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Por
Cesar Rocha Leal
Novas
Negociações
Spade? Thunder Spade? Mas o que você anda fazendo aqui em
Seattle, cara?
Collins? Acabei de chegar. Estou em busca de novos ares.
Manhattan já era, Muita violência para empreendedores
como nós. Você soube da sex shop do Boca de
Ouro? Foi totalmente detonada por aquele maluco do Justiceiro.
Dizem que o que sobrou do Boca não dava para encher uma
caixa de fósforos. (*)
O bar tem um som alto, e está quase vazio neste entardecer,
mas mesmo assim, cerca de meia dúzia de marginais tenta
se acomodar nas mesas sujas para buscar participação
no próximo grande "serviço".
Há! Mas acho que você não fez uma boa
escolha. Também temos nosso "empata-foda" aqui
na "terra do grunge".
Que nada... peixe pequeno. Que eu saiba vocês só
tem por aqui aquele zero à esquerda do Arqueiro Verde.
De repente, o silêncio impera no ambiente. O som é
desligado e todos os rostos apreensivos olham para a figura de
Spade.
Liga não, pessoal. Ele é de fora, não
saca das coisas ainda... intervém Collins, em tom
conciliador. Cara, não fala nesse nome aqui, não.
O pessoal não curte muito a figura, ele já deve
ter colocado em cana pelo menos metade da galera.
Não acredito, o verdinho não deve tá
ligando muito pra peixe pequeno, meu. Ele não é
igual ao Justiceiro, o mano faz parte da Liga da Justiça,
junto com os grandões, deve só dar porrada em terrorista
internacional e deuses gregos. Por falar nisso, tem uma parada
que eu tô arrumando que é a seguinte...
A explicação do marginal é interrompida por
um silvo agudo e um baque surdo. Uma flecha se encontra fincada
no balcão, a centímetros da barriga de Thunder Spade.
Novamente, todos os olhares convergem para uma figura, mas dessa
vez se trata de um recém-chegado, trajando roupas verdes
de caça e com um arco novamente armado.
Se eu estivesse na sua pele, não faria muitos planos
na minha cidade, estranho. Eu não gosto do seu tipo por
aqui.
Qualé, cara. Você tem peito para vir aqui,
armado somente com flechas e falando em "sua cidade".
Que eu saiba, figura, tu nem nasceu aqui. Você costumava
rondar as ruas de Star City há alguns anos. E agora se
deu mal. Galera, vamos porrar essa figura.
Mas ninguém faz nenhuma menção de apoiar
o marginal nova-iorquino. Todos continuam em seus lugares, procurando
chamar a menor atenção possível. Ao perceber
que está sozinho em seu desafio, Spade lança um
olhar questionador para seu amigo Collins. Mas a resposta deste
não é nada animadora.
Eu te avisei, cara. Ninguém aqui topa encarar o
Arqueiro. Você tá sozinho nessa.
O suor goteja no rosto de Spade. O Arqueiro Verde sorri.
Quer dizer que o tipo é metido a machão.
Vamos tentar fazer as coisas menos desiguais. Está vendo?
Vou deixar meu arco e flechas aqui no chão e encarar a
briga desarmado.
Ao ver que o herói está sem suas armas, a coragem
volta ao rosto de Thunder Spade. Ele saca uma lâmina do
bolso de sua calça e se lança contra o Arqueiro.
Tsc, tsc... Mais uma vez com canivetes. Se eu ganhasse
um dólar toda vez que fui ameaçado por um pulha
com uma faca eu poderia pagar a dívida da Argentina.
Desviando-se rapidamente, o Arqueiro demonstra a sua superioridade.
Mas, mesmo assim, Oliver está decidido a acabar logo com
o desafio e dá uma forte joelhada no estômago do
atacante. Este larga a faca na mesma hora, e um direto de esquerda
no rosto do bandido termina com a briga.
Eu não vou te levar de "presente" para
a polícia porque a figura ainda não aprontou nada.
Mas fica avisado, amigo, essa cidade tem um protetor.
Com essas palavras, o Arqueiro sai do bar. Assobiando uma antiga
melodia de Ella Fitzgerald, volta a se misturar às sombras
dos becos.
Spade? Você tá bem?
Sabe o que é, Collins? Acho que vou me mudar para
o interior de Winsconsin, para a casa de minha avó, para
ajuda-la no negócio de vendas de geléia caseira.
Será que rola uma vaga para mim também?

Oliver
se sente bem. É muito reconfortante voltar a Seattle. Depois
de viajar até o Rio de Janeiro, o Arqueiro se sente bem
humorado por estar de volta.
É, acho que estou ficando velho mesmo. Nada como
estar de volta ao lar.
Mas ainda existem algumas coisas preocupando a mente do herói
esmeralda. Ele só conseguiu encontrar a pista para o tráfico
sexual de Holsfield graças a uma dica de um informante
anônimo, e de alguns recursos (**). Desde então,
Oliver tem tentado saber a identidade de seu benfeitor, sem descobrir
a menor pista.

Apartamento
de Homer Sykes.
Leslie Buttons vive com Homer há quatro meses em um pequeno
apartamento no centro, depois de vir a Nova York em busca de fama
como atriz e amargar ter conseguido apenas vaga como dançarina
de striptease. Ela pensou que se juntar com Sykes iria
mudar sua vida. Mas, depois de todo este tempo, continua com a
mesma vidinha insossa e sem perspectivas, como sempre.
"Ele pensa que, por ter sido o pai dele um empregado do homem
que prendeu algo conhecido como Rei dos Sonhos, estaria destinado
à grandeza. Há dias ele tem estudado aquele talismã
que conseguiu, prometendo poder e uma vida maravilhosa... Mas
cansei, vou cair fora agora mesmo."
Com esses pensamentos, ela pega tudo que acha ter valor na casa;
estátuas e quadros enchem sua mochila. E se prepara para
fugir, deixar de vez aquele estranho homem e suas idéias
malucas.
Ora, coelhinha, você está pensando em fazer
uma viagem? E levando meus objetos mais preciosos?
Homer? Eu pensei que você estava estudando o talismã...
Digo... EU estava... Hã... Limpando a casa... Tirando...
A poeira.
Sim, eu estou vendo. Mas estava vindo exatamente te mostrar
que desvendei o poder do talismã... Mas se demorasse um
pouco mais, teria perdido seu truque de "desaparecimento",
não é mesmo?
Não... Não é o que você está
pensando... Eu estava apenas...
O homem levanta o talismã. E fala lentamente. Os olhos
da mulher ficam vidrados na pedra vermelha no seu centro.
Não, você não vai fazer nada, não
é mesmo? Você me ama muito.
Sim, Homer, eu te amo.
Os olhos da mulher estão vidrados. Ela larga a sua mochila
e continua em um profundo transe.
Eu tenho certeza que sim. Agora tenho a segurança
que você me ama. Ama-me, profundamente. Sua vida sem mim
seria uma terrível provação. Você não
pode sequer pensar em viver sem minha presença.
Eu te amo, meu senhor Sykes.
-- Só tem um problema, você prefere morrer a viver
sem mim. E eu estou rompendo com você. Não chore,
não implore, isso me faria gostar ainda menos de você.
Sabe qual é a única alternativa não, sabe?
Sim, eu sei. Morrer.
Com estas palavras, a mulher sai da casa... E Homer Sykes gargalha,
ao mesmo tempo em que brada.
Eu sou mais forte agora, mulher, eu tenho o poder... E
NADA é mais forte que o poder do amor.

O Arqueiro
Verde continua sua ronda pelas ruas de Seattle. Mas ao adentrar
em um beco estranhamente limpo, ele sente o cheiro de um gás,
um poderoso anestésico para deixar sua mente embotada.
Olá, meu amigo verde.
Você de novo?
Sim, eu soube que você estava à minha procura.
Eu acabo sabendo de muitas coisas. Tenho acesso a sabedoria das
ruas, como você, mas sem precisar "massagear"
a cara dos outros. Mas eu tenho acesso a outras esferas de informação,
esferas mais altas, e elas é que me permitiram saber a
dica que lhe dei sobre Holsfield. Bem como essa: Rua 34, apartamento
G-1. Lá existe um centro de trabalho escravo, a polícia
não deu a mínima para minha dica anônima,
mas eu tenho certeza que não será assim contigo.
Você irá lá, e me ajudará a saldar
mais um pouco do meu débito...
Sim, acho que sim.
Oliver age rápido, o gás não tinha feito
efeito por que ele protegera seu nariz com a lateral de sua grossa
luva de couro. Ele se lança contra a voz, mas acaba encontrando
apenas um alto-falante.
Ahá. Querendo ser esperto, hein? Mas lembre-se de
uma coisa, Arqueiro. Ninguém, NINGUÉM trapaceia
o... Opa... Quase me deixo levar... Força do hábito.
Eu ainda não estou preparado para que você saiba
quem eu sou, mas em breve...
O gás é disperso pelo ar e Oliver fica diante do
pequeno alto-falante, mas com um sorriso no rosto. A identidade
do misterioso homem e suas informações começam
a fazer sentido.

Três
horas mais tarde, Oliver arromba a porta do apartamento indicado.
Ele confia na veracidade da dica, e não fica decepcionado.
Dois homens se encontram atrás de uma mesa. Um deles saca
a arma, mas o Arqueiro Verde é mais rápido e acerta
a mão do pistoleiro. O outro hesita, e Queen, usando seu
arco como um porrete, encerra a luta rapidamente.
Ele não encontra nenhuma resistência dentro do apartamento.
Somente observa dezenas de pares de olhos encarando sua chegada
- sul coreanos, vários deles acorrentados às respectivas
mesas de trabalho, confeccionando cópias mal feitas de
chaveiros de personagens de desenho animado.
Algo parece se contorcer dentro do estômago do Arqueiro.
Mais uma vez ele pensa que deveria ser ainda mais ativo, fazer
realmente diferença, deveria impedir essas coisas de acontecerem,
e não apenas remediar seus efeitos. Ao longe, as sirenes
indicam a chegada da polícia. Hora de um cabisbaixo Arqueiro
Verde se retirar e planejar sua ronda do dia seguinte.
:: Notas do Autor
* Conforme visto em Justiceiro # 02.
** Arqueiro Verde # 02.
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