hyperfan  
 

Arqueiro Verde # 06

Por Cesar Rocha Leal

Novas Negociações

:: Sobre o Autor

:: Edição Anterior
::
Próxima Edição
:: Voltar a Arqueiro Verde
:: Outros Títulos

— Spade? Thunder Spade? Mas o que você anda fazendo aqui em Seattle, cara?

— Collins? Acabei de chegar. Estou em busca de novos ares. Manhattan já era, Muita violência para empreendedores como nós. Você soube da sex shop do Boca de Ouro? Foi totalmente detonada por aquele maluco do Justiceiro. Dizem que o que sobrou do Boca não dava para encher uma caixa de fósforos. (*)

O bar tem um som alto, e está quase vazio neste entardecer, mas mesmo assim, cerca de meia dúzia de marginais tenta se acomodar nas mesas sujas para buscar participação no próximo grande "serviço".

— Há! Mas acho que você não fez uma boa escolha. Também temos nosso "empata-foda" aqui na "terra do grunge".

— Que nada... peixe pequeno. Que eu saiba vocês só tem por aqui aquele zero à esquerda do Arqueiro Verde.

De repente, o silêncio impera no ambiente. O som é desligado e todos os rostos apreensivos olham para a figura de Spade.

— Liga não, pessoal. Ele é de fora, não saca das coisas ainda... — intervém Collins, em tom conciliador. — Cara, não fala nesse nome aqui, não. O pessoal não curte muito a figura, ele já deve ter colocado em cana pelo menos metade da galera.

— Não acredito, o verdinho não deve tá ligando muito pra peixe pequeno, meu. Ele não é igual ao Justiceiro, o mano faz parte da Liga da Justiça, junto com os grandões, deve só dar porrada em terrorista internacional e deuses gregos. Por falar nisso, tem uma parada que eu tô arrumando que é a seguinte...

A explicação do marginal é interrompida por um silvo agudo e um baque surdo. Uma flecha se encontra fincada no balcão, a centímetros da barriga de Thunder Spade. Novamente, todos os olhares convergem para uma figura, mas dessa vez se trata de um recém-chegado, trajando roupas verdes de caça e com um arco novamente armado.

— Se eu estivesse na sua pele, não faria muitos planos na minha cidade, estranho. Eu não gosto do seu tipo por aqui.

— Qualé, cara. Você tem peito para vir aqui, armado somente com flechas e falando em "sua cidade". Que eu saiba, figura, tu nem nasceu aqui. Você costumava rondar as ruas de Star City há alguns anos. E agora se deu mal. Galera, vamos porrar essa figura.

Mas ninguém faz nenhuma menção de apoiar o marginal nova-iorquino. Todos continuam em seus lugares, procurando chamar a menor atenção possível. Ao perceber que está sozinho em seu desafio, Spade lança um olhar questionador para seu amigo Collins. Mas a resposta deste não é nada animadora.

— Eu te avisei, cara. Ninguém aqui topa encarar o Arqueiro. Você tá sozinho nessa.

O suor goteja no rosto de Spade. O Arqueiro Verde sorri.

— Quer dizer que o tipo é metido a machão. Vamos tentar fazer as coisas menos desiguais. Está vendo? Vou deixar meu arco e flechas aqui no chão e encarar a briga desarmado.

Ao ver que o herói está sem suas armas, a coragem volta ao rosto de Thunder Spade. Ele saca uma lâmina do bolso de sua calça e se lança contra o Arqueiro.

— Tsc, tsc... Mais uma vez com canivetes. Se eu ganhasse um dólar toda vez que fui ameaçado por um pulha com uma faca eu poderia pagar a dívida da Argentina.

Desviando-se rapidamente, o Arqueiro demonstra a sua superioridade. Mas, mesmo assim, Oliver está decidido a acabar logo com o desafio e dá uma forte joelhada no estômago do atacante. Este larga a faca na mesma hora, e um direto de esquerda no rosto do bandido termina com a briga.

— Eu não vou te levar de "presente" para a polícia porque a figura ainda não aprontou nada. Mas fica avisado, amigo, essa cidade tem um protetor.

Com essas palavras, o Arqueiro sai do bar. Assobiando uma antiga melodia de Ella Fitzgerald, volta a se misturar às sombras dos becos.

— Spade? Você tá bem?

— Sabe o que é, Collins? Acho que vou me mudar para o interior de Winsconsin, para a casa de minha avó, para ajuda-la no negócio de vendas de geléia caseira.

— Será que rola uma vaga para mim também?

Oliver se sente bem. É muito reconfortante voltar a Seattle. Depois de viajar até o Rio de Janeiro, o Arqueiro se sente bem humorado por estar de volta.

— É, acho que estou ficando velho mesmo. Nada como estar de volta ao lar.

Mas ainda existem algumas coisas preocupando a mente do herói esmeralda. Ele só conseguiu encontrar a pista para o tráfico sexual de Holsfield graças a uma dica de um informante anônimo, e de alguns recursos (**). Desde então, Oliver tem tentado saber a identidade de seu benfeitor, sem descobrir a menor pista.

Apartamento de Homer Sykes.

Leslie Buttons vive com Homer há quatro meses em um pequeno apartamento no centro, depois de vir a Nova York em busca de fama como atriz e amargar ter conseguido apenas vaga como dançarina de striptease. Ela pensou que se juntar com Sykes iria mudar sua vida. Mas, depois de todo este tempo, continua com a mesma vidinha insossa e sem perspectivas, como sempre.

"Ele pensa que, por ter sido o pai dele um empregado do homem que prendeu algo conhecido como Rei dos Sonhos, estaria destinado à grandeza. Há dias ele tem estudado aquele talismã que conseguiu, prometendo poder e uma vida maravilhosa... Mas cansei, vou cair fora agora mesmo."

Com esses pensamentos, ela pega tudo que acha ter valor na casa; estátuas e quadros enchem sua mochila. E se prepara para fugir, deixar de vez aquele estranho homem e suas idéias malucas.

— Ora, coelhinha, você está pensando em fazer uma viagem? E levando meus objetos mais preciosos?

— Homer? Eu pensei que você estava estudando o talismã... Digo... EU estava... Hã... Limpando a casa... Tirando... A poeira.

— Sim, eu estou vendo. Mas estava vindo exatamente te mostrar que desvendei o poder do talismã... Mas se demorasse um pouco mais, teria perdido seu truque de "desaparecimento", não é mesmo?

— Não... Não é o que você está pensando... Eu estava apenas...

O homem levanta o talismã. E fala lentamente. Os olhos da mulher ficam vidrados na pedra vermelha no seu centro.

— Não, você não vai fazer nada, não é mesmo? Você me ama muito.

— Sim, Homer, eu te amo.

Os olhos da mulher estão vidrados. Ela larga a sua mochila e continua em um profundo transe.

— Eu tenho certeza que sim. Agora tenho a segurança que você me ama. Ama-me, profundamente. Sua vida sem mim seria uma terrível provação. Você não pode sequer pensar em viver sem minha presença.

— Eu te amo, meu senhor Sykes.

-- Só tem um problema, você prefere morrer a viver sem mim. E eu estou rompendo com você. Não chore, não implore, isso me faria gostar ainda menos de você. Sabe qual é a única alternativa não, sabe?

— Sim, eu sei. Morrer.

Com estas palavras, a mulher sai da casa... E Homer Sykes gargalha, ao mesmo tempo em que brada.

— Eu sou mais forte agora, mulher, eu tenho o poder... E NADA é mais forte que o poder do amor.

O Arqueiro Verde continua sua ronda pelas ruas de Seattle. Mas ao adentrar em um beco estranhamente limpo, ele sente o cheiro de um gás, um poderoso anestésico para deixar sua mente embotada.

— Olá, meu amigo verde.

— Você de novo?

— Sim, eu soube que você estava à minha procura. Eu acabo sabendo de muitas coisas. Tenho acesso a sabedoria das ruas, como você, mas sem precisar "massagear" a cara dos outros. Mas eu tenho acesso a outras esferas de informação, esferas mais altas, e elas é que me permitiram saber a dica que lhe dei sobre Holsfield. Bem como essa: Rua 34, apartamento G-1. Lá existe um centro de trabalho escravo, a polícia não deu a mínima para minha dica anônima, mas eu tenho certeza que não será assim contigo. Você irá lá, e me ajudará a saldar mais um pouco do meu débito...

— Sim, acho que sim.

Oliver age rápido, o gás não tinha feito efeito por que ele protegera seu nariz com a lateral de sua grossa luva de couro. Ele se lança contra a voz, mas acaba encontrando apenas um alto-falante.

— Ahá. Querendo ser esperto, hein? Mas lembre-se de uma coisa, Arqueiro. Ninguém, NINGUÉM trapaceia o... Opa... Quase me deixo levar... Força do hábito. Eu ainda não estou preparado para que você saiba quem eu sou, mas em breve...

O gás é disperso pelo ar e Oliver fica diante do pequeno alto-falante, mas com um sorriso no rosto. A identidade do misterioso homem e suas informações começam a fazer sentido.

Três horas mais tarde, Oliver arromba a porta do apartamento indicado. Ele confia na veracidade da dica, e não fica decepcionado. Dois homens se encontram atrás de uma mesa. Um deles saca a arma, mas o Arqueiro Verde é mais rápido e acerta a mão do pistoleiro. O outro hesita, e Queen, usando seu arco como um porrete, encerra a luta rapidamente.

Ele não encontra nenhuma resistência dentro do apartamento. Somente observa dezenas de pares de olhos encarando sua chegada - sul coreanos, vários deles acorrentados às respectivas mesas de trabalho, confeccionando cópias mal feitas de chaveiros de personagens de desenho animado.

Algo parece se contorcer dentro do estômago do Arqueiro. Mais uma vez ele pensa que deveria ser ainda mais ativo, fazer realmente diferença, deveria impedir essas coisas de acontecerem, e não apenas remediar seus efeitos. Ao longe, as sirenes indicam a chegada da polícia. Hora de um cabisbaixo Arqueiro Verde se retirar e planejar sua ronda do dia seguinte.

:: Notas do Autor

* Conforme visto em Justiceiro # 02.
** Arqueiro Verde # 02.



 
[ topo ]
 
Todos os nomes, conceitos e personagens são © e ® de seus proprietários. Todo o resto é propriedade hyperfan.