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Arqueiro Verde # 08

Por Cesar Rocha Leal

Jogo de Amores

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Oliver Queen está em seu apartamento, relaxando, enquanto saboreia uma cerveja gelada acompanhada de um delicioso chili picante. Mais uma vez a televisão noticia a morte de uma mulher em Nova York e a tentativa da polícia de ligá-la ao nome de Homer Sykes. (*)

"Tenho uma estranha sensação sobre este caso. Talvez até devesse dar uma esticada até a grande maçã para ver o que um arqueiro xereta pode descobrir sobre o assunto..."

Subitamente, seus pensamentos são interrompidos por uma presença no apartamento. Uma bela mulher, vestida com requinte, em diáfanos panos cor-de-rosa. Seus olhos azuis, em contraste com a moldura de cabelos dourados, já poderiam prender a atenção de um homem, independente das idéias que as curvas de seu corpo incitam.

— Sua intuição é aguçada, Arqueiro. Isso apenas assegura a minha escolha.

— Santa mãe! — Oliver pula do sofá, sobressaltado — Quem é você, moça? Como entrou aqui? Eu te conheço?

— Seus olhos com certeza me analisaram durante nosso tumultuado encontro, Oliver Queen, mas acredito que uma lembrança será mais apurada se meu nome for declarado. Vocês, homens, me chamam de Afrodite.

Imediatamente, Oliver Queen lembra dos acontecimentos que foram chamados pela imprensa de "retorno dos deuses", quando o Arqueiro Verde e o resto da Liga da Justiça se defrontaram com os deuses gregos e sua desastrosa decisão de retomar seu status em nosso planeta. (**) Apesar de não ter se envolvido em conflitos físicos, a beleza de Afrodite não passou despercebida pelo Arqueiro, mas em tal ocasião somente a intervenção do "anjo de plantão" da Liga pôde levar o impasse a uma solução pacífica. Oliver pensa se seria a deusa desta vez a precursora de mais um retorno dos deuses...

— Vejo em seus olhos o medo do que minha presença poderia significar. Nada tema, mortal, Zeus não sabe de minha vinda a esta esfera, e asseguro que as intenções da deusa do amor são, eminentemente, pacíficas.

— Olha, garota, tenho certeza que poderíamos ter uma detalhada e interessante conversa sobre isso, mas, apesar de nunca ter reclamado de mulheres bonitas aparecendo no meu apartamento, acredito que sua presença só possa significar uma de duas hipóteses. Ou um problemático retorno dos "deuses" ou alguma fria que sua pretensa divindade trouxe para o nosso planeta. Em ambos os casos não sou a pessoa mais indicada para ouvir a sua história. Talvez se formos ao QG da LJA...

— Não, mortal. Escute minhas palavras antes de tentar se desvencilhar da responsabilidade que lhe irei incumbir. Durante nossa vinda a seu planeta eu perdi algo de muito valor. E poder. Preciso de sua ajuda para reavê-la.

A combinação da voz aveludada da deusa com o azul sereno de seus olhos e a imagem da silhueta de seus seios sob o delicado vestido fazem o arqueiro se sentar e ouvir toda a narração.

— Durante os confrontos que se seguiram a nossa vinda para a Terra, um medalhão que eu portava foi deixado para trás. Percebi a sua falta somente depois de voltar a meu reino no Olimpo. Recentemente um humano de nome Homer Sykes adquiriu a posse do objeto e descobriu seus poderes...

— Sykes? Não é aquele vagabundo, mentor de uma ordem mística do "sei-lá-o-quê", que suspeitaram de estar envolvido na morte da garota?

— Sim, mais uma vez sua sagacidade é confirmada. Na verdade foi realmente a garota que se matou, mas sobre a influência de Sykes e do meu amuleto do amor. Ele a fez o amar tanto que a mortal pôs fim a sua vida somente por medo da possibilidade de ele deixá-la. Isso determinou que eu não podia mais me furtar à responsabilidade de reaver minha posse.

— Que incrível, e vocês ainda se dizem deuses e onipotentes. — esbraveja o Arqueiro — Você, por acaso, esquece um amuleto poderoso, que é achado por um lunático e somente depois que ele mata é que se sente responsável pelo objeto, e chega aqui e começa a falar alternando uma superioridade com intimidade ao se referir a si mesma, ora na terceira pessoa, ora usando a alcunha "eu". Grande... de qualquer forma, acredito que arregimentando a Liga poderemos...

— Não. Existem certas regras a serem seguidas com relação à retomada do amuleto. A força do amor não pode ser desprezada. Eu elegi você como meu campeão. Um exército não seria adequado... circunstâncias semelhantes já levaram Tróia a cair.

— Cada vez melhora mais. Mas por que eu? Sou somente um ser humano falho e sem superpoderes. Posso pensar em vários candidatos mais capacitados: o Super-Homem, Hércules, Capitão Marvel, ou a sua protegida, a Mulher-Maravilha...

— Exatamente sua condição humana é o que o torna tão perfeito. Você é um humano que já experimentou perdas e alegrias em nome do amor. Um homem que ignorou quaisquer possíveis limitações em nome da justiça. Lembre que não foi nenhum semideus, mas sim Teseu, quem derrotou o Minotauro de Creta com ajuda de sua amada Ariadne. Nunca poderia usar alguém sem essa maturidade como o Capitão Marvel, ou um bufão como Hércules, que acabaria levando o caso para seu pai, Zeus, acarretando desastrosas conseqüências. O filho de Krypton também seria inútil, devido à sua vulnerabilidade a magia. E a princesa de Themyscira... bem, ela não tem o que é necessário para se defrontar com o que o amuleto pode criar. Ela é a ferramenta perfeita para se confrontar o poder masculino das artimanhas de Ares, mas neste caso, preciso de você, mortal. Mesmo porque superpoderes não são o essencial neste embate, mas outras qualidades que somente poucos possuem. Por isso lhe escolhi como meu campeão. Preciso de sua resposta. Neste momento.

Uma lágrima começa a descer dos brilhantes olhos de Afrodite; o Arqueiro já sabe o que irá responder antes mesmo de pensar no assunto.

— Está bem, já vi que é um trabalho sujo, mas alguém tem que fazê-lo...

No instante seguinte, Oliver Queen está trajado com sua roupa de combate, em frente da casa da ordem dirigida por Sykes, em plena Nova York. Oliver, ainda desorientado, começa a resmungar para si mesmo.

— Pois sim, aquela doida deve ter me escolhido porque tem medo dos poderes de outros heróis... já ficou claro muitas vezes que esses deuses não são tão imponentes assim; o que pode um simples arqueiro contra esses seres? E toda a vez que magia está envolvida é a mesma ladainha: "O super é vulnerável a magia". E daí? Todos somos. Até parece que ele sofre mais do que eu ao ser atingido por um poder místico. Coisa de menino mimado acostumado a ser invulnerável...

Antes de adentrar a casa, o Arqueiro Verde percebe um brilho no meio das flechas de sua aljava. Uma seta de ouro parece pulsar com calor. E ao tocá-la, uma voz ressoa em sua mente.

"Meu campeão. Poderes místicos não podem adentrar as barreiras que Sykes ergueu em torno de sua morada. Vários desafios estão à sua espera e estou lhe presenteando com a única coisa que pode burlar as defesas do adversário. Esta seta de caça é de propriedade da própria Atena, feita no mais puro ouro por Hefesto, e garante que na hora mais necessária acertará o mais improvável alvo. Que as bênçãos de Gaia estejam contigo."

— Legal... mais parafernália divina...

Com estas palavras, Oliver entra na casa. As barreiras místicas não impedem sua entrada, mas a porta da frente tem que ser arrombada como qualquer outra.

Na sala, ele encontra um homem grande e forte, aparentando uma nobreza ímpar. Sentado no canto do aposento, este olha para um grande arco, que repousa em um pedestal, e para um alvo. Oliver retira uma seta de sua aljava e aponta para o homem, mas este sorri e fala para o Arqueiro. Apesar de usar grego arcaico, Oliver entende as palavras em sua própria língua.

— Não tema, pequenino. Eu não sou uma ameaça para você. Não no sentido físico, ao menos. O vilão que detém o poder de Afrodite pode aprisionar alguns espíritos que foram tocados pelo amor da deusa para usá-los como desafios para quaisquer intrusos. Meu nome é Ulisses. Herói da guerra de Tróia e líder dos exércitos da Grécia. Enfrentei Polífemo, o Ciclope, Circe, a feiticeira, e vários outros desafios em minha viagem de volta para minha esposa Penélope.

— A Odisséia, eu li este texto de Homero quando era mais novo. Você ficou mais de uma década longe de sua família...

— Sim. E, nesse ínterim, vários pretendentes para governar Ítaca e conquistar minha esposa, dada como viúva, se apresentaram. Ela retardou a escolha o quanto pôde. Mas chegou o dia em que deveria tomar um outro homem como esposo para não deixar a terra sem governante. O escolhido seria aquele que acertasse o alvo usando meu arco. Mas, devido ao descomunal peso da arma, somente eu mesmo, recém-chegado, pude cumprir a tarefa. É este desafio que sou obrigado a lhe impor, campeão. Tome o arco em suas mão e acerte o alvo. Ou pereça aqui mesmo nesta sala.

Oliver caminha até o pedestal e toma o arco em suas mãos. A arma é extremamente pesada; ao segurar seu centro, o arco fica mais de dois metros acima da cabeça do Arqueiro. A flecha que compõe o conjunto é de madeira grossa. Um desafio a qualquer homem de grande força. Mas na verdade não é só de força que é feito um disparo de arco e flecha.

Quando ficou perdido em uma ilha anos atrás, o então playboy milionário Oliver Queen teve que aprender a sobreviver por si mesmo. Da necessidade de fazer um arco se dobrar diante de sua vontade, é que nasceu o Arqueiro Verde.

Um dom. A mira de Oliver é impecável, mas ela não provém apenas de treino, e sim do caráter. Existem várias formas de se disparar uma flecha. A arqueira oriental Shado utiliza uma meditação que é a essência espiritual da arte Kudo. Ela deixa que a flecha ache seu caminho e sua consciência viaje com a seta disparada até que esta atinja seu alvo. Em um de seus encontros com Oliver, ela comentou o quanto a técnica dele diferia da sua; ele dobrava o arco à sua vontade, fazendo com que a arma atendesse a seus comandos, não somente com força bruta, mas com a vontade de atingir seu objetivo. (***)

É essa vontade que é posta a prova neste momento. A força para levantar o arco e puxar sua corda é imensa, levando dor aos músculos de Oliver, mas é, acima de tudo, sua vontade que faz com que consiga disparar a pesada flecha. A mesma atinge o alvo, de forma precisa, mas estranhamente Ulisses não parece surpreso com o sucesso.

— Seu feito traz calor a meu coração, pequenino, não somente por você ter sido capaz de passar no teste e me libertar de meu recente aprisionamento, mas por me fazer ter a certeza de que os princípios que regiram minha vida ainda existem nesse tempo moderno. Adeus, amigo. Tem meus agradecimentos e desejo felicidades em sua busca e em sua vida.

O espírito desaparece junto com o arco e a flecha. Oliver fica mais uma vez sozinho para continuar sua jornada.

A dor nos músculos devido ao esforço de usar o arco de Ulisses ainda não passou, mas Oliver sente que deve se apressar. Afrodite não tinha lhe dito sobre a possibilidade do amuleto usar espíritos escravizados pelo amor que sentiram, o que deve significar que Sykes está aprendendo a usar o amuleto com mais destreza a cada hora que passa.

Após sair da sala, o Arqueiro se encontra em um aposento com uma escadaria ao fundo. Possivelmente seu inimigo está entrincheirado no segundo andar, mas antes que possa alcançar o primeiro degrau a sala fica mais escura e fria. Uma outra figura aparece ao canto e começa a falar.

— Meu nome é Perseu e minha vida foi coberta de glórias, mas nenhuma delas foi maior do que a que tive enfrentar para salvar minha amada Andrômeda. Aquele que você procura usou meu espírito para evocar do Hades meu maior desafio. O qual deve ser enfrentado por você, campeão.

A figura se cala e Oliver ouve um barulho atrás de si. Enquanto pega uma flecha e apronta seu arco, sua mente começa raciocinar sobre a batalha que enfrentará.

"Isso está começando a ficar estranho demais até para os padrões dos deuses. Agora este louco está chamando adversários do próprio inferno através dos espíritos daqueles que os enfrentaram. Mas se Perseu foi o que enfrentou o Minotauro, então tenho que lutar contra o cabeça-de-boi... Espere, não foi Perseu quem enfrentou o monstro, mas Teseu. Malditos gregos e seus nomes parecidos! Este cara lutou contra..."

Oliver desvia da figura que o ataca segundos antes que ela pudesse alcançá-lo. De olhos fechados, ele sente um golpe em sua barriga enquanto tenta rolar para longe da criatura, sem encará-la diretamente, pois lembrou que sua adversária era uma das Górgonas, cujo poder é transformar em pedra quem lhe fitar os olhos... a lendária Medusa.

O arqueiro consegue se distanciar da criatura, mas sem poder olhar para se orientar acaba dando de encontro com a parede. Os sons de cobras se arrastando e sibilando enchem seus ouvidos e não permitem que possa determinar onde está sua adversária, mas repentinamente um silvo corta o ar e uma seta acaba atingindo o ombro do herói esmeralda.

Arghhhh. Então você também tem um arco, não é?

A figura não responde. Se ouvisse uma voz, Oliver poderia direcionar um ataque às cegas, mas somente um som infindável de víboras enche seus ouvidos. Mais uma vez atingido por um golpe, o Arqueiro corre para tentar se distanciar. Acaba encontrando com a figura de Perseu.

— Espere, pelo que me lembro você pode encarar essa maluca pelo reflexo de seu escudo.

Em uma atitude desesperada, Oliver abre seus olhos e vê o imóvel Perseu. Encarando nos olhos do mitológico herói o arqueiro pode ver nas retinas do grego a figura da Medusa e tenta uma ação repentina. Tendo uma idéia da distância da criatura, Oliver arma seu arco e dispara uma seta para a quina da parede com o teto. A flecha é desviada pela curva da parede, rebatendo direto no monstro. Um urro de dor corta o ambiente. Orientado pelo som, Queen se vira de olhos fechados e dispara três flechas em seqüência. Quando cria coragem de abrir as pálpebras mais uma vez, Perseu, bem como sua adversária, sumiram.

Rasgando um pedaço de sua túnica para estancar o sangue depois de retirar a seta encravada no ombro, o Arqueiro Verde começa subir os degraus.

No segundo andar, Oliver se vê em um corredor; no final deste há uma porta trancada com fumaça saindo de suas frestas. Com certeza ele está perto de Sykes, mas antes que possa dar mais um passo, mais uma vez as luzes parecem diminuir, o frio aumenta e uma figura se materializa no final do corredor.

— Minha sina me levou a combater em Tróia. Helena foi levada das mãos de seu marido por Páris, dominado por um insano amor devido a uma promessa infantil de Afrodite. Tal fato me levou a me juntar às legiões de Menelau, que demandava o retorno de sua esposa. Em tal guerra, orquestrada pelo poder do amor, minha leviandade acatou meu destino. Nada mais posso falar, pois saber meu nome é conhecer meu poder.

O guerreiro desembainha uma espada e se aproxima de Oliver. Agindo automaticamente, o Arqueiro Verde dispara uma flecha em direção ao ombro do adversário, que não estava coberto pela armadura de couro, mas estranhamente a seta resvala na pele do homem e cai ao chão, sem ferí-lo. O Arqueiro ainda dispara mais uma vez, em direção à cabeça, mas esta também é desviada.

Ao se aproximar, o guerreiro usa sua espada. Evitando cair escada abaixo, Oliver se esquiva, mas o ataque acaba por cortar as amarras de sua aljava. Somente uma flecha e o arco ainda estão nas mãos do herói. O guerreiro ainda golpeia com a espada mais uma vez, mas Queen consegue esgueirar-se por baixo das pernas do gigante.

"Mas que merda, esse cara é primo do Super-Homem?" — pensa Oliver — "Parece ser invulnerável. Mas ele tem que ter uma fraqueza."

O pensamento traz uma luz aos olhos do herói. Ele consegue lembrar do nome de um soldado da guerra de Tróia, o que pode trazer uma vantagem. Segurando a seta com as mãos, ele se joga aos pés do inimigo. Antes que este se dê conta e atinja o arqueiro, Oliver finca a seta no calcanhar do guerreiro.

Com um estranho silêncio, o homem desaparece.

— Literalmente, você tinha um calcanhar de Aquiles, meu amigo.

Em seu quarto, Homer Sykes está temeroso. O Arqueiro Verde derrotou as ameaças antes que ele tivesse tempo de conseguir trazer mais espíritos presos na jóia de Afrodite. Agora que o herói está prestes a entrar no aposento, não há mais tempo para nenhum truque, exceto o puro poder do amor contido na pedra. Resta somente buscar uma imagem na mente do Arqueiro para ser o veículo de tal poder.

Ao entrar no derradeiro esconderijo de Sykes, Oliver sente seu sangue gelar. Apesar de saber que seria impossível, ele se vê diante de Dinah Lance, a Canário Negro, seu grande ex-amor. Ela está amarrada em uma cadeira e começa a falar imediatamente.

Rápido, Arqueiro! Me liberte! Aquele louco me prendeu aqui para conseguir vencê-lo.

Sabendo que Dinah não poderia estar ali, Queen tenta não dar ouvidos à ilusão. Mas seus sentidos ficam enevoados e a presença de Dinah é tudo em que consegue pensar. Seus cabelos, seu cheiro, a vida que ambos desfrutavam e que — diz ela — voltarão a ter, basta que confie nela e a liberte. Oliver tenta se livrar do impulso que toma conta de si, mas, mesmo de olhos fechados, seu corpo se aproxima de Dinah para desamarrá-la.

— Rápido, Arqueiro Verde, solte-me.

A mente de Oliver tenta se apegar a realidade. Dinah está usando apenas sua alcunha de herói, o que não tem lógica. Ela o chamaria pelo nome, já que sua identidade civil nem é mais secreta.

— Venha e me salve para que fiquemos juntos, Arqueiro.

O impulso de libertá-la fica mais forte, mas repentinamente Queen tem uma idéia. Para combater o poder do amor ele começa a pensar na parte negativa de seu longo relacionamento com a Canário. Todas as brigas, a incapacidade dele de se manter fiel a sua companheira, o desgosto que seus atos traziam para ele mesmo. Quanto mais se concentra nas mágoas do relacionamento, mais fraco fica o poder que a imagem tem sobre ele. E as palavras de Afrodite voltam a aparecer em sua mente.

"Exatamente sua condição humana é o que o torna tão perfeito. Você é um humano que já experimentou perdas e alegrias em nome do amor... nunca poderia usar alguém sem essa maturidade."

Oliver consegue conter o impulso de libertar a falsa Dinah, mas ainda assim se pergunta o que pode fazer para derrotar Sykes. Mesmo sabendo que a verdadeira Canário não está ali, ele não poderia abrir os olhos e acertá-la com uma flecha. A simples visão da imagem de seu amor o faria cair novamente sob o feitiço.

Então uma idéia toma conta da mente do Arqueiro. Ele pega a flecha de ouro de Atena, aquela cuja propriedade é acertar o mais improvável dos alvos, e, armando seu arco, a dispara de olhos fechados. Um grito corta o ar, e ao abrir os olhos, Oliver vê Sykes caído, o amuleto não mais em suas mãos. E Afrodite se materializando ao seu lado.

— Congratulações, meu campeão. Você derrotou este pérfido vilão e agora posso retomar o que é de minha propriedade.

— Olha, dona, só me prometa que não vai mais deixar suas bijuterias espalhadas em qualquer lugar, está certo?

A deusa toma a jóia, e olha profundamente nos olhos de Oliver. Uma sensação de luxúria toma conta dele, mesmo com o ombro doendo devido à flechada da Medusa.

— Por seus serviços, você tem direito a uma recompensa. Irei demonstrar a verdadeira face de Afrodite, a deusa do amor.

— Não, não faça isso! — grita o Arqueiro, fechando mais uma vez os olhos.

— Você nega sua recompensa? Por que o faz?

— Entenda. Esse louco me fez lembrar de muita coisa importante no meu relacionamento com Dinah, tanto com ela como com todas as outras mulheres de minha vida e, por mais efêmeras que tenham sido minhas relações com elas, são importantes. Cada flerte, cada conquista, cada noite de sexo tem um importante lugar dentro de mim. Além de ser a deusa do amor, você também é a deusa da beleza, e contemplar seu rosto deixaria todas as mulheres com quem já estive, e todas com que estarei, em um plano inferior. Eu não posso permitir que isso aconteça.

Um sorriso se forma nos lábios de Afrodite.

— Mais uma vez você demonstra que minha escolha foi acertada; mas lembre-se, Arqueiro, as dádivas de Afrodite se realizam de muitas maneiras...

A deusa desaparece e o Arqueiro volta a resmungar.

Perfeito! Ela vai embora e me larga em Nova York. Poderia ao menos ter me dado uma carona para um hospital.

A quilômetros dali, em Gotham City, Dinah Lance acorda de um sonho. Um sonho com sua vida antiga ao lado de Oliver, tudo lindo e erótico ao mesmo tempo. Ela lembra que quase voltaram a ter algo dias atrás (****) e acaba sentindo uma grande vontade de se levantar, tomar um café, e ligar para Oliver para saber como ele está. Ela não pode perceber a possibilidade da presença de uma deusa em seus sonhos.


:: Notas do autor

(*) Confira em Arqueiro Verde #04, #06 e #07.voltar ao texto

(**) Você pode conferir a saga O Retorno dos Deuses em Mulher-Maravilha #05, #06 e #07 e Liga da Justiça #09 e #10. Se você ainda não leu, não sabe o que está perdendo.voltar ao texto

(***) Na mini-série Os Caçadores e na revista mensal homônima, publicados pela Editora Abril em 1989. voltar ao texto

(****) Em Arqueiro Verde #01. voltar ao texto



 
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