Ambientes hospitalares não trazem lembranças agradáveis para Oliver, pois sua mente só consegue se transportar para a época em que Dinah ficou internada e quase veio a morrer por causa de torturas que sofrera ao agir como a vigilante Canário Negro. (**)

Devido a seus trajes esmeralda e sua aparência após ter caminhado até o hospital, Queen decide entrar despercebido e encontrar o quarto de Clint Barton por si mesmo (***). Afinal, nenhuma enfermeira estaria muito ansiosa para ajudar alguém em trajes de caçador a entrar em um ambiente esterilizado.

Após alguns minutos, ele encontra o lugar certo.

— Salve, segundo melhor arqueiro do mundo. -fala o Arqueiro, enquanto entra no quarto.

— Oliver... cara, que bom poder vê-lo. Depois de dias de "molho", achei que o mundo tinha esquecido de mim.

— Não reclame guri, você não podia receber visitas até recentemente. Até parece que preferia ter sido surpreendido pela portentosa galeria de vilões dos Vingadores; alguém como Tufão ou Barão Zemo ou algo de nome estrambólico parecido.

— Até parece que Conde Vertigo ou doutor T. O. Morrow soam muito melhor...

— Hehehe... entre condes e barões, não sei por que esses idiotas continuam agindo.

— Lembre-se que eu quase fiquei permanentemente como um representante nessa galeria. Tive minha parcela de vilania no início de carreira.

— Mas isso não conta, você tinha sido iludido pela Viúva-Negra quando ela ainda era uma espiã do ouro lado da cortina de ferro. — fala Oliver — E Natasha... bem, ela sabe ser... agradecida pela ajuda prestada... (****)

— Você também? Putz, pensei que entre demônios urbanos e semideuses mitológicos, eu tinha sido o único arqueiro ao menos...

— Nah... — Oliver balança a cabeça — A garota é mesmo...

— Rodada?

— Eu ia dizer experiente, você é que foi maldoso.

O riso dos dois homens é franco e contagioso.

— Mas eu tenho a impressão de que você não iria continuar sendo vilão por muito tempo. Na época você enfrentava o Homem de Ferro e, mesmo assim, quase em pé de igualdade. Mais cedo ou mais tarde você perceberia o quanto era inútil continuar agindo como criminoso fantasiado.

— Talvez, mesmo porque no início pensei em ser um herói. Quando Natasha me iludiu, eu agi meio impensadamente e me vi enfrentando o ferroso. Essa ilusão durou até aquele dia em que nos esbarramos...

Anos atrás.

O uniforme púrpura ainda coça no pescoço. Clint Barton não chegou a se acostumar com os trajes de Gavião Arqueiro. A noite está fria e deserta. Diante do First National Bank de Nova York, o arqueiro pondera sobre sua vida nos últimos meses. Após deixar o circo de que fazia parte, Clint tentou usar suas habilidades com arco e flecha para criar um arsenal e combater o crime; mas após ser confundido com um ladrão em sua primeira ação heróica, acabou aceitando estar do outro lado da lei. Não que necessariamente gostasse de ser um ladrão, mas sua parceira, Natasha Romanoff, o iludiu para que ele a ajudasse a roubar os segredos industriais de Tony Stark. Na verdade, chamar de parceira a bela espiã russa é uma forma otimista de encarar a situação. Clint ficou "de quatro" por ela, nunca houve uma voz ativa de sua parte na parceria.

Mas ela agora está no hospital, vitima de um acidente em um dos inúmeros confrontos com o guarda-costas de Stark, o Homem de Ferro. E o Gavião sabe que foi descartado, no fundo de sua mente ele tem consciência de que Natasha não o amava de verdade. Mas apenas agora, longe dela, pode encarar este fato.

E se vê diante de um dilema. Continuará sua vida de crimes, ao assaltar a instituição bancária à sua frente, ou desistirá deste devaneio? Seria simples arrombar o banco com uma flecha explosiva, eliminar o alarme com um pulso sonoro e sair levando o dinheiro. Mas, apesar da tentação e da necessidade, ele não parece muito empolgado com a idéia.

Repentinamente, o alarme soa e a decisão é tomada de suas mãos. Do banco corre um homem todo vestido de negro, carregando dois sacos de aparência nada leve. O Gavião Arqueiro age automaticamente: pega uma flecha de sucção, que é muito mais eficiente contra o metal da armadura do Homem de Ferro, mas que deve desequilibrar o bandido, e a atira. O estranho é que a seta não alcança seu alvo; ela bate no ar em outra flecha e ambas caem no chão. A flecha estranha solta uma rede ao cair.

Então, Clint vê quem disparou a flecha. Do outro lado da rua, um homem vestido de verde também porta um arco. Ele reconhece a figura como o herói Arqueiro Verde. (*****) O homem não fica tão surpreso como Clint. Arma seu arco mais uma vez e não erra. Uma rede mantém o bandido preso enquanto sirenes dos carros de polícia se fazem ouvir ao longe.

— Vamos! Acredito que você não queira falar com os tiras.

Com estas palavras, o Arqueiro Verde leva Clint dali. Algumas quadras depois, no telhado de um prédio baixo, ele volta a falar.

— Se envolveu com besteira, não é, garoto? — fala Oliver — Seu nome tem saído nos jornais ultimamente.

— Por que me tirou de lá? — responde o Gavião — Pensei que seu trabalho fosse prender vilões.

— Há! Meu trabalho é fazer aquilo que acho certo. E não acredito que você seja um... vilão. Cara, como odeio esta palavra, ela é muito pueril. — Devo te agradecer, então?

— Ainda não. Vou ter que parecer um velho chato e te dar um sermão. Olha, não sei por que você entrou nesse caminho, mas você é um arqueiro razoável. E não posso deixá-lo difamar o nome de nossa classe assim. Deixe-me dizer uma coisa, não existem provas contra você além do depoimento daquela lata de sardinhas que faz a segurança de Stark. E acredito que você tenha sido manipulado para fazer o que fez. Procure o senhor Stark e se entregue, fale com o guarda-costas dele sobre o que aconteceu. E quem sabe daí possa decidir o que fazer com sua vida.

— Claro... assim o Stark vai me perdoar e o cabeça-de-lata vai me indicar para fazer parte dos Vingadores... bonito esse seu conto de fadas; mas, caso não tenha notado, estou sendo irônico. Acho que vou indo, verdinho.

— Você não me entendeu, garoto. Ou faz isso ou me convence que vai desistir dessa coisa de fantasia. De outra forma não irei deixá-lo ir.

— E você acredita que é melhor que eu, barbicha? Não acho isso possível.

— Vamos fazer o seguinte: vá para o outro lado do telhado e tente me atingir. Use qualquer flecha do seu arsenal e se eu provar que sou o melhor, você promete que irá pensar no que eu te disse.

— Sem chance de você ganhar, vovô.

Um sorriso se forma no rosto do Arqueiro Verde. Ambos se distanciam para cada ponta do telhado. Clint pensa que flecha irá escolher e acaba optando por uma flecha sônica. Enquanto o arqueiro mais velho estiver sob os efeitos do som estridente, ele dará o fora dali.

Mas Oliver também possui um arsenal que inclui as mais estranhas flechas. Flechas de gás, de cola, flechas-rede... várias flechas inusitadas que fazem a caça divertida e eficiente. Quando o Gavião Arqueiro começou a desenvolver seu arsenal, inspirou-se indiretamente nas notícias de jornal sobre o herói esmeralda, mas nunca admitiu isso nem para si mesmo. Mas a flecha que Oliver coloca em seu arco não é nenhuma em especial; é uma exceção que fica em sua aljava para momentos especiais. Uma flecha comum, com uma afiada ponta de metal.

— Pode contar até três, filho. Vamos terminar esse nosso duelo. Clint está confiante da vitória. Mesmo que não acerte seu adversário, o efeito sônico será eficiente. Ele levanta o arco e começa a contagem, mas estranhamente Oliver mantém seu arco baixo.

— Um.

"O que pode estar pensando esse cara? Ele nem sequer apontou o arco ainda!" — pensa Clint consigo mesmo.

— Dois.

"Agora é que ele está levantando o arco, mas eu já fiz a minha mira e não tem chance de ele me vencer."

— Três.

Clint ouve um zumbido, larga a corda de seu arco e... nada acontece. Oliver não só fez sua mira como atirou sua seta antes mesmo de o novato disparar. A flecha do Arqueiro Verde corta a corda do arco do Gavião, deixando a arma inútil, e crava-se na parede atrás do jovem.

— Mas você nem teve tempo... eu...

— Lembre-se, garoto, a experiência conta. Você prometeu que ia pensar no que eu te disse, mas confio que irá tomar a decisão certa. E anime-se, ao menos você é o segundo melhor arqueiro do mundo.

Oliver vai embora e Clint fica sozinho, ainda surpreso pelo ato do herói mais velho. O estranho é que, ao procurar Stark dias mais tarde, o homem realmente não o entrega à polícia e retira as queixas contra ele. E, ainda por cima, o Homem de Ferro acaba levando-o para os Vingadores, onde Clint luta sob a tutela do Capitão América, ao lado de outros dois heróis que tentam se reabilitar de suas ações anteriores: a Feiticeira Escarlate e Mercúrio.

O Presente.

— Na verdade eu te devo muito, cara, na época eu não tinha muita coisa na cabeça. Mas foi você que me fez acreditar que podia trilhar o caminho certo.

— Vamos parar por aqui, filho, se continuar a rasgar seda vou acabar me sentindo mal. — responde Oliver — Na verdade, passei para ver como você estava e pelo que vejo vai sair dessa cama logo.

Oliver ouve mais gente chegando no quarto e resolve se levantar antes de ser surpreendido por alguma enfermeira-chefe, que faria um escarcéu com sua presença.

— Foi ótimo rever você, Clint! — diz Oliver, ao notar que quem entra no quarto não é uma enfermeira, mas sim três dos Vingadores, companheiros de luta do Gavião Arqueiro. Ao notar que entre eles estão o deus mitológico Thor e a Feiticeira Escarlate, o Arqueiro Verde se lembra dos problemas que Afrodite e seu pingente místico trouxeram para sua vida e acaba ficando de cara fechada.

— Valeu, Ollie! Pode ficar tranqüilo, em breve eu abandono essa cama e a gente marca uma farra!

— É bom mesmo! — o Arqueiro Verde faz um aceno com uma das mãos para Barton e passa pelos Vingadores, indiferente a eles — Se demorar muito, o Arsenal será o segundo melhor. (******)

Os Vingadores olham Oliver de forma estranha, principalmente a Feiticeira Escarlate, que parece ter percebido seu desprezo por ela, mas o incidente logo some da mente de Oliver quando, ao sair do hospital é abordado por uma bela mulher de cabelos negros.

— Oliver Queen, preciso falar com você.

O fato de a mulher conhecer sua identidade não causa estranheza ao arqueiro. Afinal, ela deixou de ser um segredo há muito tempo, ele só usa sua máscara quando está em missão com a Liga da Justiça. O que causou surpresa foi que Oliver teve a impressão de conhecer a mulher. Mas com certeza ele se lembraria se já tivesse visto a moça de olhos azuis e cabelos sedosos que exalam um cheiro delicioso que não perece ser de nenhum perfume, mas um cheiro próprio.

— Meu nome é Helena. Mas você me conhece como a Caçadora. Nós chegamos a conversar quando você entrou no meu lugar na Liga. Mas o que tenho a perguntar é muito importante, por isso vim em minha outra... identidade.

— Olha, legal confiar em mim, mas eu não saquei o que...

— É muito simples. Você conhece o Batman há algum tempo e durante suas atividades vigilantes ocorrem alguns percalços que deixam alguns corpos por aí. O morcego parece ignorar isso, mas por outro lado ele me despreza e faz sermões intermináveis sobre a minha postura agressiva. O que eu quero saber é... por quê?


Na próxima edição... o porquê.