Blake.voltar ao texto
(*****) Em Vingadores #1.voltar ao texto



 
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